Papa Francisco |
Jesus aceita o convite para tomar uma refeição em casa de um fariseu, um
cultor da lei. Entra e senta-se no seu lugar à mesa. E ocorre o
inesperado que vai provocar o ensinamento sobre o amor que perdoa e gera
vida nova.
O episódio, segundo Lucas, faz parte da missão de Jesus na região da
Galileia, nas imediações do Mar de Tiberíades. Situa-se na fase do
anúncio e da concretização do programa messiânico: apresentar e realizar
a novidade de Deus em relação às pessoas e às situações de vida ou seja
a atenção aos pobres, a libertação dos oprimidos, a inclusão dos
marginalizados, a misericórdia e perdão de todas as ofensas/dívidas, o
tempo de graça para todos. Programa que contrasta radicalmente com a
mentalidade reinante: a salvação exclusiva para os judeus piedosos, a
observância meticulosa das leis, a exclusão dos pecadores e dos
estranhos.
Jesus aproveita a circunstância para afirmar esta novidade. Fá-lo por
palavras e acções. E ilustra-o com uma excelente parábola. O centro da
narrativa é: na refeição a mulher pecadora e na parábola o credor
generoso que perdoa aos devedores. Os interlocutores principais são:
Jesus e Simão, o fariseu anfitrião. Os convivas, quais testemunhas
qualificadas, que admiram o que vêem e se interrogame sobre quem será
aquele que até perdoa pecados.
A admiração dos convivas é expressão da novidade ocorrida: Um homem a
perdoar pecados, uma mulher notoriamente “indigna” a ser reconhecida na
sua dignidade, um banquete de comensais sem descriminação, uma sentença
assertiva de libertação: “Os teus pecados estão perdoados. A tua fé te
salvou. Vai e em paz”.
A mulher anónima realiza gestos de gratidão pelo perdão recebido:
perfume derramado em unção, prostração aos pés de Jesus, choro de
lágrimas de arrependimento, limpeza dos pés andantes de Jesus, beijos de
admiração e ternura; gestos que contrastam com a atitude de Simão, o
fariseu. E Jesus confronta-o directamente a fim de descobrir a novidade
do amor que perdoa, da misericórdia que supera qualquer sacrifício, do
perdão que cura todo o pecado. A parábola vem reforçar este ensinamento.
O confronto no diálogo e a aprovação do juízo sobre a atitude do credor
na parábola evidenciam como é mais fácil saber o que os outros devem
fazer do que sermos coerentes e adoptarmos as práticas correspondentes.
O programa iniciado por Jesus na zona de Tiberíades continua, hoje, a
ser anunciado e vivido por tantos voluntários que, solidários com as
“sobras” da sociedade e das igrejas, se dedicam generosamente ao serviço
de os re-situar de acordo com a dignidade comum a todos e com as
capacidades/limitações de cada um; pelas comunidades cristãs que sabem
acolher, acompanhar, celebrar, irradiar o amor benevolente de Deus.
Como o Papa Francisco, na sua catequese sobre o Povo de Deus a 12 Julho
2013 somos convidados a rezar: “Que a Igreja «seja lugar da misericórdia
e da esperança de Deus, onde cada um se possa sentir acolhido, amado,
perdoado, encorajado”. Mas, como é óbvio, “a Igreja deve estar com as
portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair por
aquelas portas para anunciar o Evangelho”.
A medida do perdão é o amor sem medida. Mostra-o Jesus de forma
eloquente. Deus perdoa não pelas nossas obras, mas pela sua grande
misericórdia. As obras são resposta coerente e reconhecida. E dão
testemunho do perdão recebido numa vida em paz.
G. Rocha
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