Os dirigentes guineenses ainda não entenderam que o
mundo, cada dia que passa, ganha novos contornos e nesse processo de
transformação constante, os cidadãos em diferentes pontos de globo terrestre
tornam-se mais maduros e mais exigentes. Nos dias que passam é quase impossível
governar o povo como foi há meio século atrás.
A evolução do mundo trouxe novas exigências que
profundamente modificaram as relações entre governantes e governados. A melhor
expressão seria talvez “relações entre governantes e cidadãos”. A diferença
reside nos dois termos, governado e cidadão. Enquanto o primeiro é tido como
sujeito a consume cegamente as orientações oriundas de cima, isto é do chefe, o
segundo é antes de tudo um “ator” que analisa e reage às orientações do chefe.
Partindo deste novo paradigma, os nossos governantes, os governantes
guineenses, devem perceber que o mundo coloca novas ferramentas à disposição
dos cidadãos eleitores para um melhor acompanhamento das ações da governação.
Nos últimos anos, têm havido relatos e “ruídos” de
que as empresas e firmas estrangeiras assinam acordos, contratos, com o Estado
da Guiné-Bissau. Mas, incompreensivelmente, esses acordos são rubricados nos
túmulos de sigilo absoluto e guardados nas gavetas. Desde empresas que operam
na introspeção petrolífera às empresas que pescam abundantemente nas nossas
águas passando por companhias aéreas, o povo desconhece os conteúdos dos
acordos que são assinados em seu nome. Tudo é feito com total secretismo de
modo a impedir que nada chegue ao ouvido do cidadão comum.
O povo deve ou não saber do conteúdo do protocolo de
acordo rubricado com a companhia aérea lusa, EuroAtlantic, e meses antes com a
TAP? O povo eleitor deve ou não saber dos termos do novo acordo assinado com a
União Europeia sobre a pesca nas águas territoriais guineenses? Este povo deve
ou não conhecer as cláusulas de contratos de diferentes companhias estrangeiras
que inundam o nosso mar com seus navios à procura do ouro negro? A polémica a
volta da exploração da areia pesada de Varela (norte do país) não deveria
condicionar o actual governo a tornar público o contrato assinado com a empresa
russa e esclarecer a opinião pública nacional sobre esta matéria? O povo
guineense tem ou não o direito de conhecer termos de todos os contratos
rubricados em seu nome? Não se pode pretender construir um Estado de Direito
escamoteando o princípio da transparência na concessão de licenças e
assinaturas de acordos de exploração dos recursos naturais do país. Seria uma
mera ilusão falar da democracia sem o culto de transparência e de prestação de
contas por parte dos decisores públicos.
O imperativo da transparência na gestão da coisa
pública deve começar agora no nosso país. O povo guineense já sofreu tanto dos
efeitos colaterais do flagelo da corrupção nos corredores de Alfandegas,
Finanças, Portos e em todos os níveis da administração estatal e seria
demasiado criminoso associar esse sofrimento à escala da exploração dos
recursos naturais. Estrategicamente, a exploração dos nossos recursos deve
assentar-se na planificação como instrumento para futuros investimentos do
Estado nos domínios chaves tais como educação, agricultura, saúde, energia.
Os cidadãos deste país, independentemente das suas
afiliações partidárias devem exigir a transparência como alavanca no caminho da
construção de um Estado responsável ao serviço de todos os guineenses. Ninguém
tem o direito de negociar e assinar silenciosamente os acordos em nome da
população do nosso país. A boa governação, slogan exibido nas campanhas eleitorais,
só pode encontrar a sua alma no compromisso imprescindível dos governantes a
comunicar a verdade ao povo. Publiquem os acordos!
//Odemocrata
E no meio de tudo isto, qual é o papel da Assembleia Nacional? Ou seja dos deputados?
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