O nosso país volta a viver momentos dramáticos, marcados por uma grave
crise política e institucional
Alguns
titulares de órgãos da soberania perderam a serenidade e o discernimento
indispensáveis a uma sã convivência inter-institucional.
Algumas
instituições representativas da democracia perderam a moderação e atingiram o
cúmulo do insulto.
Caros
Compatriotas
Em
Abril de 2012, a nossa caminhada democrática foi interrompida, tendo o país
entrado num período de transição política, que veio a durar pouco mais de dois
anos.
Compromissos
políticos internos, conjugados com a assistência e apoio dos nossos parceiros
de desenvolvimento, permitiram o retorno gradual e progressivo à normalidade
constitucional através de eleições gerais.
Na
observância da constituição, tendo em conta os resultados eleitorais, nomeei e
dei posse a um Primeiro-Ministro, tendo acto contínuo, nomeado e dado posse a
um elenco governamental por ele proposto.
Embora
na altura com reservas sobre a assertividade das opções nele contidas para a
prossecução do ambicioso Programa Eleitoral capaz de transformar o nosso país
como era o desejo de todo o guineense, entendi à data, que devia dar ao Chefe
do Governo o merecido benefício de dúvida, pelo que não alterei, em uma única
vírgula, a proposta que o Primeiro-Ministro me apresentou, como aliás tive
oportunidade de tornar público no cerimonial de posse ao Executivo.
Caros
compatriotas,
Cedo
nos apercebemos da dificuldade de relacionamento institucional, mas estávamos
ambos cientes da necessidade de encontrarmos mecanismos para os ultrapassar,
por forma a melhor corresponder às expectativas do povo guineense.
Foram
diversos os casos e episódios em que a nossa capacidade de encontrar soluções
para coabitação institucional foi posta em causa. Para elencar apenas alguns,
desde logo:
A
substituição da Chefia do Estado Maior General das Forças Armadas;
O
fecho da fronteira com vizinha República irmã da Guiné-Conacri;
O
incidente com os Rebeldes de Casamansa (que conduziu ao pedido de demissão do
Ministro da Administração Interna);
A
continuação da exploração desenfreada dos recursos naturais e, em particular,
as areias pesadas de Varela;
Corte
abusivo de árvores;
Delapidação
dos recursos pesqueiros;
Implementação
de um programa agrícola Mão-Na-Lama;
Audiências
com ministros (sujeitas a autorização prévia do Primeiro Ministro);
Omissão
do dever de informação sobre a condução dos assuntos da Governação;
Corrupção,
peculato, nepotismo e outros crimes económicos no exercício de funções
públicas;
Falta
de transparência na adjudicação de contratos públicos, entre outros.
A
minha inconformação em relação a questões que considerava importantes para a
estabilidade política, segurança nacional e gestão transparente da coisa
pública foi objecto de pronunciamento público em diferentes ocasiões, nunca
foram tidos em consideração e nem objecto de qualquer discussão privada.
É
verdade que a exteriorização do meu pensamento e posicionamento político nem
sempre mereceu aplausos pela forma e contexto em que os fazia, surgindo algumas
vozes aconselhando que os meus convites à reflexão, à inconformação sobre o
status quo poderiam ter resultados mais eficazes, caso fossem antes
manifestados em contexto de maior reserva institucional.
Tive
em conta essa e outras observações, em especial o Comunicado de Imprensa do
Movimento da Sociedade Civil, de 17 de Junho de 2015, através do qual apelavam
aos titulares dos órgãos de soberania “a maior contenção na abordagem pública
dos assuntos do Estado, com reserva de tratamento dos mais delicados e
sensíveis para os fóruns próprios”, bem como “Exortar a adequação dos actos dos
titulares dos órgãos públicos às competências constitucionais”.
No
dia 4 de Julho passado, dirigi uma Mensagem à Nação e à ANP, tendo na ocasião
apelado a toda a Nação guineenses «no sentido de darmos uma oportunidade
sincera à serenidade, à contenção e, sobretudo, ao trabalho, pautando as nossas
condutas no estrito respeito pelas normas que regem a nossa sociedade».
