Chegados ao fim de mais um ano, o ano de
2015, apresento-me perante todos vós – cidadãos guineenses, residentes no país
ou no estrangeiro, bem como cidadãos estrangeiros que escolheram o nosso país
para viver e trabalhar – para vos apresentar os meus mais calorosos
cumprimentos de Novo Ano.
Desejo a todos, um Feliz ano de 2016,
fazendo votos que seja um Ano de paz, saúde e prosperidade para todos e a cada
um de nós!
Estes meus votos são particularmente
dirigidos aos nossos concidadãos enfermos, estejam eles em casa ou internados
em qualquer serviço hospitalar e que, por esse ou outro motivo, não podem
participar na plenitude das festividades da entrada do Novo Ano.
Caros
Concidadãos,
Como é costume, a Mensagem de Novo Ano,
para além de permitir que enderece os votos iniciais que acabo de formular,
constitui, igualmente, momento adequado de balanço e reflexão, mas também
ocasião soberana para renovar esperanças e ambições, bem como reorientar
objectivos nacionais e perspectivar acções a serem empreendidas no decurso do
novo ano. Com efeito, são esses os propósitos desta singela mensagem de Ano
Novo que hoje vos dirijo.
Mulheres
e Homens Guineenses,
Contrariamente à expectativa inicial de
todos nós, a nossa caminhada no sentido da estabilidade governativa, foi
afectada por uma grave crise política que pôs em causa o regular funcionamento
das instituições da República, que conduziu à vicissitude constitucional do
primeiro Governo desta Legislatura.
A mudança então operada no Governo,
foi-nos imposta pela alteração superveniente dos pressupostos que garantiam a
estabilidade governativa até ao final da legislatura, que pese embora os nossos
esforços, não fomos, todos nós, capazes de evitar.
A este facto, seguiu-se uma sucessão de
eventos que logramos gerir com serenidade e elevado sentido de
responsabilidade, por forma a que todo o exercício democrático de cidadania se
confinasse aos limites do quadro constitucional e não se tivesse degenerado em
caos social susceptível de pôr em causa a ordem constitucional, bem como a
unidade do comando do Estado, como incompreensivelmente à data pretendido por
alguns sectores sociais.
As dificuldades experimentadas na gestão
da crise, ofereceram-nos também uma oportunidade para retirar ensinamentos da
sabedoria sensatamente condensada por Sir Winston CHURCHILL – que ora partilho
– segundo a qual «um optimista vê uma oportunidade em cada dificuldade».
É verdade que a tempestade político-institucional,
que ventos adversos nos obrigaram a enfrentar, reflectiu-se negativamente na
vida do país. Contudo, temos todos de ser capazes de reconhecer que serviu
igualmente como uma oportunidade para testar e confirmar a resiliência das
nossas instituições, a autoridade e solidez do nosso Estado e das suas
instituições, bem como a maturidade política do povo guineense.
Nesta ordem de ideias, enquanto
Comandante Supremo das Forças Armadas, que me seja permitido realçar o papel
republicano das nossas Forças de Defesa e Segurança que, apartando-se
completamente das querelas político-partidárias, restringiram-se ao seu papel
constitucional de subordinação aos poderes civis democraticamente estabelecidos
e de garante da soberania e segurança nacionais, dando assim mais um elevado
exemplo de patriotismo, na senda dos exemplos heróicos da epopeia da Luta de
Libertação Nacional.
Aproveitamos este momento para enaltecer
a assistência e o apoio prestado pela Comunidade Internacional e os nossos
parceiros de desenvolvimento em geral (Organização das Nações Unidas, União
Africana, União Europeia e CPLP) na busca de consensos políticos para os nossos
desafios institucionais e, em particular, o importante contributo da CEDEAO,
que se empenhou activamente na busca de soluções para a situação política então
vivida no país, à qual me associei, entre outros, tomando parte na Conferência
de Chefes de Estado realizada em Dakar em Agosto de 2015, em que a crise
guineense foi um dos pontos da agenda de trabalhos.
Quero reiterar aqui a minha saudação e
reconhecimento aos meus pares da CEDEAO, em particular, os meus amigos e
irmãos: Presidente Macky Sall, Presidente em Exercício da CEDEAO, Presidente
Alpha Condé, Mediador da crise na Guiné-Bissau e Presidente Muhammadu Buhari, Coordenador
do Grupo de Contacto sobre a Guiné-Bissau.
