O Partido Africano da Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi, é e será para sempre um movimento de pessoas
com interesses distintos, com ideias de negócios políticos independentes. No seio
deste partido reinou, reina e reinará sempre contradições internas entre os
dirigentes da sua superestrutura. Ninguém, na Guiné-Bissau, pode vaticinar o
fim desta maldição da chegada de um novo líder sempre pela porta errada, que
tem vindo afetar gerações e gerações na liderança do PAIGC, desde a Luta Armada
da Libertação Nacional.
Se olharmos para os nossos
“retrovisores”, a caminhada política do PAIGC, desde a Luta Armada da
Libertação Nacional até hoje, não há dúvidas que ela está cheia de contradições
insanáveis que em alguns casos desembocaram em desaparecimentos físicos de companheiros
da caminhada sem justificação plausível. Poucos, para não dizer ninguém,
sobretudo a nova geração, sabem explicar as contradições internas desse partido.
A nova geração de cibercultura olha para o PAIGC com uma visão de optimismo
vazio de um rei da Luta da Libertação Nacional que vai vazio na democratização
do país, por ser um partido de permanentes contradições internas dos seus
dirigentes. Estes espelham visões, interesses distintos e ideias de negócios políticos
independentes da visão ideológica do seu fundador Amílcar Cabral.
É interessante procurarmos a verdade
nessas contradições internas do PAIGC que têm fustigado o nosso país desde Luta
Armada contra o jugo colonial. Ou melhor, os dirigentes do PAIGC devem explicar
de forma transparente a este povo martirizado as causas das suas contradições
internas. Durante a Luta Armada se dizia de boca cheia que o próprio Amílcar
Cabral não comungava as mesmas ideias com o Comandante Domingos Ramos. Com o
desaparecimento das duas figuras [Amílcar Cabral e Domingos Ramos], era Luís
Cabral que não se revia muito bem nas ideias de Osvaldo Vieira.
De contradições em contradições internas
chegou-se à independência. E como não há duas sem três, as contradições
internas do movimento da libertação agudizaram-se e desembocaram no assassinato
do então Primeiro-ministro Francisco Mendes (Chico Té) e de seguida foi o então
Presidente da República e a segunda figura do PAIGC, Luís Cabral, depois de
Aristides Pereira, que não dava ouvidos ao General [João Bernardo Vieira] Nino.
Isso conduziu ao primeiro golpe de Estado, a 14 de Novembro de 1980, levando o
General Nino Veira à liderança do PAIGC e da Presidência da República. Mas,
como se não bastasse, rapidamente o General Nino Veira colidiu contra um grupo
de oficiais balantas, militantes e simpatizantes do PAIGC que curiosamente o
apoiara quando afastou Luís Cabral da presidência. E não só, também a nível do
partido, o General Nino Veira colidiu contra as ideias do seu então Ministro
dos Negócios Estrangeiros e uma das figuras destacáveis do PAIGC na altura,
Victor Saúde Maria.
Enfim, quer no passado, quer no
presente, cada líder que chegue ao PAIGC, entra sempre pela porta errada, porta
de contradições internas. A sua comunicação política e estratégica nunca chega
em boas condições aos militantes e simpatizantes do partido. Não há nenhuma
garantia que no futuro, um líder chegue ao movimento libertador entrando pela
porta certa. Na verdade, o que ratifica realmente a teoria da chegada pela porta
errada e o optimismo vazio da ideologia de Amílcar Lopes Cabral foram as duas
revoltas internas que se verificaram no seio do PAIGC. A primeira foi a revolta
dos mais novos contra os mais velhos denominada “Grupo de 121 militantes”, que
exigiam a abertura interna do partido à democracia. A segunda foi a revolta dos
mais velhos contra os mais novos que estavam agrupados a volta do General Nino Veira,
conhecido como o conflito de 7 de Junho de 1998. Em suma, estas duas revoltas
testemunham a olhos de todos nós como o optimismo vazio fez o rei da Luta Armada
da Libertação Nacional andar agora pelado pela cidade de Bissau e no país em
geral.
