O Representante do Secretário-geral da ONU, José
Ramos-Horta, declarou este sábado, a poucos dias de terminar o seu mandato, que
a Guiné-Bissau terá sempre o apoio de todos e disse perante vários
representantes diplomáticos em Bissau, que o País é um “exemplo de sucesso para
a Comunidade Internacional”. Lembrou, que “o mundo, sobretudo as grandes
potências que tanto investem na resolução de conflitos, necessitam também de
boas notícias, e por isso mesmo, a Guiné-Bissau pode ser um excelente marketing
político, num momento em que há pouco a celebrar”.
Comparando com o que se passa noutras regiões do
planeta, a eclosão de tantos conflitos, Ramos-Horta lembrou que durante o
período de transição de dois anos que agora termina, mesmo com pouco
investimento externo, a Guiné-Bissau conseguiu manter uma situação estável e
retornar à Ordem Constitucional. Pela sua parte, José Ramos-Horta encetará
contactos na próxima semana em Nova Iorque, nas Nações Unidas, onde reforçará a
atenção que a Guiné-Bissau merece no concerto das nações.
O Nobel da Paz de 1996, discursava na Cerimónia de
Despedida na Embaixada de França, em Bissau.
Dirigindo-se aos convidados, Ramos-Horta, antes de
elencar alguns dos desafios que se colocam ao País, com o regresso à Ordem
Constitucional, elogiou a forma como o representante diplomático francês,
Pierre Volilery, o acolheu nos primeiros dias da sua chegada a Bissau, em
fevereiro de 2013, para assumir a liderança da UNIOGBIS. Disse Ramos-Horta que
a França, demonstrou sempre estar “atenta à questão da Guiné-Bissau e da
situação do continente africano em geral. A França, a CEDEAO (Comunidade
Económica dos Estados da Africa Ocidental) e outros parceiros internacionais,
estiveram focados também na situação de segurança, económica e social na Africa
Ocidental e Central”.
Ramos-Horta reiterou aos presentes que “temos que
continuar, nós, a comunidade internacional, a ser solidários e ajudar, porque é
da condição humana solidaria que nos obriga a agir”.
Destacando o papel dos diversos parceiros internacionais,
o Representante do Secretário-geral da ONU dirigiu também elogios à União
Africana, à União Europeia, à CEDEAO. Os líderes da Comunidade da Africa
Ocidental são também reconhecidos, no tocante à segurança de pessoas, bens e
instituições, por parte da ECOMIB, “ assumindo os custos da manutenção de um
efectivo, profissional e útil de uma força que funcionou de forma admirável”.
Ramos-Horta felicitou também outros parceiros com
quem manteve boas relações durante o seu mandato na Guiné-Bissau: o embaixador
da Grã-Bretanha, em Dakar, Senegal, “pela simpatia, apoio e compreensão
demonstrados”.
Palavras de apreço também dirigidas a países como a
Nigéria, Portugal, China, Rússia, Cuba, Espanha, entre outros.
No caso do seu País, Ramos-Horta não esqueceu Timor-Leste
(que destacou para a Guiné-Bissau, pessoal especializado em recenseamentos
eleitorais, no âmbito da Missão de Apoio ao Processo Eleitoral, bem como a
abertura de uma Agência de Cooperação): “é um gesto que reflecte a nossa dívida
de gratidão para com a comunidade internacional que, liderada pela ONU, esteve
sempre do nosso lado”.
O Sistema das Nações Unidas, que através das
diversas agências especializadas (PNUD,UNICEF,PAM,etc) presentes na
Guiné-Bissau, “nunca falharam no seu apoio nos esforços de consolidação da
paz”.
Sobre a liderança política guineense, Ramos Horta
destacou o papel dos dirigentes da Transição, Primeiro-ministro Rui Duarte
Barros e Presidente Manuel Serifo Nhamajo, na condução bem-sucedida do processo
eleitoral:” não foi uma missão fácil, uma missão ingrata, com criticas internas
e externas e sob sanções económicas e financeiras, mas que souberam conduzi-la
com sentido de Estado”, sublinhou.
O Nobel da Paz enaltece igualmente o caracter
conciliador e dialogante do novo Primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira e
de fazer votos para que tenha “os maiores sucessos” o Presidente da República
eleito, José Mário Vaz.
