no Publico hoje
O Benfica não joga apenas contra o Sevilha esta noite, na final da Liga
Europa. Joga contra a história e contra a teimosia do destino. À oitava será de
vez?
É apenas um indicador e, por isso
mesmo, o valor é relativo. A má notícia para o Benfica é que o Sevilha ganhou
todas as finais europeias em que participou até agora. A boa é que só lá chegou
em duas ocasiões, concretamente em 2006 e 2007. Ao longo da história, a equipa
andaluza tem tido dificuldade em atingir o último degrau da escada europeia,
mas tem-se mostrado tremendamente eficaz quando a oportunidade espreita. Nesta
quarta-feira, enfrentará um “especialista” em alcançar finais da UEFA,
empenhado em puxar o tapete a um jejum de 52 anos.
Unai
Emery, treinador de um Sevilha que nesta época tem feito muito com
relativamente pouco, usou e abusou ontem da palavra “objectivo”, durante a
conferência de imprensa da equipa espanhola. O Benfica está desfalcado? “É
preciso ser-se objectivo”. Quem é favorito? “É preciso ser-se objectivo”.
Objectivamente, os dois finalistas da Liga Europa 2013-14 têm o mesmo número de
troféus continentais (duas Taças dos Campeões Europeus para um, duas Taças UEFA
para outro). Objectivamente, têm as mesmas possibilidades quando Felix Brych
apitar para o início do segundo jogo europeu consecutivo dos “encarnados” no
Juventus Stadium.
Objectivamente, este Sevilha não se
tem dado nada mal com adversários portugueses. Desde que a presente empreitada
europeia começou para os andaluzes, na 3.ª pré-eliminatória, frente ao Mladost
Podgorica, há nove meses, já abateram o Estoril (fase de grupos) e o FC Porto
(quartos-de-final). Para além disso, são uma equipa que parece ter sete vidas,
ou não tivesse assegurado o bilhete para a final já quatro minutos para além
dos 90, em Valência, com um golo caído do céu de Mbia.
Um acaso do destino? Não
necessariamente. É que os adeptos espanhóis já estão relativamente escaldados
com surpresas destas. Em 2005-06, foi no tempo extra que Antonio Puerta (cuja
morte o elevou à condição de ícone do clube) empatou o encontro da segunda mão
das meias-finais da Taça UEFA, frente ao Schalke 04, que abriu as portas do
triunfo final. Em 2006-07, foi a vez de Andrés Palop entrar na restrita galeria
dos guarda-redes goleadores, ao carimbar a passagem aos quartos-de-final, com
um cabeceamento providencial, aos 94’ de um jogo frente ao Shakhtar Donetsk.
Jorge Jesus estará seguramente
avisado para um adversário que parece ter um coração do tamanho do mundo. Mas o
treinador português também tem pergaminhos para mostrar. Vamos lá ser
objectivos outra vez. O Benfica é a primeira equipa do historial da Liga Europa
a chegar à final sem uma única derrota (seis vitórias e dois empates). Como se
não bastasse, é o clube com mais golos na competição, mais precisamente 68 em
37 jogos, muitos deles da autoria de Óscar Cardozo. O paraguaio que nesta
quarta-feira deverá voltar a ser votado à condição de suplente soma 33 em 75
jogos nas competições europeias, mais do que qualquer outro dos jogadores
finalistas.
O Benfica, é inegável, tem retomado
nos últimos anos parte do protagonismo europeu que tinha perdido e, com isso,
tem reforçado o capital de experiência internacional do plantel. Luisão, por
exemplo, leva já 107 jogos nas provas da UEFA, Salvio (embora castigado para o
encontro de hoje) tem 40 partidas na competição e arrisca-se a conquistar o
troféu pela terceira vez (venceu em 2010 e 2012 pelo Atlético de Madrid), um
feito inédito.
Tudo isto conta, naturalmente, mas
nenhum destes números terá um papel determinante no desfecho da 10.ª final
europeia dos “encarnados”, que começaram o registo com duas conquistas (1961 e
1962) e acumulam sete desaires desde então. Já lá vão 52 anos desde o último
triunfo e já lá vão 32 desde a última vitória sobre um adversário espanhol nas
provas europeias. Aconteceu a 29 de Setembro de 1982 e a vítima foi,
curiosamente, uma equipa de Sevilha, no caso o Betis.
Ainda assim, os dois títulos europeus
que os “encarnados” ostentam foram obtidos à custa de formações espanholas, o
Barcelona primeiro, o Real Madrid depois. Frente ao Sevilha propriamente dito,
o historial é curto, mas não menos curioso por isso: o único embate entre os
dois clubes significou a estreia europeia para ambos. Aconteceu em Setembro de
1957, na Taça dos Campeões Europeus, e os andaluzes levaram a melhor, com um
triunfo por 3-1 em casa e um empate (0-0) na Luz.
Hoje, é dia de tira-teimas em campo
neutro, ainda que o campeão português tenha mais rodagem quando se trata de
competir em Turim. Para além do recente jogo da meia-final com a Juventus, o
Benfica (que tem Markovic em dúvida, ainda pendente da confirmação do castigo
pela UEFA) já disputou na cidade a meia-final da Taça dos Campeões, em 1968, e
os quartos-de-final da Taça UEFA, em 1993. Para o Sevilha (cuja condição física
de Vitolo ainda suscita reservas), será uma estreia. Mas sejamos objectivos: o
passado não vai fazer um golo que seja esta noite.
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.