Graças aos seus empenhos, a organização
designou o Presidente Olusegun Obasanjo para ajudar o nosso país a ultrapassar
aquele difícil momento político.
Ainda neste capítulo, permitam-me
dedicar uma saudação de reconhecimento e apreço às mulheres e homens da ECOMIB
presentes no país em missão de paz, segurança e, acima de tudo, solidariedade.
Embora vos acolhamos com imensa
satisfação no nosso país, não nos consola o facto de saber que estão a passar
esta quadra festiva longe do conforto dos vossos lares, do carinho dos vossos
familiares e amigos, enfim, longe dos que vos são mais queridos.
Quero através dessas mulheres e desses
homens, aproveitar mais esta ocasião para estender um abraço fraterno aos
Chefes de Estado dos respectivos países e povos irmãos da CEDEAO.
Caros
Compatriotas,
O ano de 2015 não foi um ano fácil, foi
antes sim um ano difícil.
Contudo, temos de reconhecer que a nossa
sociedade consolidou, na prática, ganhos significativos no âmbito do nosso
processo democrático.
Refiro-me, fundamentalmente, ao respeito
pelos mais sagrados princípios, valores, direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos, consagrados na nossa Lei Magna, perante a qual devemos todos nos
inclinar.
Neste particular, algumas das liberdades
como a liberdade de expressão, de imprensa e manifestação, foram exercidas até
à exaustão em 2015, como nunca antes tinha acontecido na história do nosso
país.
Contudo, registamos todos, com a
satisfação que advêm do nosso compromisso sagrado de consolidação do Estado de
Direito democrático na Guiné-Bissau, que não foi registado um único caso de uma
única pessoa detida, presa, violentada ou assassinada, pela simples
circunstância de exercer essas ou quaisquer outras liberdades, como,
infelizmente, era recorrente acontecer num passado bem recente.
Mas, se concordamos todos o quão sagrado
é o exercício dos direitos e das liberdades, enquanto comunidade politicamente
organizada em Estado, é fundamental não esquecermos os deveres e as
responsabilidades a eles inerentes.
Caros
Compatriotas,
Se é verdade que o ano de 2015 foi um
ano de desafios, também não é menos verdade que foi um ano em que o país teve
conquistas assinaláveis, em particular, nos planos económicos, diplomático e da
cooperação internacional.
Para citar alguns exemplos, o ano de
2015 foi o ano em que todas as forças vivas da Nação concorreram para o êxito
da Mesa Redonda de Bruxelas. Em compensação desse esforço nacional,
consubstanciado no Plano Nacional de Desenvolvimento “Terra Ranka”, recebemos
garantias de apoio financeiro considerável dos nossos parceiros internacionais
de desenvolvimento, aos quais reiteramos agradecimento em nome do povo
guineense, pela sensibilidade e interesse que sempre demonstraram na apreciação
das nossas questões.
Para que essas promessas possam
realmente contribuir para a melhoria das condições de vida das nossas
populações, através da criação de mais riqueza e emprego – e não um fardo para
os nossos filhos e netos – exige-se e espera-se de nós trabalho, mais trabalho
e muito trabalho, acompanhado por uma boa gestão dos fundos prometidos.
Pois, esses fundos serão desbloqueados não
através de simples fichas de projectos, mas sim mediante projectos concretos,
em que aspectos importantes como estudos de viabilidade técnico-financeira não
podem ser negligenciados.
Mas 2015 foi sobretudo marcado pela
histórica e honrosa visita ao nosso país do Rei de Marrocos, Sua Majestade
Mohammed VI – um amigo da Guiné-Bissau.
A visita do Rei Mohammed VI deu uma
grande visibilidade ao nosso país e desfez o mito de insegurança que pairava
sobre o nosso solo pátrio, para além de abrir grandes perspectivas de
cooperação com o Reino Sherifiano de Marrocos, que os vários acordos assinados
nos mais diversos domínios são disso testemunho.
Mas a presença do Soberano Marroquino
entre nós serviu também para abrir uma janela de oportunidades com todo o mundo
árabe. Por isso, deixo aqui um apelo ao Governo no sentido de criar as melhores
condições e agilizar os mecanismos para a materialização dessas oportunidades.
