quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

África, um mosaico linguístico


Em Dezembro, o Parlamento senegalês testou um novo sistema de tradução simultânea, para que os deputados se pudessem expressar na sua língua nativa. Esta inovação procura responder ao desejo de promoção da diversidade linguística – que não é, de todo, uma «condição» senegalesa, mas sim uma característica comum a todos os países africanos.

Em África há cerca de 2 mil línguas, mas apesar disso a maioria dos países manteve como língua oficial a do país colonizador

No entanto, o Senegal é mesmo um dos poucos países africanos que investem no desenvolvimento dos seus dialetos locais. É um esforço para a aceitação da cultura linguística deste país, durante muitos anos ocupado pela França mas onde quase 80% da população fala e entende Wolof – que reúne elementos do francês, do inglês e do árabe. Embora a língua do antigo colonizador ainda seja a única oficial, é falada por pouco mais de um quarto da população. E, também por isso, o reconhecimento do Wolof torna-se cada vez mais importante.

O domínio das línguas coloniais

África tem cerca de 2 mil línguas diferentes. É um verdadeiro mosaico linguístico, mas, apesar deste, a maioria dos países manteve como língua oficial a do país colonizador. Outras línguas, totalmente africanas, são até muitas vezes reconhecidas oficialmente pela Constituição de um Estado – mas quase nunca são referidas, ou usadas em termos oficiais. Ainda que frequentemente chamadas «línguas nacionais», não devem – em teoria – ser usadas em situações formais, por exemplo, e além disso têm um estatuto jurídico bastante vago.

Em 1960, após a sua independência, o Senegal, como a maioria dos países africanos de língua francesa, optou pelo francês como língua oficial, já que esta era a língua imediatamente disponível, operacional e compreensível para a elite local, tanto oralmente como por escrito. Mas, se o francês e o inglês predominam no continente, é porque se tornaram línguas veiculares e unificadoras para os diferentes grupos étnicos. Há, assim, uma vertente «politicamente correta»: usando estes idiomas «neutros», evitou-se (ou escondeu-se) o domínio de uma língua ou de um dialeto em detrimento de outros. Contudo, e de certa forma paradoxalmente, estas «formas de falar» locais continuam a existir e a ser usadas regulamente (com muito mais frequência e com maior alcance do que no caso da língua oficial).

É de notar que uma mudança de língua oficial, agora, também traria consequências graves a muitos Estados: a administração teria de ser completamente reestruturada, os livros e os programas escolares precisariam de ser totalmente refeitos, e o impacto sobre a comunicação oficial e os meios de comunicação seria tremendo.

A (ainda) tímida promoção dos dialetos locais

Alguns países, como o Quénia, por exemplo, optaram, no entanto, por alterar a Constituição, definindo um ou mais idiomas locais como línguas oficiais – e usando-os como tal. No coração da zona onde o Swahili é a língua falada diariamente por 40 a 50 milhões de pessoas, o Quénia (como a Tanzânia, também e ainda mais cedo) optou por fazer desta a sua língua cooficial, ao lado do inglês. Mesmo sendo uma língua popular, é igualmente veicular, e permite por isso um melhor intercâmbio entre os vários grupos étnicos quenianos.


Por último, importa referir que, em África, apenas dois países reconheceram até agora as línguas locais dentro das suas fronteiras: o Zimbabwe e África do Sul. Ambos oficializaram diversos dialetos. Com Africa21

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