Qualquer guineense, patriota e honesto,
é abalado pelo sentimento de vergonha perante o inexplicável populismo que
caracterizou a vinda da missão presidencial da CEDEAO ao país. Um autêntico
teatro com vigor e rigor. A estratégia infeliz da Presidência da República,
tristemente executada pelo ministro publicista do Interior, era de confundir a
opinião pública sobre o real objectivo da missão da CEDEAO a Guiné-Bissau.
O Presidente da República quis
transformar a referida viagem de mediação do profundo impasse político no país
para uma visita de Estado. Tudo foi feito para deturpar a verdadeira agenda dos
parceiros da CEDEAO numa altura em que o povo está frustrado e cansado.
Felizmente, apesar de muito barulho, muita publicidade, vários guineenses
criticaram abertamente a iniciativa populista da Presidência de mandar pessoas
sair às ruas.
O povo guineense não tem motivo para
receber em pompas e circunstâncias uma missão de mediação. O povo quer, sim, a
estabilidade política efectiva para, soberanamente, construir o seu merecido
futuro. O povo quer que os políticos sejam responsáveis perante os problemas
que o país enfrenta. O povo quer boas escolas, bons hospitais, estradas não
esburacadas. Este povo quer recuperar a sua dignidade há muito tempo perdida no
meio da incompetência e do oportunismo da classe política guineense que
cumulativamente deixou no país no abismo.
Perante um Estado ajoelhado,
instituições moribundas, o Presidente José Mário Vaz opta pela propaganda como
forma de desviar atenção dos menos atentos da verdadeira crise instalada há
mais de um ano. A solução não resultará, seguramente, dessas “brincadeiras de
mau gosto”. A verdadeira solução virá de uma nova atitude responsável dos
políticos, assumindo a postura de abandonar a lógica de mentira, ganância e
egoísmo. A nova atitude deve assentar-se na cultura de franqueza e honestidade
– alicerce para o início da solução política sustentável; sustentada pelo
comprometimento com o diálogo enquanto a única arma para consensos na
diversidade.
A classe política guineense deve mudar
de atitude sob pena de ser ultrapassada pelos contornos desta crise. A CEDEAO
não podia ficar indiferente de uma crise prolongada sem fim a vista. Reagiu e
bem. Não há ingerência alguma nesta iniciativa do bloco presidencial. Perante a
incapacidade gritante dos actores nacionais em encontrar uma solução interna,
um actor externo, a CEDEAO, devia intervir, sobretudo quando suporta. em
bilhões de francos CFA, o financiamento de um contingente no solo nacional. Tem
que se encontrar uma solução ao impasse através de um diálogo sério que conduza
a uma solução equilibrada de partilha do poder. Para nós, a melhor fórmula
seria a indigitação de uma figura independente credível para dirigir o governo
de inclusão com uma missão bem definida.
A fórmula discursiva política de dizer
“vamos mudar a página” está em desuso, talvez precisa-se “mudar de livro”. Pois,
é a hora de a classe política deste país compreender que a desordem tem limite,
a paciência tem fronteira. Não se pode continuar eternamente nesta brincadeira,
de roubo, de mentira. Em suma, o povo está farto de instabilidade, de corrupção
e ganância. O povo quer construir um país moderno e estável.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.