A teoria da entrada pela Porta errada no
PAIGC tem contribuído muito na fustigação do Estado da Guiné-Bissau, em
qualquer comunicação estratégica das suas políticas públicas para poder
assumir, perante os cidadãos, os seus fins como Estado. Assim, não há
Segurança, não há Justiça distributiva nem promoção de bem-estar social. Por outras
palavras, mergulhou o país numa crise sem precedentes cuja saída não se advinha
ser fácil, enquanto reinar, no seio do movimento da libertação, um optimismo vazio
ideológico de Amílcar Cabral. Actualmente, no partido de Cabral, não se fala da
crítica e autocritica. Aliás, muitos dos princípios ideológicos de Amílcar
Cabral morreram devido às contradições internas que surgiram a chegada pela
porta errada dos seus novos líderes, com abertura política democrática.
Com a primeira vitória eleitoral, a
teoria da entrada pela porta errada voltou a esticar as suas pernas e os seus
braços no seio do PAIGC. Pois, o então Primeiro-ministro saído das eleições
legislativas, o Comandante Manuel Saturnino da Costa e também o Presidente da
primeira Assembleia Nacional Popular eleito, o politólogo Malam Bacai Sanhá,
ambas figuras de proa no PAIGC, colidiram contra o General Nino Vieira por
terem chegado às suas funções pela porta errada do PAIGC. Mas, as duas figuras se
abstraíram e deixaram para o General Nino Vieira o caminho aberto para fazer o que
ele bem entendesse com o Partido e o governo saído das primeiras eleições legislativas.
Mas, como o General Vieira Presidente do PAIGC tinha chegado à presidência
democrática pela porta errada e pelo optimismo vazio ideológica de Amílcar
Cabral, colidiu contra um dos seus colegas de armas, o General Ansumane Mané. O
que desencadeou a chamada revolta dos mais velhos contra os mais novos, aliados
das teses de optimismo vazio do General Nino Vieira.
A revolução dos mais velhos afastou o
General Nino Vieira do poder e remeteu-o ao exílio político em Portugal. Mas,
como sempre, o General regressou ao poder, outra vez pela porta errada, com o
apoio da maioria dos militantes e simpatizantes do PAIGC. Embora tenha sido
expulso do PAIGC, depois de se instalar no poder, o General Nino Vieira
alimentou outra vez as contradições internas no PAIGC, tendo colidido contra o
então Chefe do governo e Presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, acabando por
derrubar o governo do PAIGC que este chefiava. Por outro lado, com o
desaparecimento físico do General Nino Vieira, a teoria da chegada pela porta errada
e optimismo vazio ideológico não deixou de existir no movimento da libertação, porque
quando o politólogo Malam Bacai Sanhá chegou à presidência, também pela porta
errada do PAIGC, colidiu contra o seu Primeiro-ministro e Presidente do PAIGC Carlos
Gomes Júnior.
A história da chegada pela porta errada
sempre se repetiu no PAIGC. Também Domingos Simões Pereira chegou à liderança
do PAIGC pela porta errada e hoje está a braços com José Mário Vaz, que também
chegou à presidência pela porta errada do PAIGC, pois foi o candidato que o
próprio Domingos Simões Pereira apoiou, quem sabe, usando toda a força do
partido, a tal força que os seus militantes e simpatizantes dizem que se o
partido apoiar, mesmo que seja um gato, este será eleito Presidente da
República. O que os militantes e simpatizantes do PAIGC não tiveram antes em
consideração são as contradições internas do seu partido que fazem um novo
líder sempre entrar pela porta errada com um optimismo vazio da ideologia de Amílcar
Cabral.
Na tentativa de acabar com os interesses
distintos, as ideias de negócios políticos independentes e o optimismo vazio da
ideologia de Amílcar Cabral, Carlos Gomes Júnior introduziu no optimismo vazio
o timbre e marcas de dinheiro. Todavia, tal como o General Nino Vieira, Carlos
Gomes Júnior acabou por se desviar, um pouco, do eixo de colisão interna que
sustentava a teoria da chegada pela porta errada na liderança do PAIGC. Desviou-se
para a sociedade castrense e como era de esperar, o resultado foi mais um golpe
de Estado. Tudo porque Carlos Gomes Júnior também chegou à liderança do PAIGC pela
porta errada de contradições internas.
Em suma, nenhum dos novos líderes que
chegaram ao PAIGC escapou-se das contradições internas. Por exemplo, Domingos
Simões Pereira chegou com toda a força de “Terra Ranka”, mas não fugiu à regra
da chegada pela porta errada na liderança do PAIGC. Agora está a braços com as
contradições internas insanáveis do optimismo vazio da ideologia de Amílcar
Cabral.
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