Caros
Compatriotas,
Ainda no decurso do ano 2015, tive o
privilégio de representar o nosso país em eventos de relevante importância,
permitindo-me destacar: a Cimeira Índia-África, a Cimeira China-África e a
Cimeira de Paris sobre o Clima.
À margem dos trabalhos da Cimeira
Índia-África, ofereceu-se-nos a oportunidade de manter um encontro bilateral
bastante frutuoso com o Chefe do Governo da Índia, Narendra Modi, durante o
qual recebemos a promessa de financiamento de projectos no valor de 250 milhões
de dólares, para a agricultura, emprego jovem e energia.
Na Cimeira China-África, tivemos a grata
honra de participar num pequeno-almoço de trabalho com o Chefe de Estado
chinês, o Presidente Xi Jinping. As mais altas autoridades deste país amigo
manifestaram a disponibilidade em financiar um grande número de projectos, com
especial incidência no sector agrícola. Da nossa parte, exige-se uma vez mais a
apresentação de projectos concretos e bons, porquanto com grande impacto na
nossa economia.
Por seu turno, a nossa presença na
Cimeira de Paris sobre o Clima serviu para, perante o testemunho de outros
líderes mundiais, manifestar a preocupação das autoridades da Guiné-Bissau
sobre o aquecimento global e o nosso compromisso na implementação de acções
resultantes do Acordo de Paris.
Por fim, nos últimos dias, no plano
interno, recebemos em visita de cortesia, uma importante delegação da diáspora
guineense, onde tivemos oportunidade de confraternizar, discutir e partilhar os
desafios do país, bem como a implicação da diáspora na resolução dos problemas
que hoje afectam o nosso país. Foi um encontro que nos encheu de orgulho e
ainda mais convictos de que dispomos de recursos humanos para dar resposta a
muitas das nossas insuficiências governativas.
Caros
Concidadãos,
Vamos iniciar um Ano Novo e com ele a
possibilidade de uma vida nova, razão pela qual a esperança é o sentimento que
hoje mais nos anima.
Estamos esperançados que os desafios
institucionais que hoje vivemos, em particular os que se referem à Assembleia
Nacional Popular, merecerão uma resposta coincidente com a vontade real ou
presumível do povo e com os superiores interesses da Nação.
Para tanto, é imperioso que os Partidos
Políticos representados na ANP, em particular as suas lideranças, sejam capazes
de promover a cultura de diálogo e a coesão interna, condições sine qua non
para gerar entendimentos que possam servir de base a consensos nacionais
alargados.
Consensos esses que garantam os
pressupostos de uma estabilidade governativa que todos desejamos, porquanto em
democracia parlamentar o Governo é expressão e emanação da vontade da maioria
do povo representada pela legitimidade dos Deputados da Nação.
Olhando para o passado recente, temos
que ter a humildade para reconhecer que se tivéssemos feito um juízo de
prognose póstuma, havia muita coisa que certamente poderíamos ter feito
diferente. Essas lições aprendidas, devem servir para não persistirmos no erro
a que a dimensão dos nossos egos o mais das vezes nos conduz.
Enquanto Chefe de Estado e garante da
estabilidade e do regular funcionamento das instituições, reafirmo o meu
compromisso e a minha inteira disponibilidade, pessoal e institucional, para
promover as diligências que possam conduzir a uma solução governativa sustentável.
Por acreditar ser possível criar
condições de estabilidade governativa no quadro da actual configuração e
dinâmica política parlamentar, não equaciono a hipótese de dissolver a
Assembleia Nacional Popular, uma vez que os custos desse acto seriam maiores
que quaisquer eventuais benefícios.
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
A visibilidade que despertamos ao mundo
deve beneficiar a nossa economia, mas também orgulhar os nossos concidadãos –
tanto os residentes, como os espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Para conseguirmos esse duplo benefício,
devemos ser capazes de vencer a afronta da pobreza e perder o complexo de sujar
as mãos.
É chegada a hora do combate à pobreza
sair do plano teórico e dos discursos, para se traduzir em acções concretas no
nosso quotidiano.
Pedir, pedir sempre, não dignifica
ninguém. Temos de começar a relacionar com o mundo na base de respeito e
igualdade, receber dos outros sim, mas, em contrapartida, dar algo em troca –
Somos merecedores de uma atenção especial sim, mas não temos que ser eternos
pedintes.
