Jesus vive a paixão intensa de dar
visibilidade ao rosto de Deus Pai. Recorre aos meios facilitadores
indispensáveis: atitudes de proximidade e encontro com as pessoas, sobretudo
excluídas da sociedade e da religião oficial, estilos de comunicação como as parábolas,
as sentenças e os discursos, as caminhadas por cidades e aldeias, o “rebuliço”
da multidão, o convívio de amigos, a visita a famílias. Esta paixão sobrepõe-se
a tudo: ao descanso, ao alimento, às apreciações críticas, aos protestos
públicos. Mostra-nos assim a força do desejo, a determinação da vontade, a
persistência na decisão. Mostra-nos o projecto de que está incumbido e nos
deixa como legado de missão a realizar, aqui e agora, ao longo da história.
Jericó, cidade onde ocorre o encontro
com Zaqueu, fica no caminho de Jerusalém, é terra de muito comércio, sobretudo
de substâncias medicinais e aromáticas, dispõe de várias alfândegas onde os
vigilantes cobradores de impostos faziam sentir o peso da lei e, por vezes,
aproveitavam as oportunidades, sobrecarregando as pesadas taxas estabelecidas.
Cidade airosa, de palmeiras e luz, que faz respirar um ar “novo” aos peregrinos
que, em caravanas da Samaria e da Galileia, se dirigem para o Templo. Cidade
referência onde Jesus realiza importantes acções reveladoras da sua missão.
Lucas, hábil narrador do episódio, dá
enorme vivacidade a este encontro. O dinamismo da acção, é já boa nova de
salvação. A exuberância de Zaqueu é sinal da intensidade do desejo que inunda o
seu coração ainda “amarrado” pelo dinheiro. A definição do seu perfil de baixa
estatura contrasta com a grandeza do que pretende: ver/conhecer Jesus. E, dando
provas da sua criatividade, tira partido do momento “histórico”: observa o rumo
da multidão, descobre o caminho por onde Jesus iria passar, põe-se a correr
para escolher o melhor lugar, não hesita em subir a uma árvore – expondo-se ao
risco do ridículo -, esconde-se e aguarda pacientemente a hora feliz, vê-se
“apanhado” porque alguém o chama pelo nome e lhe manifesta um desejo surpreendente,
mas altamente compensatório: “Zaqueu, desce depressa, que Eu devo ficar em tua
causa”. Que “tsunami” lhe terá agitado o coração! A rapidez na descida, a
alegria incontida na recepção, a espontaneidade em abrir o coração, a generosa
partilha dos bens, a humilde confissão das fraudes cometidas são sinais
expressivos da transformação operada. O teste da autenticidade da mudança de
Zaqueu passa necessariamente pelo dinheiro, pela “conta bancária”, pela
carteira. Não aduz qualquer outra prova, nem devocional e religiosa, nem legal
ou familiar. E nem se importa com os protestos da multidão.
O Papa Francisco, ao regressar da
Polónia onde participou na Jornada Mundial dos Jovens, responde a uma pergunta
sobre o terrorismo no mundo, dizendo: Uma economia “que tem como centro, o deus
dinheiro e não a pessoa: eis o terrorismo fundamental contra toda a humanidade”.
Não se pode ser mais claro e taxativo. Bem fez Zaqueu que se libertou de todas
as violências, dando generosamente os seus bens, doando-se a si mesmo ao
Senhor.
Jesus não se deixa vencer em
generosidade. Nunca! O seu amor excede a grandeza do pecado humano. E declara o
alcance profundo do que havia acontecido: “Hoje entrou a salvação nesta casa…”.
Reafirma a dignidade de Zaqueu como filho de Abraão, herdeiro da promessa. E
desvenda o alcance do encontro de Jericó: “O Filho do homem – ele mesmo – veio
procurar e salvar o que estava perdido”. Eis a nossa riqueza, a nossa dita.
Como Zaqueu, recebe Jesus em tua casa. Com alegria.
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