Na
ocasião, também tive a oportunidade de alertar que «(…) o ambiente
institucional em que (…) vivemos, se não tivesse sido gerido com maturidade e
elevado sentido de Estado, poderia ter degenerado numa grave crise política,
susceptível de pôr em causa o regular funcionamento das instituições, que
forçaria o Presidente a adoptar medidas correctivas, sob pena de omissão do seu
dever e compromisso constitucional de garantir o regular funcionamento das
instituições que perante vós assumi no acto da tomada de posse ».
Em
resposta, logo no dia seguinte e na sequência da Minha Mensagem à Nação (bem
acolhida por toda a população e comunidade internacional) o Senhor
Primeiro-Ministro entendeu oportuno, num encontro no INEP desdenhar o espírito
reconciliador e apaziguador com claro intuito de subestimar, uma vez mais,
profundidade da mensagem contida nessa alocução.
Com
muita tristeza, constatamos, através de posteriores pronunciamentos que alguns
titulares de órgãos de soberania não tinham absorvido a nossa mensagem. O nosso
repto foi simplesmente ignorado.
Caros
compatriotas,
Confrontado
com mais um elemento susceptível de dificultar o normal funcionamento das
instituições – falo da proposta de remodelação governamental que o Senhor
Primeiro Ministro me submeteu para apreciação – decidi, em atenção à sugestão
da sociedade civil e na lógica de um diálogo interinstitucional transparente,
partilhar com o Senhor Presidente da ANP, algumas preocupações relacionadas com
a proposta tendo em vista a credibilização do Executivo.
Depois
de tomar conhecimento da proposta de remodelação, o Presidente da ANP
manifestou uma indescritível indignação não só pelo seu teor, mas sobretudo
pelo facto do Primeiro-Ministro, conforme o próprio, não lhe ter dado
conhecimento prévio da proposta nem ter respeitado o acordo que estabeleceram
para a partilha de pastas. Face à sua ira, sugeri que voltássemos a discutir o
assunto da remodelação num outro momento.
No
segundo encontro que tivemos, a que assistiu o meu Ministro-Director do
Gabinete (por sugestão do Presidente da Assembleia Nacional Popular), não me
limitei apenas a transmitir-lhe que não estava em condições de viabilizar a
proposta de remodelação, como também lhe transmiti a minha preocupação do
relacionamento do Executivo com o poder judicial, bem como as dificuldades de
relacionamento institucional com o Senhor Primeiro-Ministro e que as mesmas estavam
a pôr em causa o regular funcionamento das instituições, o que poderia minar as
condições de realização das nossas aspirações de desenvolvimento.
Na
ocasião, apresentei ainda ao Presidente da Assembleia Nacional Popular três
soluções constitucionais para ultrapassar a crise, a saber:
Dissolução
da Assembleia Nacional Popular;
Demissão
do Governo, convidando o PAIGC, enquanto partido vencedor das eleições, para
indicar nome para ser nomeado novo Primeiro-Ministro;
Manter
o actual Primeiro-Ministro e proceder a uma remodelação profunda do Governo,
por forma a torná-lo credível.
Disse-lhe
que iria consultar as forças vivas da Nação (sociedade civil, partidos
políticos com e sem assento parlamentar, Conselho de Estado) e a Comunidade
Internacional sobre essas três possíveis soluções para saída da crise política,
sem lhe ocultar o nível de confiança entre nós existente marcado por conflitos
institucionais recorrentes, não obstante os esforços que ambos temos estado a
fazer ao longo de mais um ano para os ultrapassar.
Portanto,
foi um diálogo mantido em audiência oficial, com carácter de reserva, no
sentido da busca de soluções. Nunca lhe disse, em nenhum momento, que tinha
tomado a decisão de demitir o Primeiro-Ministro.
É
ainda verdade que o Presidente da Assembleia Nacional Popular ligou-me a pedir
que lhe recebesse com o Primeiro-Ministro. Antes de os receber, precisava
entender o que motivou a tão brusca mudança de comportamento do Presidente da
Assembleia Nacional Popular em relação ao Primeiro-Ministro.
Reitero
que não é verdade que tenha dito ao Presidente da ANP que já tinha tomado a
decisão de demitir o Primeiro-Ministro!
