A Associação das peixeiras da
Guiné-Bissau (Amupeixe) denuncia "o absurdo" de grande parte do
pescado que é consumido atualmente no país vir do Senegal e pede a intervenção
do Governo.
A presidente da Amupeixe, Cadi Nanqui,
disse à Lusa ser "um autêntico absurdo" que as suas associadas, mais
de 100 mulheres, tenham de se deslocar ao Senegal para adquirir o pescado que é
vendido no mercado guineense.
"Nós temos mar, peixe em
abundancia, mas nos últimos oito meses não temos peixe que chegue, ao ponto de
mandarmos comprar no Senegal. É um autêntico absurdo", afirmou.
"Eles (os senegaleses) capturam o
peixe aqui no nosso mar, levam para o Senegal, vendem o da primeira qualidade
para a sua gente e a nós vendem-nos o peixe da segunda ou terceira
qualidade", denunciou outra peixeira, Mariama Djatá.
A Amupeixe costumava receber mensalmente
do ministério das Pescas 150 toneladas de pescado para distribuir pelas
associadas, mas segundo Eva Indjai os problemas de abastecimento começaram
quando o arrastão chinês Hiphen deixou de atracar no porto de Bissau.
O secretário de Estado das Pescas e
Economia Marítima da Guiné-Bissau, Idelfonso de Barros, considera justificada a
preocupação das peixeiras mas refere "um processo de mudança em
curso" no sector que obriga a que o Estado "deixe de vender
diretamente" o pescado capturado, entregando essa tarefa aos privados.
Idelfonso de Barros disse à Lusa que o
navio Hiphen deve voltar a operar a partir de novembro, com a promessa de
descarregar cerca de 300 toneladas de pescado.
Em vez de entregar ao Estado e este
vender às peixeiras, o processo será de venda direta do arrastão aos membros da
Amupeixe, adiantou Idelfonso de Barros.
Quanto ao facto de as peixeiras estarem
a comprar o peixe no Senegal, o governante guineense entende ser "uma
saída possível" encontrada para atenuar a falta de pescado, motivada em
parte pelo facto de a pesca artesanal sofrer uma baixa nos períodos de março a
setembro, quando os pescadores trocam a faina pela apanha da castanha do caju,
uma das principais exportações da Guiné-Bissau.
Mata Nharia, outra vendedeira de peixe,
diz que em mais de 20 anos nunca viu tanta dificuldade como aquela que tem
enfrentado nos últimos meses e referiu que mesmo quando a Guiné-Bissau viveu um
conflito armado entre junho de 1998 a maio de 1999 não enfrentou tantas
dificuldades no seu negócio como agora.
Mariama Sanhá diz que quer "esperar
para ver" mas sempre vai avançado que o consumidor final é quem acaba por
sentir mais a situação na medida em que o preço do pescado "é forçosamente
alto". Com a Lusa
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