São os professores responsáveis pela planificação e coordenação no sistema do ensino guineense? Qual é a causa da acumulação de dívidas para com os docentes na Guiné-Bissau? Porque os professores são descontados no final de cada greve e os deputados “imunes” depois de três anos sem trabalhar? São mais guineenses que os professores?Quem é responsável pela existência de professores “fantasmas”? O senhor Primeiro-ministro acredita que as greves são as causas do descalabro do ensino guineense ou são antes de tudo, uma consequência da falência da falhada elite dirigente nacional? O Primeiro-ministro podia explicar a razão pela qual os seus filhos sempre estudaram no estrangeiro, em França, no Senegal e nos Estados Unidos? A procura da qualidade que estaria na base dessa escolha, porque no país de Cabral só reina a banalidade? Qual é a razão de a remuneração do professor e médico guineenses ser uma das piores do mundo enquanto os políticos deste país compram viaturas de 30, 40 e 50 milhões de francos CFA, a custa do erário público?
As repetidas declarações infelizes do
Primeiro-ministro, Aristides Gomes, qualificando de selvagens as greves dos
sindicatos de professores, constituem um autêntico desnorte da parte de quem se
reclama do estatuto do intelectual. O fracasso do sistema educativo guineense é
a marca indelével da incapacidade e inércia dos sucessivos dirigentes da
Guiné-Bissau que nunca elegeram a educação como prioridade. É aí que reside o
fundo da questão. Um país sem prioridades, sem foco na educação, não é
surpreendente que dirigentes políticos, de forma populista, inundem o espaço
público com diagnósticos vazios e avaliações levianas, a semelhança das
recentes tentativas do actual chefe do governo em querer imputar a
responsabilidade do falhanço no sector do ensino às greves de professores.
Aristides Gomes (Canchungo, de etnia manjaca, 8 de Novembro de 1954) é um político da Guiné-Bissau, alto dirigente do PAIGC, foi primeiro-ministro de seu país de 2 de Novembro de 2005 a 13 de Abril de 2007 e novamente desde 16 de Abril de 2018.Aristides Gomes é licenciado em Sociologia na Universidade de Paris VIII. Foi director-geral da Televisão Experimental da Guiné-Bissau (1990-1992) e ministro do Planeamento e Cooperação Internacional durante o governo de João Bernardo Vieira-Nino.
Ao invés de humildemente promover um
diálogo sério sobre a possibilidade de se encontrar uma solução mínima e
parcial ao crónico quadro educativo, tendo em conta a conjuntura, o chefe do
executivo preferiu a lógica de extremismo e diabolização para com a classe
professoral. Aliás, já havia qualificado de selvagens as reivindicações da
União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) antes de compreender que tinha
colocado o pé na lama e começar um diálogo sério.
Infelizmente, continua a repetir os
erros de palmatória a semelhança do anterior ministro do Comércio, Victor
Mandinga, que num acto de demagogia e propaganda política, quis carregar o
pesado fardo de anarquia do sistema educativo aos professores, ao ponto de os
chamar de incompetentes, advogando a sua substituição por estrangeiros.
Caricato, senão uma aberração sintomática!
Quem define a visão e a política para o sector
educativo, se é que existe realmente! São os professores responsáveis pela
planificação e coordenação no sistema do ensino guineense? Qual é a causa da
acumulação de dívidas para com os docentes na Guiné-Bissau? Porque os
professores são descontados no final de cada greve e os deputados “imunes”
depois de três anos sem trabalhar? São mais guineenses que os professores?
Quem é responsável pela existência de
professores “fantasmas”? O senhor Primeiro-ministro acredita que as greves são
as causas do descalabro do ensino guineense ou são antes de tudo, uma
consequência da falência da falhada elite dirigente nacional? O
Primeiro-ministro podia explicar a razão pela qual os seus filhos sempre
estudaram no estrangeiro, em França, no Senegal e nos Estados Unidos? A procura
da qualidade que estaria na base dessa escolha, porque no país de Cabral só reina
a banalidade? Qual é a razão de a remuneração do professor e médico guineenses
ser uma das piores do mundo enquanto os políticos deste país compram viaturas
de 30, 40 e 50 milhões de francos CFA, a custa do erário público?
Sem excluir totalmente a responsabilidade
dos professores no presente quadro sombrio do ensino nacional que, em
diferentes ocasiões, são penetrados e influenciados pelas agendas politiqueiras
visando interesses obscuros. Este é um fato. Mas também indissociável está a
infeliz estratégia mais profunda do político guineense em manter o professor na
dependência e através disso vedar os cidadãos de terem acesso aos conhecimentos
e serem donos do seu destino. É o que justifica igualmente a permanência do
fenómeno de “bolsas” para estrangeiro ao invés de um investimento robusto sério
localmente através de construção de infra-estruturas modernas (universidade
pública de raiz, escolas politécnicas e academias de excelência).
Neste desgraçado sistema, só teria
acesso ao ensino de qualidade os filhos dos que roubam ao Estado. A igualdade
de oportunidades não passa de um simples slogan eleitoralista visando a enganar
aos menos atentos e aos adormecidos da miséria imposta.
A crónica situação actual da educação,
resultado de desgoverno em detrimento do amadorismo, precisa de um remédio que
necessariamente passará pela ruptura com o actual paradigma de indiferença,
ausência de visão e de prioridades. Essa mudança de direcção só será possível
quando a liderança política for encarnada por pessoas que atribuem à educação o
seu justo valor, de instrumento transformador da sociedade. Com Odemocrata
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