Foi
esta pequena mentira que foi associada a um panfleto anónimo que estranha e
curiosamente, como por magia apareceu na Assembleia Nacional Popular no justo e
exacto momento em que o Presidente da ANP iria anunciar aos Deputados da Nação
que acabava de ter conhecimento que o Presidente da República ia demitir o
Governo.
Acto
contínuo, foi convocado um debate de urgência de um órgão de soberania, a ANP,
para discutir o conteúdo do panfleto, sobretudo querendo transformar o conteúdo
do mesmo numa grande verdade. Todo este circo mediático na Augusta casa do
povo, mereceu ampla cobertura pelos órgãos públicos de comunicação social,
sendo transmitido em directo na Radiodifusão Nacional e, em diferido na
Televisão pública, de manhã, tarde e noite.
Como
diz o ditado “Uma pequena mentira, repetida mil vezes transforma-se em grande
verdade”!
Caros compatriotas,
Enquanto
primeiro magistrado da nação, entendi por acertado, no fórum próprio, partilhar
com a segunda figura na hierarquia do nosso Estado, o Presidente da ANP, as
minhas dificuldades de relacionamento institucional com o Primeiro-Ministro.
Reconheço e lamento ter ingenuamente acreditado que ele poderia, enquanto
máximo titular do poder legislativo, pessoa presumivelmente responsável e com
sentido de Estado, servir de ponte e facilitador na busca de uma solução para a
crise política.
Ao
invés disso, o Presidente da ANP, enquanto “homem de Estado”, entendeu que o
melhor serviço que poderia prestar à Nação, ao Estado guineense e às suas
instituições, era quebrar o dever de sigilo e reserva que a função lhe impõe e
decide revelar e adulterar aos Deputados o conteúdo e espírito da conversa
mantida com o Chefe de Estado, nos microfones da rádio e nos ecrãs de
televisão,
Compreendo
que não tenha passado pela cabeça de ninguém, principalmente dos Deputados da
Nação, que o Presidente da Assembleia Nacional Popular pudesse faltar à verdade
de forma tão descarada.
Este
insólito acontecimento de induzir os Deputados da Nação em erro sobre o teor e
finalidade da audiência, e em consequência induzir igualmente em erro alguma
franja da nossa sociedade, teve como resultado o início de uma escalada de
excesso de linguagem contra a pessoa, a dignidade, a honra e a reputação do
Presidente da República.
A
conduta do Presidente da Assembleia Nacional Popular é de uma
irresponsabilidade sem precedentes na história da nossa democracia e das
instituições do Estado, que nem uma inconfessável agenda política de me levar a
demitir o governo e provocarem/instigarem um caos social forçando eleições
presidenciais antecipadas, assegurando o Presidente da ANP a Presidência
interina do Estado, consegue explicar.
Quando
a República atinge extremos como os momentos dramáticos dos últimos dias, com a
agravante de se tentar conduzir o poder de forma irresponsável para a rua, os
fundamentos do nosso Estado de Direito Democrático vêem-se seriamente
ameaçados.
O poder pertence ao povo, mas não é para ser
exercido na rua. O poder do Povo é exercido pelo Estado através das suas
instituições democraticamente eleitas. Enquanto Chefe Estado, cabe-me a
responsabilidade última de garantir a preservação da dignidade do Estado, bem
como o normal funcionamento das instituições da República.
Caros
compatriotas,
No
dia 06 do corrente mês, através de uma comunicação à nação, o Senhor
Primeiro-Ministro veio reconhecer que o país está perante uma “crise
institucional”, que “as dificuldades de relacionamento institucional entre o
Primeiro-Ministro e o Presidente da República, já há muito são do domínio
público”, e que “tentativas várias foram feitas (…) visando ultrapassar essas
dificuldades”, concluindo a existência, por parte do Presidente da República e
Chefe do Estado “uma falta grosseira de ponderação (…) para além de um rude e
traiçoeiro golpe à esperança”, ameaçando com “responsabilização política e
judicial”, fim de citação.
Muito
sinceramente, a falta de serenidade e prudência revelada na comunicação do
Senhor Primeiro-Ministro, sem antes cuidar de ouvir a versão do Presidente da República
sobre as alegações do Presidente da Assembleia Nacional Popular, faz com que,
se as condições de normal funcionamento das instituições, já de si difíceis,
tornaram-se praticamente impossíveis.
