O ministro da Justiça e Direitos Humanos
de Angola disse hoje que a visita da sua homóloga portuguesa, Francisca Van
Dunem, foi cancelada por não haver condições para a sua realização, mas espera
que possa realizar-se noutra data.
Rui Mangueira falava aos jornalistas em
Luanda à margem da aprovação, na generalidade, na Assembleia Nacional, da
proposta de Lei do Código Penal angolano.
"Não há questões a avançar, foi
feito um convite à senhora ministra da Justiça de Portugal para visitar Angola,
no âmbito das relações de cooperação bilateral e específicas, no caso da
justiça, e uma vez que não existem condições para a realização dessa visita,
transferimos para uma outra altura e esperemos que essa visita se venha a
realizar em breve", referiu.
Embora questionado pelos jornalistas, o
governante angolano escusou-se a acrescentar qualquer outra informação sobre o
assunto.
A visita da ministra da Justiça
portuguesa, Francisca Van Dunem, a Angola, que deveria começar nesta
quarta-feira, foi adiada sine die, anunciou em comunicado o Ministério da
Justiça portuguesa.
Os motivos do adiamento da visita não
foram revelados, mas esta situação acontece dias depois de o vice-presidente de
Angola, Manuel Vicente, ter sido acusado de corrupção activa e de branqueamento
de capitais pelo Ministério Público português no âmbito da Operação Fizz.
Meios diplomáticos contactados sublinham
que, mais uma vez, na actuação das autoridades de Luanda, está presente a
convicção de que o Governo português controla o Ministério Público, facto que
sabem não ser possível.
“Há em Angola quem pretenda um mal-estar
recorrente com as autoridades de Lisboa”, afirma um conhecedor das relações
entre os dois países. “Há angolanos que não se reconciliam com a normalidade
entre Angola e Portugal, e preferem, sempre, a tensão”, afirma.
Assim, a manutenção deste clima de
mal-estar e de gestos ostensivos é alimentada com objectivos de política
interna. Tem sido sempre assim, recorda o mesmo perito, e os que pensavam que a
não candidatura de Manuel Vicente a sucessor do Presidente José Eduardo dos
Santos iria “suavizar” a situação enganaram-se.
A confirmação da visita de Francisca van
Dunem a Angola havia sido feita a 10 de Fevereiro, também em Luanda, pelo chefe
da diplomacia portuguesa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos
Silva, tendo ficado agendadas reuniões com membros do Governo angolano e
responsáveis do sistema judicial. Van Dunem, que nasceu em Luanda em 1955,
devia também participar num fórum sobre os serviços de justiça na capital
angolana.
Ontem, o chefe da diplomacia portuguesa,
Augusto Santos Silva, garantiu que "não confunde" política externa
com poder judicial. Isto pelo facto de o cancelamento da visita, a pedido de
Luanda, ter acontecido poucos dias depois de o Ministério Público português ter
processado o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente.
Até ao momento, nenhum elemento da
cúpula do Governo angolano em Luanda ou do Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA, no poder) comentou esta acusação. De Luanda surgiram apenas hoje
estas declarações de Rui Mangueira, mas apenas a propósito da visita
diplomática que não se realizou.
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