Nesta recepção na Embaixada francesa em Bissau, José
Ramos-Horta, apresentou o novo Vice Representante do Secretário-geral da ONU,
Marco Carmigniani, diplomata com mais de duas décadas de experiencia em missões
das Nações Unidas.
Para além de diversos representantes diplomáticos,
saliente-se a presença nesta cerimónia de homenagem a José Ramos-Horta, do
Primeiro-ministro eleito, Domingos Simões Pereira, e do Primeiro-ministro de
Transição Rui Duarte Barros.
Saber melhor o que José Ramos-Horta fez na Guiné - Bissau (aqui»»)
O secretário de estado português dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, que por acaso nem é uma pessoa de grande peso político, afirmou em Bissau que Portugal é um "forte aliado" dos guineenses, verdadeiramente empenhado no seu regresso à ordem constitucional, depois da aventura protagonizada por pessoas como o general António Indjai e o entretanto falecido Kumba Ialá.
ResponderEliminarNa linguagem pomposa da diplomacia portuguesa, este é "o primeiro governante europeu a visitar o país após o golpe de estado" de Abril de 2012. Mas chamar "governante europeu" a Luís Campos Ferreira soa quase a ridículo, dado que não se trata de pessoa com currículo suficiente para ter grande importância no relacionamento entre a Europa e a África.
Trata-se de um simples alto funcionário que foi assistir à tomada de posse dos deputados eleitos: 57 do PAIGC, 41 do PRS, 2 do PCD, um do PND e um da UM.
"Portugal está muito empenhado neste novo regresso à ordem constitucional", disse o dito Luís Campos Ferreira à agência Lusa. Mas a verdade é que na tomada de posse do Presidente José Mário Vaz, dia 23, Lisboa não se faz representar pelo Presidente da República, nem pela presidente da Assembleia, nem pelo primeiro-ministro, nem pelo vice-primeiro-ministro, mas simplesmente pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
Por aqui se vê a grande distância que vai das palavras proferidas aos actos verificados. Portugal diz querer muito ouvir as prioridades da Guiné-Bissau, mas não lhe envia, pelo menos para já, nenhuma das figuras de topo da hierarquia do Estado. E aqui se denota uma grande contradição, que talvez ainda esteja a tempo de ser corrigida.
"Queremos dar um sinal de proximidade, de apoio, de afeto, de que a Guiné-Bissau é um país amigo, um país irmão", sublinhou Luís Campos Ferreira. Palavras, palavras, palavras, coisas em que os pequenos "governantes" são férteis.
Uma vez que o Presidente José Mário Vaz tome posse e que indique como primeiro-ministro o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, então veremos se Portugal conseguirá ou não colocar-se na primeira fila do relacionamento com o povo guineense, coisa que muitos outros querem, e pelos mais variados motivos, nem sempre muito altruístas.
A Guiné-Bissau vai continuar a contar com uma representação das Nações Unidas, a UNIOGBIS, e esse vai ser o período para se aquilatar das capacidades da dupla José Mário Vaz-Domingos Simões Pereira para arrancar como deve de ser com um diálogo político de grande fôlego e com a reconciliação nacional tão necessária, depois das tristes aventuras de António Indjai, Kumba Ialá e quejandos.
A ONU, a União Africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a CPLP e outras instâncias terão de ajudar muito a sério a fortalecer as frágeis instituições guineenses, que ao longo dos anos têm sido alvo de muitas conjuras e golpes baixos.
O Presidente que na próxima semana toma posse e o Governo que a seguir se formará terão de fazer com que a justiça realmente funcione, que não haja mais impunidade e que se respeitem tanto os direitos humanos como as liberdades fundamentais.
Se não se avançar de vez para a reforma do sector da segurança, há tantos e tantos anos adiada, e se os tribunais não funcionarem a contento, nada feito. De pouco servirá investir em escolas e hospitais se permanecerem as condições para que, a qualquer altura, um grupo de militares se apossar uma vez mais do poder e deitar tudo a perder.
O combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado, a redução drástica dos efectivos das Forças Armadas e o apuramento das responsabilidades de muita coisa errada verificada ao longo dos anos são essenciais para que se chegue a Novembro ou Dezembro de 2014 com muito mais esperanças de retirar a Guiné-Bissau do grande atoleiro em que tem vivido nas suas primeiras quatro décadas de existência.