Muito
nos pasma que, volvidos menos de uma semana, depois destas e de outras
declarações, venha agora o mesmo Primeiro-Ministro dizer que não existe uma
crise política, muito menos grave, que seja susceptível de por em causa o
normal funcionamento das instituições.
Mas
voltemos à comunicação do Senhor Primeiro-Ministro à Nação. Entende o Chefe do
Governo que “são tidos como pontos prevalecentes de discórdia” com o Presidente
da República, os seguintes:
Gestão
de recursos da Mesa redonda;
Os
Membros do Governo sobre os quais pendem suspeitas de crime;
A
inclusão no Governo de elementos próximos ao Presidente da República;
O
regresso ao país do Vice-almirante José Zamora Induta.
Quanto
à Mesa Redonda, nunca manifestei e nem podia manifestar, pela natureza das
minhas funções, qualquer intenção de ter uma participação activa na gestão dos
fundos dela resultante, mas estranhei a circunstância do Primeiro-Ministro,
nunca ter discutido, com seriedade ou informado o Presidente da República à
estratégia ou modelo de gestão dos eventuais apoios a receber dos nossos parceiros.
Contudo,
em duas ocasiões em que fui chamado a intervir deixei claro, em nome da
transparência, que haveria a necessidade de se realizar um encontro nacional,
para informar dos resultados obtidos, sua distribuição em doações e empréstimos
(concessionais e não concessionais) e em que condições de juros. Mais uma vez,
não fui ouvido.
No
que concerne aos membros do Governo suspeitos/arguidos em processo-crime,
ressalta, de forma evidente, que:
Ou
o Senhor Procurador-Geral da República faltou à verdade ao Senhor
Primeiro-Ministro na conversa que este diz terem tido sobre os membros
suspeitos/arguidos em processo-crime;
Ou
o Senhor Primeiro Ministro está a faltar à verdade a Nação.
Caros
compatriotas,
No
balanço do primeiro ano de Governação o Senhor Primeiro-Ministro referiu 12
membros do Governo alegadamente envolvidos em problemas com a justiça.
Na
já referida comunicação à Nação, o Senhor Primeiro-Ministro diz que “foi
colhida informação sobre os processos judiciais em curso, o que permitiu a
exclusão da lista proposta, dos passíveis de acusação”.
Na
versão do mesmo em crioulo, o Primeiro-Ministro reitera que “pediu ao
Presidente da ANP para facilitar o encontro com o Procurador-Geral da República
para que este possa informá-los dos nomes dos membros do Governo com situações
pendentes na Justiça, para que de facto, não fossem incluídos na proposta de
remodelação, o que aconteceu. Foram assim excluídos da lista de remodelação os
membros do governo com situações pendentes na justiça, mesmo estando seus
processos simplesmente na fase de instrução”, fim de citação.
Na
proposta de remodelação apresentada pelo Senhor Primeiro Ministro apenas deixam
o Executivo 4 membros, presumindo-se serem, segundo as informações recolhidas
pelo Primeiro-Ministro e da conversa resultante com o Procurador-Geral da
República, os que estariam envolvidos com a justiça.
Ora,
é do conhecimento público que a lista de membros do governo abraços com a
justiça, infelizmente, não se limita ao número que o Senhor Primeiro Ministro
me propôs tirar do Executivo. Há outros membros do actual Governo que o
Primeiro-Ministro não propôs a sua substituição, por razões que só ele pode
explicar, embora seja do domínio público que não só foram constituídos
arguidos, com também alguns já tem acusação definitiva pelos crimes que estavam
a ser investigados e apenas aguardam marcação de data de julgamento. Não me
cabe a mim relembrar esses nomes ao Senhor Primeiro Ministro e muito menos ao
Povo guineense.
O
Presidente da República não tem competência para propôr nomes, apenas tem
competência para aceitar ou rejeitar os nomes que o Senhor Primeiro-Ministro,
no seu critério de preenchimento de condições para o exercício do cargo,
entender apresentar para consideração do Chefe de Estado.
