quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Médicos Sem Fronteiras pedem capacetes azuis à ONU para travarem batalha contra o ébola



Por, Rita Siza e Nicolau Ferreira

Organização médica internacional lamenta inacção global para responder à epidemia e defende mobilização de recursos militares para as áreas afectadas.

A epidemia de ébola está “fora de controlo” e o mundo arrisca-se a “perder a batalha” contra a doença se não forem tomadas medidas drásticas e urgentes para conter a escalada da crise, alertaram vários responsáveis médicos internacionais que lançaram um apelo à mobilização global de recursos, incluindo militares.

Em Nova Iorque, a presidente da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), Joanne Liu implorou aos membros das Nações Unidas para libertarem recursos – nomeadamente capacetes azuis – para travar a da epidemia, que descreveu como um “desastre biológico”. Segundo Liu, a escala do problema é tal que exige uma “mobilização maciça” de equipas civis e militares para as regiões afectadas: para garantir o transporte aéreo de médicos e doentes ou a instalação de mais hospitais de campanha em áreas isoladas.

Até agora, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou 3000 casos de infecção com o vírus, que se revelou mortífero para 50% dos doentes. A epidemia de ébola, que começou na Guiné-Conacri em Dezembro de 2013 e já se espalhou pelos países vizinhos Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal, já matou 1550 pessoas. Mas esse é um número que os especialistas consideram “sub-representativo” da realidade, uma vez que vários doentes nem terão chegado a ser vistos por médicos. E as estimativas da OMS atiram para a casa das 20 mil as pessoas em risco imediato de contágio com o ébola, em pelo menos dez países.

“A pior epidemia de ébola [da história] já dura há seis meses e os líderes internacionais continuam sem tomar consciência da ameaça transnacional que a doença constitui”, lamentou Joanne Liu, denunciando a resposta “irresponsavelmente inadequada” ao problema e censurando a postura dos países mais ricos que parecem apenas preocupados em manter a epidemia longe das suas fronteiras.

“O anúncio da OMS a 8 de Agosto de que esta epidemia constituía uma ‘emergência internacional de saúde pública’ não levou nenhum país a tomar medidas decisivas. Os Estados essencialmente juntaram-se numa coligação global da inacção”, criticou a presidente dos Médicos Sem Fronteiras, referindo-se ao plano de acção apresentado na semana passada pela OMS para deter o surto de ébola num prazo de seis a nove meses (e orçado em 371 milhões de euros).

Para o médico e director dos Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, sigla em inglês), Thomas Frieden, a “janela de oportunidade” para travar a expansão do ébola pela África Ocidental “está a encerrar-se rapidamente”. “O vírus está a mover-se mais rápido do que qualquer um poderia antecipar. Mas sabemos como parar o ébola. O desafio não é saber o que fazer, mas fazer qualquer coisa já”, frisou, numa conferência telefónica com jornalistas norte-americanos.

A Casa Branca divulgou um vídeo “educativo” para ser distribuído pelos países afectados, no qual o Presidente Barack Obama oferece um tutorial sobre o ébola e as formas de prevenir a infecção – é preciso usar máscaras e luvas para contactar com pessoas doentes ou para enterrar as vítimas da doença, explica. “É possível honrar a vossa cultura e tradições e homenagear os vossos familiares sem correr riscos de contágio”, observa Obama.

Paciente inglês recebe alta

Esta quarta-feira, o enfermeiro inglês William Pooley, que foi infectado pelo vírus do ébola na Serra Leoa, recebeu alta médica depois de ser tratado com o fármaco experimental ZMapp no Royal Free Hospital de Londres. O enfermeiro apanhou o ébola em Kenema, uma das áreas de elevada contaminação no Leste da Serra Leoa, onde trabalhava como voluntário.

“Tive muita sorte”, disse o enfermeiro de 29 anos numa conferência de imprensa. “Primeiro, devido ao nível de cuidado que recebi, que está um mundo à parte do cuidado que as pessoas na África Ocidental estão a receber, apesar dos maiores esforços feitos por muitas organizações.”

Devido à gravidade do surto e da doença – que pode alcançar uma mortalidade de 90% e não tem nenhum tratamento comprovado – a OMS declarou ser ético a aplicação de fármacos ou vacinas experimentais para combater a doença. William Pooley foi tratado com ZMapp, um fármaco da Mapp Biopharmaceutical Inc, uma empresa de biotecnologia norte-americana. O inglês foi a sétima pessoa a receber este medicamento experimental feito à base de três anticorpos que se ligam ao vírus do ébola, e cujo stock estava esgotado. Até agora, duas das pessoas que foram tratadas com o ZMapp morreram da doença.

1 comentário :

  1. Que Deus nos ajude a encontrar a vacina contra esse maldito doença que está matando a gente. Força Joanne Liu Dieu vai te e nos ajudar com sua pressão a encontrar a solução.

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