Antes de mais, aproveito a oportunidade, para
endereçar as minhas sentidas condolências aos familiares do recém-falecido Dr.
Kumba Yalá, ao povo guineense, que representou enquanto Chefe do Estado da
Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 e ao Partido da Renovação Social (PRS) do qual
foi fundador e Presidente.
O desaparecimento físico do Dr. Kumba Yalá, num
momento delicado para a Guiné-Bissau, deveria ser encarado como mais uma
oportunidade para os guineenses tirarem ilações das infinitas lições das mais
diversas áreas da vida, em comunidade, a nossa comunidade, designada povo
guineense.
Estou triste, muito triste, por constatar que, entre
nós, guineenses, até depois da morte de alguém, infelizmente, continua a haver
espaço para manifestações de ódio e desrespeito pelos mortos.
Vi e ouvi muito do que se tem escrito e dito por
estes dias sobre o Dr. Kumba Yalá...
Fui educado no sentido de respeitar os mortos, de
desejar-lhes, no geral, a Paz de espírito que não tiveram, certamente, em vida,
neste nosso mundo onde todos nós, de uma forma ou de outra, somos pecadores,
uns mais expostos do que outros, é certo, mas todos, pecadores!
A um morto não se deve insultar, ou manifestar
reacções carregadas de ódio. Quem o faz, demonstra estar espiritualmente
doente, e os guineenses precisam, cada vez mais, de orientações, capazes de
alimentar, purificar e fortalecer os seus espíritos, positivamente, visando a
reconciliação e a harmonia, que carecemos, enquanto um só povo, o guineense!
Se até perante a morte não somos ou não formos
capazes de nos perdoar ou respeitar, como podemos transmitir aos nossos filhos,
netos e, consequentemente, às gerações vindouras, os testemunhos da ética, dos
bons princípios, da paz, da harmonia, em torno do Projecto Nação, que desejamos
para a nossa Guiné-Bissau?!
O Dr. Kumba Yalá, a exemplo de todos os
ex-Presidentes da República da Guiné-Bissau, fez a sua parte, entre o bem e o
mal, não sendo este o momento para uma análise ao seu desempenho enquanto
Presidente da República da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 até porque, da minha
parte, fiz questão de o criticar em vida, tentando ajudá-lo a melhorar a sua
postura, a evoluir com o tempo.
Não foi por obra do acaso que em Maio de 2003 criei
o Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO. Foi sobretudo, graças ao desempenho
negativo do Dr. Kumba Yalá, enquanto Presidente da República da Guiné-Bissau.
Normalmente pensamos que só se aprende com o lado
positivo, mas está mais do que provado, que aprendemos através das experiências
de uns e de outros, enquanto seres humanos com diversas missões no nosso mundo;
experiências essas que servem para todo o tipo de aprendizagem comportamental,
ao ponto de sabermos distinguir o bem do mal, o positivo do negativo, etc.,
etc.
No caso concreto da Guiné-Bissau, posso afirmar que,
todos os ex-Presidentes da República, através das suas "missões",
deram-nos a aprender algo, do essencial sobre a necessidade de nos
identificarmos e nos comprometermos com a nossa causa/casa comum, a
Guiné-Bissau.
Da missão do Dr. Kumba Yalá, enquanto Presidente da
República da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 despertei-me para a necessidade de
fazer algo pelo nosso país e pelo nosso povo. O Dr. Kumba Yalá sem saber,
estava a contribuir, ainda que pelos seus erros no dirigismo do Estado, para
uma nova dinâmica na consciencialização dos seus irmãos guineenses.
O meu despertar accionou a minha criatividade e daí,
a cultura da reflexão sobre o país, que culminou na criação do Projecto
CONTRIBUTO, que, por sua vez, promoveu e acelerou a sensibilização de muitos
guineenses espalhados por todo o mundo para a necessidade de, todos termos uma
"obrigação" moral que seja, para com o país e para com os nossos
irmãos reféns de diversos atropelos em nome de uma democracia sustentada pela
ditadura.
Verdade seja dita, o cidadão político e pensador que
hoje sou, devo-o em parte, ao Dr. Kumba Yalá, que me despertou a consciência,
através da "missão" que lhe foi reservada, entre 2000 e 2003 na
qualidade de Presidente da República da Guiné-Bissau!
Não conheci pessoalmente o Dr. Kumba Yalá, mas
fiquei a conhecê-lo politicamente, aquando das primeiras eleições
multipartidárias na Guiné-Bissau e tornei-me num seu admirador.
Sentia-o capaz e manifestamente evoluído para o meio
no qual estava inserido, mas demasiado "aventureiro" no
comprometimento para a visão política e social que tinha da e para a Guiné-Bissau.
Seria essa, uma das razões do seu desgaste e,
consequentemente, do seu retrocesso, ou estagnação, enquanto pensador e
político?!
Ao longo dos anos, e até há cerca de dois meses,
ouvimos sempre o Dr. Kumba Yalá dizer que não tinha adversários à altura...
De facto, a conjuntura que proporcionou a abertura
ao multipartidarismo na Guiné-Bissau em 1991, criou demasiadas expectativas em relação
a uma nova imagem de mudança de rumo, tal a ansiedade por novos valores e
princípios de harmonização social, assentes em ideologias políticas de ruptura
com o passado do monopartidarismo e da negação do pluralismo democrático na
Guiné-Bissau que tinha no PAIGC toda a representação do Estado.
O Dr. Kumba Yalá, que em Janeiro de 1992 funda o
Partido da Renovação Social, o maior partido político criado depois da abertura
ao multipartidarismo na Guiné-Bissau, empenhou-se na sua estruturação,
conseguindo dotar o partido de mecanismos capazes de o colocarem como uma
alternativa ao poder, contrapondo-se ao PAIGC.
Não que não houvesse outros quadros e políticos
guineenses com capacidade para criar outros partidos, aliás, foram criados e
muitos, desde então, mas do pensar ao agir, não se pode ignorar, ou desmerecer
que, à época, o Dr. Kumba Yalá era a figura de maior destaque, pela dinâmica
introduzida no cenário político guineense, visando a sustentação de uma
verdadeira democracia pluripartidária na Guiné-Bissau, capaz de ajudar a
melhorar as condições de vida do povo guineense.
Contra factos, não há argumentos, diz-se, e, verdade
seja dita, nenhum outro partido político criado depois da abertura
multipartidária teve ou tem a estrutura e o estatuto do PRS fundado por Kumba
Yalá, ele que até era do PAIGC.
Lamento profundamente o desaparecimento de um dos
mais inconformados políticos guineenses da sua geração, ele que, repito,
despertou-me para o compromisso com a nossa Guiné-Bissau!
Descansa em paz Presidente Kumba Yalá!
A GUINÉ-BISSAU É
A SOMA DOS INTERESSES DE TODOS OS GUINEENSES E NÃO DOS INTERESSES DE UM GRUPO
OU DE GRUPOS DE GUINEENSES! Didinho
Nota: Os artigos assinados por amigos,
colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles
expressas.
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.