No
que respeita à integração de pessoas próximas ao Presidente da República no
Governo, como o próprio aliás reconheceu, nunca solicitei que fizesse com
nenhum dos membros do meu Gabinete. Contudo, o Senhor Primeiro Ministro
integrou na proposta de remodelação, um membro do meu Gabinete sem me dizer
quem era e ao que parece sem consultar a pessoa em questão. A ser verdade, o
que pretendia o Primeiro-Ministro conseguir com essa proposta?
Por
fim, no que diz respeito à vinda do Vice-Almirante, por se tratar de matéria de
natureza de segurança interna, limito-me a esclarecer que o Primeiro-Ministro
nunca me informou da sua vinda e que nunca falei com o Oficial General em
questão, conforme alega o Senhor Primeiro-Ministro. Este assunto vai ser
objecto de tratamento adequado em sede de Conselho Superior de Defesa Nacional,
no qual serão sacadas todas as responsabilidades.
Caros
compatriotas,
Enquanto
Chefe Estado, se o custo da estabilidade governativa é a corrupção, o nepotismo,
o peculato, saibam que considero esse custo demasiado elevado para ser pago.
Enquanto
Chefe Estado, se o custo da estabilidade governativa é a chantagem da
instabilidade, fazer vergar as instituições da República perante uma pessoa,
saibam que considero esse preço demasiado elevado para ser pago.
Como
sempre afirmei, a estabilidade é consequência de instituições fortes e perenes,
pelo que ninguém pode pretender ser maior do que as instituições do Estado a
ponto de querer condicionar e diabolizar o exercício de prorrogativas
constitucionais do Presidente da República.
Entendo
que o apego ao lugar, a protecção de interesses instalados não pode justificar
o apelo à violência, o incitamento dos jovens a virem para a rua manifestar-se,
para garantir a manutenção de regalias e privilégios de alguns.
Caros
compatriotas,
Uma
das soluções possíveis é proceder-se a uma remodelação profunda do Executivo.
Diz-se que o Primeiro-Ministro está disposto a fazê-la. Ou seja, em princípio,
todos os membros do Governo são substituíveis, nomeadamente os que têm
processos-crime, à excepção do seu Chefe.
Mesmo
que todos os membros do Governo fossem substituídos, ainda assim, a grave crise
política que põe em causa o regular funcionamento das instituições não seria
provavelmente ultrapassada, na medida em que a questão substantiva é a quebra
mútua da relação de confiança com o próprio Primeiro-Ministro.
O
resultado eleitoral do PAIGC é somatório do esforço de todos os seus
simpatizantes, militantes e dirigentes. A vitória nas eleições deve-se à força
do Partido, à dedicação e empenho pessoal de cada um dos Deputados nos
respectivos círculos. Assim, sendo a vitória do PAIGC é a este que pertence o
direito de governar, não podendo esse direito ser pessoalizado ou privatizado
por um grupo de interesses instalado no seio do Partido, ao ponto de se amaçar
a paz social, ameaçar fazer o país mergulhar num caos e conduzi-lo a uma guerra
civil, caso as instituições do Estado não se declinem perante a pessoa do
Senhor Primeiro Ministro.
Caros
compatriotas,
Esta
crise revelou que vivíamos numa hipocrisia institucional com a qual não consigo
coabitar. Não é intelectualmente honesto fingir não existir uma crise política.
A
instabilidade política não é uma consequência necessária da demissão de um
Primeiro-Ministro. A instabilidade é um desejo que alguns podem tentar
materializar por lhes ter sido retirado os privilégios e regalias associados à
função. É uma opção que cada um de nós tem que fazer, ou seja incendiarmos o
país através de uma política de terra queimada, simplesmente porque uma pessoa
deixou de ser Primeiro-Ministro e o partido que ganhou as eleições ser
convidado a indicar alguém para Chefiar um governo para executar o programa
eleitoral que apresentou ao Povo guineense.
Todo
este alarido visa, por um lado, desviar a atenção e manipular a opinião dos
guineenses, face a real situação difícil e incomportável que o nosso povo vem
sofrendo e por outro, distrair o poder judicial.
