Cerca de 8 por cento das
crianças cabo-verdianas dos zero aos seis anos está por registar, percentagem
que sobe para 28,4% entre menores de um ano, revelou hoje o Instituto Nacional
de Estatística (INE) de Cabo Verde.
Segundo o Inquérito Multiobjetivo Contínuo de 2013, no módulo Práticas
Familiares, entre as crianças registadas, 6,2% não possui o nome do pai.
Entre as razões para o não registo das crianças está a falta de
documentação, principalmente do pai, o facto de os pais serem estrangeiros ou
da mãe ser casada com outro homem (32,7%), desinteresse dos pais (24,6%) e
ausência do pai (18,6).
Quanto ao aleitamento à nascença, o Inquérito Multiobjetivo Contínuo de
2013 revelou que 98,2% das crianças amamentaram ou estão amamentando, sendo que
48,8% amamentou por um período inferior a 6 meses, 30,5% exatamente 6 meses e
cerca de 8% por um período superior a seis meses.
O estudo do INE concluiu que no que diz respeito à alimentação, as crianças
cabo-verdianas fazem em média 3,9 refeições por dia, sendo que 34,5% faz três e
24% faz quadro refeições diárias.
«No entanto, observe-se que cerca de 50% das crianças do meio urbano fazem
quatro a cinco refeições diárias. No meio rural, 45,6% alimenta-se três vezes
ao dia, 22,6% faz quatro refeições e 8% faz apenas uma ou duas», lê-se no
inquérito.
No que diz respeito à proibição de alguns comportamentos, 56,5% dos
"cuidadores" cabo-verdianos declararam ao INE que agridem as
crianças, enquanto 16,4% ameaçam com castigos e 40,7% incentivam as crianças a
obedecer.
O módulo Práticas Familiares, incluído pela primeira vez no inquérito,
revelou ainda dados sobre a água para beber, higiene, frequência das visitas
aos serviços de saúde, repouso e sono, linguagem, desenvolvimento cognitivo, utilização
do tempo, entre outros.
Segundo os resultados do INE, estimava-se que, em 2013, existiam em Cabo
Verde 68.837 crianças menores de sete anos, cerca de 14% de toda a população do
arquipélago.
O ato de apresentação contou com a presença da presidente do Instituto
Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), Marinela Baessa, que disse à
agência Lusa haver dados quantitativos «muito importantes» mas também «muito
preocupantes» em relação aos comportamentos dos pais para com os seus filhos
pelo que, agora, o próximo passo é fazer a análise qualitativa.
«O inquérito do INE veio comprovar algumas hipóteses que já tínhamos em
relação ao comportamento dos pais, que afeta diretamente o desenvolvimento
físico, psicológico, cognitivo e social das crianças», prosseguiu Marilena
Baessa, avançando que as famílias devem mudar os seus comportamentos logo na
pequena infância, sob pena dos hábitos terem impacto na adolescência, juventude
e na vida adulta.
Quanto às razões para os pais não registarem os seus filhos, Marilena
Baessa indicou que o Ministério da Justiça cabo-verdiano já está a tomar
«providências» no sentido de mudar o Código Penal e passar a ter mão mais dura
para os que fogem às suas responsabilidades como progenitores.
A presidente do ICCA sustentou que alguns dos dados são reflexo da pobreza
do país, mas avançou que o Governo está a fazer todos os esforços para
minimizar o flagelo, dando mais atenção às crianças e às famílias, «onde está a
base para toda a sociedade».
«O ICCA não quer passar qualquer responsabilidade para a família, mas ela
tem de assumir o seu papel, bem como a comunidade, a sociedade civil
organizada, os municípios e o Estado», lembrou Marilena Baessa.
A presidente do ICCA recusou a ideia de que as crianças cabo-verdianas
estão vulneráveis, preferindo dizer que o país está, agora, a saber das
situações através das pesquisas e inquéritos, para, depois, analisar e tomar
decisões.
// Lusa
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