«Schroedinger: "Espanta-me muito a deficiência do quadro científico do mundo à nossa volta. Ele fornece um monte de informações factuais, coloca toda a nossa experiência numa ordem magnificamente consistente, mas não nos dá mais do que um medonho silêncio sobre as pessoas que estão perto do nosso coração, que são o que realmente nos importa. Ele não nos diz uma palavra a respeito do amargo e do doce, do vermelho e do azul, da dor e do prazer físico, do belo e do feio, do bem e do mal, de Deus e da eternidade. A ciência às vezes finge que responde a perguntas nestes domínios, mas as respostas são muitas vezes tão idiotas que não estamos dispostos a levá-las a sério."»
Pensa-se, por vezes, que todos os cientistas são
ateus. Não é verdade. Há cientistas ateus, cientistas agnósticos e cientistas
crentes. A questão fundamental consiste em saber se se crê num deus pessoal ou
se se está mais na linha do divino impessoal. De qualquer modo, ficam aí alguns
textos de cientistas eminentes sobre o tema, voltando à questão no próximo
sábado.
Galileu Galilei, que se manteve sempre crente:
"Gostaria de dizer aqui uma coisa que se ouviu de um eclesiástico do mais
eminente grau: "A intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como se vai
para o Céu e não como são os céus."
Newton: "Deus criou tudo com conta, peso e
medida." "Deus governa todas as coisas e sabe tudo o que é ou pode
ser feito."
Niels Bohr: "A ideia de um deus pessoal é
estranha para mim..., mas devemos lembrar-nos de que a religião usa a língua de
uma forma bastante diferente da ciência. Ela está mais intimamente ligada à
linguagem da poesia. É verdade que nos inclinamos a pensar que a ciência lida
com informações sobre factos objectivos e a poesia com sentimentos subjectivos.
Assim, podemos concluir que, se a religião, de facto, lidasse com verdades
objectivas, deveria adoptar os mesmos critérios de verdade que a ciência. Mas
eu acho a divisão do mundo num lado objectivo e noutro subjectivo demasiado
arbitrária. O facto de as religiões através dos tempos terem falado por
imagens, parábolas e paradoxos significa simplesmente que não há outras formas
de compreender a realidade a que se referem. Mas isso não significa que esta
não seja uma realidade genuína. E dividir essa realidade em lado objectivo e
lado subjectivo não nos levará muito longe. É por isso que, no meu entender, os
desenvolvimentos em física nas últimas décadas, que têm mostrado os problemas
de concepções como "objectivo" e "subjectivo", constituem
uma grande libertação do pensamento."
Schroedinger: "Espanta-me muito a deficiência
do quadro científico do mundo à nossa volta. Ele fornece um monte de
informações factuais, coloca toda a nossa experiência numa ordem magnificamente
consistente, mas não nos dá mais do que um medonho silêncio sobre as pessoas
que estão perto do nosso coração, que são o que realmente nos importa. Ele não
nos diz uma palavra a respeito do amargo e do doce, do vermelho e do azul, da
dor e do prazer físico, do belo e do feio, do bem e do mal, de Deus e da
eternidade. A ciência às vezes finge que responde a perguntas nestes domínios,
mas as respostas são muitas vezes tão idiotas que não estamos dispostos a
levá-las a sério."
Carlos Fiolhais, a quem devo, em parte, as citações
que aí ficam: "A ciência e a religião são domínios distintos do homem.
Embora o sujeito seja o mesmo, as dimensões a que essas duas actividades se
referem são diferentes. O diálogo entre elas nem sempre foi tão pacífico como
hoje. Actualmente, o diálogo está mais fluido. E, na minha opinião, é necessário
ter esse diálogo, pois o sujeito é o mesmo e há características que são comuns,
sendo a mais imediata as ambas tentarem, cada uma à sua maneira, penetrar o
mistério. A ciência procura o mistério do mundo, a religião procura o mistério
do outro mundo. Sejam os cientistas crentes, ateus ou agnósticos, reconhecem
que há dimensões para lá da ciência: por exemplo, a dimensão da arte, da
beleza, do amor, do sentido último. Podem encontrar respostas como seres
humanos, mas não com o seu método científico."
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