Caros
compatriotas,
Na
administração pública o Estado não funciona, e em vez de reduzir o número de
funcionários, conforme previsto no quadro da reforma da administração pública,
tem se verificado um aumento significativo e sem necessidade, numa clara lógica
de «job for the boy». Trabalha-se 3 ou 4 horas por dia, apesar de vários apelos
que fiz e que não foram tidos em conta. O Senhor Primeiro-Ministro, apesar de
reconhecer que existe um problema de absentismo e produtividade na função
pública, considera no entanto que não podia fazer plantão nos ministérios.
Na
sequência da minha Mensagem à Nação e à ANP, bem acolhida por quase toda a
população e a Comunidade Internacional, o Primeiro-Ministro, logo no dia
seguinte, no acto de avaliação do primeiro ano do Governo, optou por desdenhar
o espírito reconciliador e apaziguador apresentado pelo Presidente da
República, com claro intuito de subestimar, uma vez mais, a profundidade da
mensagem contida nessa alocução.
Para
além da grave crise política susceptível de por em causa o regular
funcionamento das instituições, no âmbito económico, a situação é muito
preocupante porque pouco ou nada se fez durante o 1.º ano de mandato. E sempre
que se fala neste sentido, evoca-se o pagamento de salário e o fornecimento
regular da corrente eléctrica.
O
País não vive apenas com a satisfação destas duas necessidades. Carecemos
também de outros investimentos e neste sentido nada foi feito de raiz face aos
avultados recursos colocados a nossa disposição.
Caros
compatriotas,
Estamos
determinados a prosseguir uma via em que a boa prestação de serviço público
deve corresponder a uma cultura de exemplo, assente em valores éticos e
princípios de probidade, elevação e transparência na gestão da coisa pública.
Convido-vos,
finalmente, a analisar atentamente os dados a seguir, para terem uma ideia do
nível que atingimos na delapidação da coisa pública no nosso país.
Baseado
na Tabela de Operações Financeiras do Estado (TOFE), constatei que no período
de Julho de 2014 a Julho de 2015, o Ministério das Finanças geriu os seguintes
valores:
Provenientes
de apoios da Comunidade Internacional – 49 biliões de francos CFA (equivalentes
a 83 milhões de Dólares Americanos);
Recursos
internos gerados pelo Tesouro Público – 60 biliões de francos CFA (equivalentes
a 101.7 milhões de Dólares Americanos);
Total
desse período de um ano – 109 biliões de francos CFA (equivalentes a 94.9
milhões de Dólares Americanos).
Deduzido
o valor total dos salários nesse período, mais quatro meses de atrasados, ao
montante total de 53 biliões de francos CFA, restará um saldo de 56 biliões de
francos CFA.
Pergunto
mais uma vez:
Em
que é que foi gasto todo esse saldo de 56 biliões de francos CFA?
Esse
montante não poderia ser investido na melhoria dos hospitais, escolas,
saneamento básico ou ser canalizado para o sector produtivo, nomeadamente na
produção do arroz?
Caros
compatriotas,
Entendo
que o compromisso da Comunidade Internacional é com o Povo, o Estado e os
legítimos representantes das instituições da República.
Temos,
por isso, total confiança que a Comunidade Internacional vai continuar ao lado
do Estado guineense, das suas instituições e do seu povo, sempre que as
decisões de soberania sejam conformes à Constituição e às Leis da República da
Guiné-Bissau. Aproveito a oportunidade para, em nome do Povo guineense,
agradecer toda a assistência e apoio que os parceiros de desenvolvimento têm
prestado na edificação de um Estado de Direito e no combate, sempre inacabado,
pelo Desenvolvimento.
Mulheres e Homens guineenses,
Termino
com a esperança de que todos saberemos estar a altura das nossas
responsabilidades, desde o Presidente da República até ao cidadão comum, para
que os nossos mandatos sejam exercidos «em benefício das gerações futuras,
olhando para o nosso amanhã comum e projectando a nossa acção para lá da luta
política e dos interesses de hoje».
Que
Deus abençoe a Guiné-Bissau e ao seu Povo!
//Com Odemocrata
Se tudo que o Jomav falou e verdade ele tem razao, mas acho que vai dar Domingos mais uma oportunidade e caso for que Domingos tome muito cuidado com o Cipriano Cassama
ResponderEliminar