O escândalo agrava-se. As afirmações de
Jesus são demasiado claras e contundentes para os judeus. Jo 6, 51-58. Não
conseguem suportá-las. E, sem um novo modo de ver – a fé que brota do amor de
Deus Pai – quem pode conformar-se? Como é possível “dar-nos a sua carne a
comer”?, interrogam-se com lógica natural e ética religiosa, condensando
perplexidades que os afligiam e espelham muitas outras que, ao longo dos
tempos, virão a desafiar a razão humana, ainda que iluminada pela fé.
Face à estranheza do “assunto” e ao
agravamento das dúvidas, não tardam a evoluir na sua atitude: do entusiasmo
precedente, pela multiplicação dos pães, das expectativas decorrentes e das
interrogações fundadas à crítica aberta, da recusa frontal ao abandono. Em
breve, chegará a vez de Jesus questionar os próprios Apóstolos/discípulos
fiéis: “Vós também vos quereis ir embora? Pedro, espontâneo e ousado, responde
pelo grupo: “A quem iremos, Senhor?!. Tu tens palavras de vida eterna”.
Jesus não dá explicações. Faz
afirmações. O modo há-de surgir oportunamente. E o anúncio passa a realidade na
ceia de despedida, no lava-pés, no mandamento novo do amor. Modo que surge
narrado por Paulo na 1.ª carta aos coríntios 11, 23-26.
As afirmações de Jesus têm, em João, uma
ênfase especial: seis vezes menciona a palavra “carne” e três “sangue”.
Trata-se de comer e de beber, em forma sacramental, o corpo e o sangue de
Jesus, agora celebrada na Eucaristia e, depois no seio de Deus, no banquete das
“núpcias” do Cordeiro.
“Contra ventos e marés – repete o Irmão
Roger de Taizé -, a Igreja católica tornou possível que a Eucaristia permaneça
como fonte de unanimidade na fé”.
Contra ventos e marés, temos de
continuar a dizer “tomai e comei”, saciai as vossas fomes e sedes, fruto de
campos estéreis pelo desvio de águas, pela desolação da guerra, pela indústria
química, pelo fogo criminoso, pelo abandono forçado. Comei alimentos produzidos
pelo orçamento militar bélico transformado em investimento agrícola rentável,
pela aplicação de capitais na limpeza das águas e na “desintoxicação” dos
campos.
Contra ventos e marés, precisamos de
resgatar o sangue de tantas vítimas inocentes, apoiar a prática organizada da
justiça e a penalização dos algozes, difundir a cultura da ética na economia e
no uso dos bens, empenhando-nos em fazer crescer a consciência da dignidade
humana que brilha, de modo singular, em Jesus Cristo, pão repartido por um
mundo novo.
“Quando participamos da comunhão e
recebemos o corpo do Senhor na Eucaristia, afirma o Irmão Rodriguez Osório,
padre jesuíta, unimo-nos a ele na entrega pela vida do mundo. O pão eucarístico
é sagrado porque é o pão da vida e o pão da entrega, que nos comunica a mesma
vida de Deus”.
Unidos em comunhão de vida testemunhamos
a alegria da missão. De modo especial esta semana em que ocorre o IX Encontro
Mundial das Famílias em Dublin, Irlanda. Este encontro tem como tema central:
“O Evangelho da família, alegria para o mundo” e contará com a presença do Papa
Francisco nos dias 25 e 26. Acompanhemos com solicitude e confiança, pedindo ao
Senhor da aliança matrimonial, símbolo da nova aliança da Eucaristia, que
desperte nos jovens a vocação ao casamento e reforce o amor entre os casados e
seus familiares, especialmente seus filhos.
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