Nos últimos meses, a Guiné-Bissau tem
vivido situações atípicas que transformaram o país num dos mais ingovernáveis
do mundo.
Nenhum partido político vencedor das
eleições legislativas concluiu o seu mandato. Tudo porque o maior desporto dos
guineenses é matar ou fazer mal uns aos outros. Ninguém reconhece a
legitimidade e qualidade a ninguém. Mesmo aqueles que não sabem fazer nada na
vida, só porque falam muito alto nas costas da comunidade internacional que tem
pactuado com os senhores da fala barata para afundar o país, julgam que são os
únicos capazes de conduzir os destinos do país.
Todos querem o tacho. Claro. Por isso,
todos pretendem que o país seja sempre governado por um tal governo de
desacordo de Conacri onde todos podem meter a mão no “saco azul”, sem
responsabilidade.
Se o país estruturalmente vive bem com
um governo de desacordo de Conacri, então não vale a pena fazermos eleições
legislativas. Pois seria uma prova inequívoca de que somos capazes de chegar a
um desacordo de Conacri na escolha de quem dirige os nossos destinos políticos
e sociais sem celeuma.
O que prova também que poderíamos evitar
gastar dinheiro nas eleições legislativas. Pois a nossa maturidade política nos
permitiria escolher entre nós quem é capaz de dirigir os nossos destinos.
O governo de desacordo de Conacri é mais
para o inglês ver. Não passa de mais um malabarismo de um grupo de indivíduos
organizados que sempre julgaram e julgam que são “Chico Esperto” do país e só
eles é que podem governar a pátria de Cabral.
Não é possível, num país como o nosso,
formar um verdadeiro governo de desacordo de Conacri na amálgama da intriga,
onde o maior desporto dos homens é bater uns nos outros com todos os meios
possíveis: veneno, Djambacus e mouros.
Em suma, num país onde a competência
epistémica está fora dos elementos essenciais da estruturação da convivência
política, económica e social, é difícil alcançar verdadeiros consensos. Todos
os artefactos que podem ser considerados de unidade nacional são efémeros e o
seu desenlaço desemboca sempre nos casos atípicos como naqueles em que o país
viveu nos últimos meses.
A única solução para acabar com casos
atípicos na Guiné-Bissau é responsabilizarmos um grupo de pessoas honestas –
que na verdade são raras de encontrar – pela gestão dos destinos do nosso país.
Caso contrário, estamos a enganar uns aos outros com discurso semiotizado cujo
quadrado é desconhecido pela maioria da nossa população.
Na verdade, num país de traidores, nada
é verdade ou mentira. Tudo é conforme a cor dos óculos com que cada um está a
ver a nossa realidade. Ninguém sabe que a verdade é o que é, e continuará a ser
verdade mesmo que pensemos ao contrário.
Num país onde não se debate nada que
possa ser útil à vida social dos seus habitantes, é difícil falar em consenso e
na unidade nacional. Pois, a destribalização dos elementos da mentalidade
interna que reforçam a produção da consciência epistemológica nacional, estão
completamente atrofiados com álcool e gosto pelo dinheiro frio da intriga.
Na verdade é bom criar um fórum
estruturante para repensar epistemologicamente os vectores candentes que
permitam reiniciar uma nova dinâmica política e social para o desenvolvimento
da Guiné-Bissau.
Figurinos para formação de um governo de
inclusão andam por aí a solta e os exemplos não nos faltam. Podemos até copiar
os modelos em África. Mas, infelizmente, também não sabemos copiar. Sempre
copiamos mal os modelos estruturantes para o desenvolvimento da nossa
sociedade. Até quando!?
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