Secretário-executivo da Comissão
Económica para África falou com a Rádio ONU em sua última semana no posto;
Lopes citou ainda a introdução da ideia da industrialização verde.
Outubro é último mês do guineense Carlos
Lopes como chefe da Comissão Económica para África, ECA. Ele foi nomeado para o
posto em 2012 pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
De Adis Abeba, Lopes fez à Rádio ONU um
breve balanço do período em que esteve à frente da Comissão.
Industrialização
verde
"Quando eu iniciei as minhas
funções nós demos uma prioridade absoluta ao que chamamos de transformação
estrutural com a introdução da política industrial como prioridade para o
continente, mobilização de recursos domésticos através de um ataque cerrado às
formas de tráfico ilícito de capitais, mas também, melhores negociações com as
matérias-primas, com a exploração de extractivos e também uma tentativa de
introduzir no debate africano uma outra forma de ver as questões meio ambientais,
posicionando-as como prioridades ao invés de problemas."
Em relação às mudanças climáticas, Lopes
citou a introdução da ideia da industrialização verde, "como uma forma dos
africanos tirarem partido do conjunto de medidas que estão a ser tomadas nessa
área".
Futuro
do continente
Ele falou ainda sobre suas expectativas
para o continente nos próximos anos.
"Eu acho que a África está neste
momento posicionada para entrar numa revolução industrial por causa do alto dos
preços de mão-de-obra na Ásia do Sudeste, por causa do fato de que cada vez
mais as políticas industriais fazem parte, digamos, do centro dos debates no
continente, mas também porque a capacidade de atrair investimentos está a
aumentar consideravelmente. Este ano é um ano relativamente mau em termos de
performance económica do continente e, no entanto, a evidência para o fluxo de
capitais em direcção ao continente não diminuiu."
Para Carlos Lopes, existe uma ideia de
que "as megas tendências são favoráveis a África" por causa da
demografia, do urbanismo e também por saltos tecnológicos.
Na entrevista, ele falou ainda sobre
seus planos. Lopes disse que vai trabalhar em "vários domínios
académicos" e vai ajudar na reforma da União Africana a pedido do
presidente Paul Kagame, do Ruanda, além de continuar ligado ao debate sobre
"como a agenda africana pode ser desenvolvida em torno das políticas de
industrialização". Ouvir aqui»
“É IMPORTANTE QUE OS AFRICANOS NÃO DEPENDAM DE IMPORTAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS”
ResponderEliminarO Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas e Secretário Executivo da Comissão Económica da ONU para a África concedeu entrevista ao Vanguarda.
Confira um excerto da entrevista concedida ao periódico.
Os fluxos financeiros ilícitos que saem de África alimentam também a corrupção, segundo o relatório Mbeki, mas há uma classe média em ascensão que espera muito dos políticos. Como se resolve este problema?
Há uma comissão para estudar os ilícitos financeiros em África, foi instituída pela União Africana e pela Comissão Económica de que o presidente Mbeki é o presidente e eu sou o vice-presidente. Agora, é muito importante que os africanos não dependam das matérias-primas. E é verdade que África já depende muito pouco das matérias-primas. Portanto, a parte relativa à indústria extractiva, por exemplo, é muito reduzida. Só que quando se trata de exportações, os africanos continuam gravemente dependentes de exportações de matérias-primas não processáveis, representando cerca de 60% das exportações do continente e estas estão sujeitas a uma grande volatilidade de preços e procura.
Como é que nós damos a volta a isso?
Primeiro, admitindo que a composição das exportações na economia de cada país, e logo na economia do conjunto do continente, não é tão importante como pode ser. Claro que na realidade é importante para os governos, porque eles vão buscar as suas fontes de renda e porque também fazem grandes esforços para lidar com o resto da economia.
E quando não lidam com o resto da economia, a maior parte desta economia, na qual eles não tratam, é informal. Nós temos que formalizar a economia real, onde se vai puxar a actividade económica, que neste momento está em franco crescimento, porque dois terços do crescimento africano vem da procura interna.
Mas isto tudo está a escapar aos aparelhos fiscais, porque ficam, entre aspas, na preguiça, a receber a renda das matérias-primas, e quando se trata da actividade económica dos seus países muitas vezes perdoam o pagamento de impostos aos grandes actores económicos do país, que muitas vezes são as mesmas empresas extractivas. Isto aqui é uma aberração, em que em vez de se baixar a economia real, fica-se a sugar do leite oferecido pelas exportações.