Jesus quer mostrar a urgência de fazer
opções sábias e a tempo. Recorre, segundo a versão de Mateus, a três parábolas,
acessíveis aos discípulos: a do tesouro escondido no campo; a da pérola
preciosa; e a da escolha do peixe apanhado na pesca. Depois de as narrar,
pergunta-lhes: “Entendestes tudo isto?” “Entendemos”, respondem, sem hesitar. A
comunicação havia resultado em cheio. Que alegria para todos. Nem os discípulos
pedem mais explicações, nem Jesus sente necessidade de as dar. Mas acrescenta:
“Todo o escriba instruído sobre ”.
O comentário esclarecedor de Jesus
valoriza a sabedoria do pai de família que conserva “o novo e o velho” do seu
património, a liberdade de dispor dos bens guardados e o horizonte aberto a que
os destina à luz dos critérios provindos do reino dos Céus, do Evangelho que ia
sendo anunciado. É a sabedoria que brilha na oração de Salomão, após a sua
coroação de rei, sendo ainda jovem. Um sonho descreve esta atitude primeira.
“Dai, Senhor, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso
povo, para saber distinguir o bem do mal”. E a oração do jovem rei agradou ao
Senhor que lhe concede o que havia pedido e ainda mais. Que encanto de oração
para o nosso tempo tão necessitado da sabedoria que sabe discernir a fim de
tomar decisões acertadas e a tempo. Que realismo de compreensão do que está em
causa: o bem do povo e a necessidade de bem servir. Que abertura a Deus que
sempre quer o melhor para todos, em todos os tempos; sempre “concorre em tudo
para o bem daqueles que O amam” como garante Paulo na carta aos cristãos de
Roma, hoje proclamada na celebração.
A liberdade de tomar decisões e dispor
dos bens está clara nas parábolas do tesouro e da pérola preciosa. Com efeito,
quem as encontra quer possuí-las, ainda que para isso tenha de vender tudo
quanto tem. Atitude corajosa. Mas quem deseja sinceramente arrisca. E o
protagonista das parábolas foi ousado e confiante. A opção pelo bem maior
“falava” mais alto. Não se pôs a fazer conjecturas, nem se deixou alarmar por
infundadas suposições. Do género: E se o dono do campo não o quer vender ou o
da pérola não pretende aliená-la? Ou, se entretanto, sou assaltado ou mudam “as
regras do jogo”?... Confiante, ousa e alcança. Que belo exemplo para tempos,
como os nossos, em que a liberdade de tomar decisões sábias parece estar
francamente ausente em muitos âmbitos onde a vida humana corre perigo, e a
saúde e a educação estão raquíticas e enviesadas.
O horizonte aberto ao uso dos bens é
iluminado pelo reino dos Céus, pelo Evangelho de Jesus, pelo magistério da
Igreja e pelo pensamento social de homens e mulheres, amigos da humanidade. O
Papa Francisco tem-se feito intérprete fiel dos critérios que surgem nestas
correntes da história, não apenas do ocidente, mas universal; não somente da Europa,
mas de outros continentes. A arca dos bens é património da humanidade e não
apenas de quem teve acesso ao desenvolvimento material que a revolução
industrial despoletou e fez avançar, muitas vezes à custa de medidas desumanas,
de exploração e fraude. Tendo a situação mundial como horizonte e olhando com
amor compassivo a legião de famintos e o bem estar de minorias afortunadas,
como não reclamar por uma nova economia, uma outra cultura, uma nova ordem
internacional, já proclamada por Paulo VI na sua encíclica sobre “O
Desenvolvimento dos Povos”, em 1967? Ao ver o ritmo do avançar na história,
facilmente se reconhece s sua lentidão para a maioria e a obstrução deliberada
para quem se apoderou do que é comum.
O tesouro e a pérola, diz José M.
Castillo, expressam “o que mais enche os humanos” e exemplifica: “um âmbito e
um ambiente humano de respeito, tolerância, estima, carinho e segurança, em que
damos e recebemos felicidade, com a convicção de que isso é ( e será) para
sempre. Só isso pode significar o que, tal como somos humanos, Jesus oferece e
afirma”.
A sabedoria toma o rosto do pescador
que, tendo a rede cheia de peixes, a puxa para terra, se senta e escolhe
pacientemente os bons dos maus. Imagem persuasiva e bela que nos lança um
desafio constante: Sei parar para discernir o que está na rede da minha vida?
Advirto na qualidade do que ando a fazer com as minhas atitudes? Estou a
construir um futuro promissor, ancorado nos valores do Reino, ou a satisfazer
necessidades efémeras, ainda que legítimas? Um dia brilhará o alcance das
minhas escolhas. Sem qualquer dúvida.
O Papa Francisco ao comentar a passagem
do evangelho de hoje, afirma: “Quem encontra o Reino de Deus não tem dúvidas,
sente que é isso mesmo que buscava, que esperava, que responde às suas
aspirações mais autênticas. E é verdadeiramente assim: quem conhece Jesus, quem
o encontra pessoalmente, fica fascinado, atraído por tanta bondade, tanta
verdade, tanta beleza, e tudo numa grande humildade e simplicidade. Buscar
Jesus, encontrar Jesus: este é o grande tesouro”.
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