O cineasta guineense Flora Gomes
pretende produzir um documentário de ficção para retratar a vida e obra de
Amílcar Cabral, pai das nacionalidades guineense e cabo-verdiana.
É o próprio que o revela numa recente
entrevista a RFI, em Paris à margem de um colóquio da delegação parisiense da
Fundação Calouste Gulbenkian sobre as artes da língua portuguesa.
Flora Gomes disse que realizar um
trabalho sobre Amílcar Cabral continua a ser um dos seus projectos, salientando
que já tem alguns apoios para avançar.
“Já estou a ouvir os testemunhos dos
combatentes que viveram com Cabral e pessoas que tiveram aquele privilégio e
sorte de ouvi-lo ou de o ter cumprimentado. Já tenho mais de dez horas de
entrevistas filmadas, salientando que só depois disso que vou atacar a parte da
ficção” disse o cineasta.
Flora Gomes esclareceu que fazer o filme
não é difícil, mas disse que vai ser muito caro, porque, segundo as suas
palavras, o referido filme de Cabral é muito caro e disse esperar que a obra seja
da dimensão de Amílcar Cabral.
O cineasta guineense adiantou que o acto
é de grande responsabilidade, salientando no entanto que o homenageado merece.
Flora Gomes conta ter apoios dos actuais
dirigentes do partido de Cabral, o PAIGC e o actual Primeiro-ministro e acha que
vão compreender que o que está a preparar visa imortalizar tudo o que fizeram
de bem e do mal até aqui, no quadro do pensamento de Amílcar Cabral.
Para Flora Gomes, a grande dor da cabeça
do projecto, será a parte de ficção, ou seja encontrar a pessoa ou personagem
ideal para interpretar Amílcar Cabral e os meios que são precisos para avançar.
“Falar da morte de Amílcar Cabral é
importante. O mais importante é todo aquele aspecto dum país que ergueu
praticamente de nada e se não fosse a luta de libertação, eu não estaria aqui a
ser entrevistado e muita gente não teria essa possibilidade hoje de ver a
Guiné-Bissau nesse processo tão delicado de construção de uma nação e de ter
essa identidade que não tem nada de igual” afirma Flora Gomes.
Segundo ele, para Cabral a luta de
libertação era um acto cultural ele não só conseguiu distinguir com quem é que estávamos
a lutar, que era contra o sistema de colonialismo português não contra nem
nunca contra o povo de Portugal, mais também começou a criar o que ele chamou
de homem novo.
“Esse homem novo é um homem sem
complexo, que não pode sentir inveja dos outros. O homem que quer andar para
frente, que tem o domínio da técnica e de tudo que a ciência coloca nas suas
mãos", explicou.
Flora Gomes disse que Cabral não formou
somente os homens de cinema porque são poucos nessa área, salientando que, o líder
igualmente formou muitos engenheiros agrónomos, médicos em suma quadros para
fazer da Guiné um paraíso e que, infelizmente, não é o caso ainda, mas disse
acreditar que a situação vai mudar.
Flora Gomes lamentou a crise política
vivida no país provocada pela demissão do governo de Domingos Simões Pereira e
do impacto que teve em relação aos projectos culturais na Guiné-Bissau dizendo
que é nesta fase que se deve repensar nos actos e decisões para que esse erro
não volte a acontecer no futuro.
O cineasta guineense com mais obras
feitas e mais conhecido no pais e além fronteira salientou que os militares são
um exemplo a seguir e que durante a crise deram lições a todos principalmente
aos políticos.
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