A história da Guiné – Bissau inclui desde sempre uma mobilidade de pessoas na região da África Ociden-tal que no século XX se dirigiu para fora do continente africano, primeiro para a Europa e depois para o continente americano originando um contingente de migrantes sem nenhuma especificidade própria excepto a sua origem geográfica comum e uma predominância da etnia manjaca.
A incapacidade do Estado corresponder às expectativas de desenvolvimento colectivo e bem-estar pessoal da população nos quase 40 anos de independência, a permanente instabilidade política e consequente insegurança pessoal, profissional e empresarial, levaram a uma estruturação desses emigrantes em associações, com diferentes graus de formalização e de intervenção no país, a uma crítica permanente ao poder em exercício, seja qual for a origem partidária, formando uma diáspora com características próprias de desconfiança profunda em relação às iniciativas governamentais. Tal sentimento cria dificuldades acrescidas à formulação de políticas direccionadas para estes emigrantes por parte de qualquer governo, sendo que a actual situação da existência de um executivo e de um presidente interino saídos de aconte-cimentos classificados até à data como um golpe de Estado militar que interrompeu um processo eleitoral para a presidência entre a primeira e segunda volta, sem reconhecimento pela União Europeia, ONU e CPLP, pelos países principais financiadores do desenvolvimento e pelos principais destino de migrantes1, está a levar a uma situação de degradação social crescente e sem solução previsível.
O advento das novas tecnologias de comunicação (sobretudo telemóveis) e a banalização dos transportes aéreos tem permitido a esses migrantes africanos aumentarem a ligação ao seu país de origem de uma forma mais regular, multiforme e em grande medida inédita. Essas dinâmicas, que podem materializar-se de formas diversas e traduzir-se em impactos sociais, culturais, políticos e económicos, têm vindo a ser denominadas de transnacionalismo migrante, sendo hoje reconhecido que possuem um grande potencial para o desenvolvimento dos países de origem e de acolhimento, bem como para o reforço das relações externas entre os países envolvidos.
O projecto financiado pela OIM “Assessment of the Development Potential of the Guinea-Bissau Diaspo-ra in Portugal and France” por solicitação do governo guineense, bem como o projecto “Arquitectos de um Espaço Transnacional Lusófono” que o antecedeu, financiado pela Fundação Portugal África, ambos executados pelo Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CESA/ISEG) investigaram as relações transnacionais estabelecidas pelos migrantes oriundos da Guiné Bissau para Portugal e França, sugerindo, a partir dos resultados obtidos, políticas que capitalizem o potencial económico, social, cultural e político identificado em prol do desenvolvimento do país.
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