A natureza deu-nos tudo o que necessitamos
para atingir esse desiderato: clima propício, terra arável, recursos pesqueiros
e minerais, fauna e flora abundantes. Basta arregaçarmos as mangas, meter as
«Mãos Na Lama» e juntarmos a esses elementos naturais, uma cultura de trabalho
sério, determinação e força de vontade para nos libertarmos do permanente
estado de dependência económica e financeira externa.
Enquanto dependermos de terceiros até
para comer, nunca seremos verdadeiramente nem livres, nem dignos das nossas
condições naturais e da reafirmação no mundo como país soberano e independente,
respeitável no Concerto das Nações.
O nosso Governo deve ser capaz de
mobilizar toda a sociedade, em particular, as mulheres e os jovens, de modo a
garantirmos a auto-suficiência alimentar num curto espaço de tempo.
Por isso, mobilizemo-nos todos para, nos
próximos 365 dias, com «mão-na-lama», sermos capazes de produzir aquilo que
queremos consumir e não consumir apenas aquilo que nos é oferecido.
Lanço aqui um vibrante apelo e desafio a
todas as guineenses e a todos os guineenses para que, em 2016, produzamos na
Guiné-Bissau as 80 mil toneladas de arroz que importamos anualmente, evitando
assim a importação, que mais não é do que oferecer de bandeja as riquezas que
tanta falta fazem ao país e ao nosso povo.
Façamos de 2016 o ano de produção de
arroz!
Se aceitarmos este desafio – porque
estamos plenamente convencidos de estarmos a altura de o vencer, como prova a
grande produção de arroz realizada pelas nossas gloriosas forças armadas em
Bidinga Na Nhasse e em Fã Mandinga – a vida da nossa população, particularmente
das mulheres e dos jovens, conhecerá, seguramente, dias melhores.
Caros
Compatriotas,
A Guiné-Bissau, “Nossa Pátria Amada” –
uma dádiva dos nossos gloriosos Combatentes da Liberdade da Pátria – não é uma
ilha isolada do resto do mundo.
Estamos inseridos num mundo confrontado
com um fenómeno assustador, atentatório à liberdade e à segurança dos cidadãos
e que não conhece fronteiras: refiro-me ao terrorismo internacional, cujas
acções não deixam ninguém indiferente.
O terrorismo transformou-se numa ameaça
global que interpela a todos os cidadãos do mundo. Por isso, o terrorismo
merece uma resposta global, de todos os cidadãos do mundo.
Aproveito esta ocasião para manifestar a
minha solidariedade para com todas as vítimas desse flagelo, particularmente as
vitimas mais recentes – na Nigéria, em França, no Mali, no Niger, nos Camarões,
no Tchad e na Rússia – e assegurar ao mundo que a população e as Forças da
Defesa e Segurança da Guiné-Bissau estarão vigilantes e não permitirão que a
pátria de Amílcar Cabral e dos Combatentes da Liberdade da Pátria seja um
refúgio dos que cega e gratuitamente procuram causar mais dor e mais sofrimento
a inocentes, actos radicalmente contrários às liberdades, à dignidade e à vida
humana.
Caros
Irmãos e Irmãs Guineenses,
Tudo quanto sonhamos para nós e para os
nossos filhos ainda está ao nosso alcance.
Temos razões para acreditar que este Ano
que agora começa vai ser o ano do virar de página, o ano do reencontro entre
irmãos desavindos, para juntos conjugarmos esforços que permitam almejar
resultados com impacto positivo imediato no dia-a-dia e na vida das nossas
populações, particularmente as camadas mais vulneráveis, garantindo-lhes acesso
aos serviços sociais de base como a comida, a saúde e a educação.
Exige-se apenas de cada um de nós,
mulheres e homens guineenses, um esforço suplementar de vontade para pôr de
lado aquilo que nos divide, valorizar o que nos une e visar o nosso bem comum,
reforçar a credibilidade e a força das nossas instituições políticas e garantir
a unidade e a reconciliação nacionais.
É imbuído dessa confiança em nós mesmos
e no nosso futuro, que vos asseguro que sim, temos condições para vencer os
desafios que se nos apresentem no decurso do Novo Ano de 2016.
Um Feliz e Próspero Ano Novo a todos!
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e ao seu
povo!
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