O Papa Francisco iniciou nesta
quarta-feira sua primeira viagem ao continente africano, ao desembarcar em
Nairóbi, capital do Quênia, onde foi recebido por um coral e dançarinos.
O Quênia é a primeira etapa de uma
viagem que inclui Uganda e República Centro-Africana, e que tem como objetivo
promover a paz e a reconciliação nesses países do coração da África.
Como já ocorreu em outros continentes,
Francisco escolheu países que passam por problemas graves.
Francisco expressou o desejo de que sua
viagem à África dê frutos materiais e espirituais, em declarações feitas à
imprensa a bordo do avião que o leva para Nairóbi.
"Vou com alegria ao encontro de
quenianos, ugandeses e os irmãos centro-africanos", declarou o papa,
visivelmente à vontade, ao saudar os 64 jornalistas que o acompanham em sua
viagem.
"Agradeço tudo o que farão para que
esta viagem dê os melhores frutos, tanto materiais quanto espirituais",
afirmou, ao cumprimentar cada um dos jornalistas.
Indagado sobre sua etapa na República
Centro-Africana, país mergulhado na violência, Francisco afirmou que há uma
razão pela qual escolheu visitar esta nação, mas que somente a revelará em sua
coletiva de imprensa a bordo do avião que o levará de volta ao Vaticano, na
próxima segunda-feira.
A viagem acontece em um momento
delicado, devido a tensões que reinam tanto na Europa quanto na África, pelos
atentados de Paris, a tomada de reféns no hotel Bamako em Mali, o jihadismo
empenhado em desestabilizar o equilíbrio de boa parte do mundo.
O programa da 11ª viagem ao exterior de
Francisco inclui 19 discursos e numerosos encontros com a população local, fiel
a seu estilo sensível e acessível.
"Estamos vivendo um tempo em que os
fiéis de cada religião e as pessoas de boa vontade são convidadas a promover a
compreensão e o respeito recíprocos", reconheceu o papa nesta
segunda-feira em uma vídeo-mensagem gravada antes de viajar.
Durante sua estada, Francisco ouvirá os
depoimentos de meninos soldados, das vítimas da aids, dos refugiados e
mutilados de guerra, de gente comum, entre os mais pobres do planeta.
Um dos momentos mais emblemáticos será a
abertura, no domingo, 29 de novembro, da "porta santa" da catedral de
Bangui, capital da República Centro-Africana.
Com este gesto simbólico será antecipada
em 10 dias a inauguração oficial em Roma de um Jubileu extraordinário, dedicado
à "misericórdia" e ao perdão, convocado por Francisco para promover,
segundo ele, "a compreensão" e "o respeito" sem distinção
de raça nem credo.
Apesar do Vaticano assegurar que
cumprirá o programa estabelecido para Bangui, a etapa mais perigosa, onde
planejam uma visita à mesquita do bairro-fortaleza muçulmano, há possibilidade
mudanças, de última hora, para enfrentar a violência entre milícias muçulmanas
e cristãs e a insegurança.
As forças de segurança do Quênia, Uganda
e República Centro-Africana adotaram medidas de segurança para a visita de alto
risco de cinco dia do papa Francisco.
Quênia e Uganda, que integram a AMISOM
(Força da União Africana na Somália), são alvos dos islamitas somalis shebab,
aliados da Al-Qaeda.
Os governos dos dois países anunciaram a
mobilização de quase 10.000 policiais em Nairóbi e Kampala, as capitais,
cidades nas quais o pontífice celebrará grandes missas ao ar livre.
"Adotamos todos os dispositivos de
segurança, que serão aplicados a partir de sua chegada", disse o chefe de
polícia do Quênia, Joseph Boinett.
"Envolvem as estradas por onde
circulará e os locais de visita e alojamento", completou.
Mais de 400 pessoas morreram nos
atentados executados pelos shebab no Quênia desde setembro de 2013, quando
aconteceu o ataque contra o shopping Westgate de Nairóbi, que deixou 67 mortos.
Mais de 100 pessoas morreram em vários
ataques contra localidades da costa e 148 foram assassinadas por um comando na
Universidade de Garissa (leste) em abril de 2015.
Em alguns casos, os criminosos liberaram
os muçulmanos e mataram apenas os não muçulmanos.
Em Uganda, dois atentados mataram 76
pessoas em um restaurante e um bar de Kampala durante a final da Copa do Mundo
de 2010.
A ONU anunciou que 300 capacetes azuis
baseados na Costa do Marfim serão enviados à República Centro-Africana para
apoiar os 12.000 integrantes da MINUSCA (Missão das Nações Unidas na República
Centro-Africana), responsáveis pela segurança durante a visita papal.
Exclusão
Francisco inicia sua viagem pelo Quênia
e Uganda, dois países anglófonos, nos quais 32% e 47% da população,
respectivamente, considera-se católica.
O papa João Paulo II esteve três vezes
no Quênia e Uganda, este último foi o primeiro país da África visitado por um
papa (Paulo VI) em 1964.
Como seus predecessores, Francisco
condenará as desigualdades econômicas e denunciará um dos grandes males desse
continente, a corrupção, que afeta muitas nações africanas e envolve
dirigentes, líderes políticos e até mesmo a Igreja.
"O problema da exclusão social é
flagrante em ambos os países. No Quênia, 75% da riqueza está concentrada nas
mãos de 1% da população", afirmou o padre Albanese.
Em Nairóbi, capital do Quênia e em uma
das sedes oficiais da ONU, será falado sobre um tema-chave de seu pontificado,
a mudança climática e o crescimento da desigualdade, argumento que abordou em
sua encíclica Laudato Si e com o qual espera influenciar os debates da
conferência mundial que começa no dia 30 de novembro.
O papa está na vanguarda da luta pelo
desenvolvimento integral e respeitoso à natureza.
Em Uganda, prestará homenagem a todos os
mártires cristãos da África e celebrará uma missa em um santuário pelos 22
jovens cristãos queimados vivos no final do século XIX, por ordem do rei
Mwanga, após terem negado a se converter em escravos sexuais. Eles haviam sido
canonizados por Paulo VI. Com AFP
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