É difícil, se não impossível, determinar qual a
maior revolução da história da humanidade. Mas estaremos de acordo em conceder
que a revolução científica no sentido moderno da palavra, se não foi a maior,
está entre as maiores e decisivas.
A ciência exerce fascínio fundamentalmente por dois
motivos. Um deve-se ao seu método empírico-matemático, de verificação
experimental, que faz que seja verdadeiramente universal, não havendo,
portanto, uma ciência para crentes e outra para ateus ou agnósticos. O outro: todos
acabam por ser beneficiados pelas suas aplicações técnicas. O que devemos à
ciência é incomensurável. Ela satisfaz a curiosidade natural do homem por
saber, como bem viu Aristóteles, e também as suas outras necessidades: de
saúde, bem-estar, locomoção, comunicação. Hoje, até se fala, mais propriamente,
de tecnociência, pois a própria investigação científica precisa de tecnologia.
Acrescente-se apenas que é preciso estar consciente dos perigos das
tecnologias, como mostram as ameaças ecológicas.
É tal a dívida para com a ciência que se corre mesmo
um risco e tentação: pensar que ela detém o monopólio da razão. De facto, não
detém, pois a razão é multidimensional e há necessidades humanas a que a
ciência não responde: por exemplo, a estética, a ética, a religião. O homem
será sempre religioso, porque não deixará de colocar a questão do fundamento e sentidos
últimos.
Na continuação da semana passada, cito outros
físicos eminentes na sua relação com o divino.
Max Planck: "Toda a matéria origina e existe apenas
em virtude de uma força que leva a partícula do átomo a vibrar e mantém coeso
este sistema solar muito diminuto do átomo. Devemos supor por trás dessa força
a existência de uma mente consciente e inteligente."
Heisenberg: "Na história da ciência, desde o
famoso julgamento de Galileu, tem sido repetidamente afirmado que a verdade
científica não pode ser conciliada com uma interpretação religiosa do mundo.
Embora eu esteja hoje convencido de que a verdade científica é inatacável no
seu domínio próprio, nunca achei possível descartar simplesmente o conteúdo do
pensamento religioso como parte de uma fase ultrapassada na consciência da
humanidade, uma parte de que teríamos de desistir agora. Assim, no decurso da
minha vida, tenho sido repetidamente obrigado a reflectir sobre a relação entre
estas duas áreas do pensamento, uma vez que eu nunca consegui duvidar da
realidade daquilo para que as duas apontam."
De Broglie: "Mesmo supondo a mais favorável das
expectativas, que o amanhã sai do hoje de acordo com o jogo implacável de um
determinismo estrito, a previsão de eventos futuros nas suas imensas densidade
e complexidade vai infinitamente além de todos os esforços de que a mente
humana é capaz e só seria possível a uma inteligência infinitamente superior à
nossa. Portanto, mesmo que uma necessidade inexorável ligasse o futuro ao
presente, poder-se-ia dizer que o futuro é um segredo de Deus."
Einstein respondeu à pergunta sobre se era uma
pessoa religiosa: "Sim, sou, pode dizer isso. Tente penetrar, com os seus
recursos limitados, nos segredos da natureza, e descobrirá que, por detrás de
todas as concatenações discerníveis, resta algo de subtil, intangível e
inexplicável. A veneração dessa força, que está além de tudo o que podemos
compreender, é a minha religião. Nessa medida, sou realmente religioso."
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