«O
Senhor Jesus já veio na humildade da natureza humana; está
a vir nos gestos de solidariedade e tolerância»
Esta
exortação é feita por Jesus aos seus discípulos, pouco antes de
iniciar o processo da paixão. Tinha falado de perseguições a
pessoas, de destruições de casas e do Templo. Agora alarga os
horizontes e menciona o cosmos inteiro: o céu, a terra, o sol, a
lua, as estrelas. E garante “ as forças celestes serão abaladas”.
Não admira que, perante o caos anunciado, haja ansiedade e medo,
angústia e dor.
As
forças celestes são frequentemente entendidas como o rosto dos
deuses que presidiam à constelação religiosa de muitos povos.
Era-lhes tributado culto com grande e convicta devoção. Pessoas,
coisas, ritos e festas “giravam” à sua volta e dos santuários a
eles dedicados. Em linguagem típica apocalíptica, Marcos, Mateus e
Lucas, narram a transformação final do mundo, da história, e o
início da “nova era” com a chegada de Jesus ressuscitado,
vencedor da morte e vivo para sempre.
Esta
vinda é fonte da grande esperança que os discípulos são
convidados a viver, sobretudo nos períodos de angustiosa tribulação.
É a razão principal do Advento celebrado pela Igreja que, hoje, se
inicia. É a garantia que o nosso futuro definitivo está nas mãos
de Deus que cumprirá fielmente as promessas feitas por Jesus Seu
Filho e nosso Senhor.
Importa,
por isso estar atento e viver a certeza de que a nossa libertação
está próxima e não deixar que a consciência seja anestesiada, o
coração dominado pelos impulsos descontrolados, a inteligência
viciada pelas meias verdades ou mentiras rotundas, a sensibilidade
adormecida pelos cantos de sereia que a publicidade sedutora inventa
e a tantos deslumbra e arrebata. “Estai sempre despertos”,
procurai compreender os sinais que irrompem à vossa volta, sede
diligentes na resposta a dar aos desafios ocorrentes, confiai e
aguardai o Senhor que vem.
O
Senhor vem para rectificar a nossa religiosidade e reencaminhar o
nosso desejo de verdade, para abrir caminhos novos à nossa miopia de
bem-estar solitário e de indiferença, para propor um outro projecto
de vida alicerçado no amor de doação incondicional, regenerador
das “feridas” e gerador de novas energias; projecto que nos leva
a Deus e, se correspondermos, nos faz felizes.
A
mensagem do Advento do Senhor Jesus tem uma actualidade enorme. Ao
medo assustador, há que opor a confiança fundada. À violência
extrema, a paz que é fruto de um coração manso e humilde, sensível
à justiça e impregnado de caridade. À retaliação intimidatória,
o diálogo da verdade que desarma e gera a coragem prudente. Enfim, à
consciência “ensonada” pela sedução da publicidade e
propaganda enganosas, o apelo veemente a que desperte e criticamente
assuma a sua função de ser luz da verdade que nos guia e liberta.
O
Senhor Jesus já veio na humildade da natureza humana; está a vir
nos gestos de solidariedade e tolerância, na palavra revelada e na
celebração da liturgia; há-de vir na glória do seu triunfo sobre
todas as maldades do mundo e fazer brilhar a alegria e paz para
sempre. Aguardemos e trabalhemos para que a sua vinda nos mantenha
vigilantes, activos e cooperantes.
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