Autor de imagem: Intelectuais Balantas Na Diáspora |
A teoria das elites surgiu no final do
século 19 tendo como fundador o filósofo e pensador político italiano, Gaetano
Mosca (1858-1941). Em seu livro "Elementi di Scienza Política"
(1896), Mosca estabeleceu os pressupostos do elitismo ao salientar que em toda
sociedade, seja ela arcaica, antiga ou moderna, existe sempre uma minoria que é
detentora do poder em detrimento de uma maioria que dele está privado.
Os poderes econômicos, ideológicos e
políticos são igualmente importantes, mas em seus escritos Mosca deu ênfase à
força política das elites. O restrito grupo de pessoas que a detém também pode
ser denominado de classe dirigente.
De acordo com esta teoria as sociedades
estão divididas entre dois grupos: os governantes e os governados. Os
governantes são menos numerosos, monopolizam o poder e impõem sua vontade
valendo-se de métodos legítimos ou arbitrários e violentos ao restante da
sociedade.
Governantes
e governados
O
conceito de divisão do poder entre governantes e governados, porém, não é algo
novo e consta nos escritos de muitos filósofos e pensadores antigos e modernos
(Maquiavel, Montesquieu, Karl Marx, entre outros).
Entretanto, a originalidade da teoria das
elites formulada por Mosca, advém da preocupação em explicar que a classe
dirigente (ou seja, os governantes) constitui uma minoria detentora do poder
pelo fato de serem mais organizados.
Desse modo, seja por afinidade de
interesses ou por outros motivos, os membros da classe dirigente constituem um
grupo homogêneo e solidário entre si, em contraposição aos membros mais
numerosos da sociedade, que se encontram divididos, desarticulados e consequentemente,
desorganizados.
Importante enfatizar também que, segundo o
estudo realizado por Mosca, a dominação política exercida por um grupo minoritário
dentro da sociedade pode ser presenciada em qualquer sistema de governo:
ditadura ou democracia.
Desigualdades
sociais
Depois que Gaetano Mosca formulou a teoria
das elites, outros pensadores sociais empregaram o termo "elite" de
maneira diversa, dando origem a novos conceitos e teorias. No campo das
ciências sociais, por exemplo, o estudo das elites políticas beneficiou o
desenvolvimento da ciência política.
Neste aspecto, devemos considerar os
estudos do economista e sociólogo, Vilfredo Pareto (1848-1923), que publicou
dois estudos importantes: "Manual de Economia Política" (1906) e
"Tratado de Sociologia Geral" (1916). No "Tratado de Sociologia
Geral", Pareto se preocupou com o estudo da interação social entre as
diversas classes de elites, cujas mais importantes, segundo ele, são: as elites
políticas e as elites econômicas.
O mais importante destaque do estudo é o
processo de decadência das elites, observado por Pareto, ou seja,
historicamente as elites lutam entre si e se sucedem umas às outras no
exercício da dominação política.
Pareto também chama a atenção para o fato
de que, em qualquer sociedade, os homens são desiguais. As desigualdades entre
os indivíduos contribuem diretamente para o surgimento das elites.
Pareto tinha convicção na superioridade
das elites econômicas e políticas porque acreditava que as desigualdades
sociais faziam parte da "ordem natural" das coisas. Devido à sua
intransigente defesa da dominação das elites, e também por ser um crítico
contumaz de qualquer forma de regime socialista, Pareto é apontado como o
ideólogo precursor do fascismo. Não obstante, ele nunca aderiu formalmente ao
regime fascista italiano.
Oligarquias
partidárias
Os estudos de Mosca e Pareto serviram de
base para formulação de novas teorias das elites. Dentro deste campo de
pesquisa, cabe destacar o estudo do sociólogo alemão Robert Michels
(1876-1936), "Partidos Políticos: um Estudo Sociológico das Tendências
Oligárquicas da Democracia Contemporânea" (1912). Neste estudo, Michels
analisou a dinâmica inerente à política democrática a partir da observação dos
partidos políticos de massa.
Com base em evidências empíricas
demonstrou que mesmo dentro das organizações partidárias que funcionam num
sistema político democrático, há fortes tendências à elitização, ou seja,
concentração de poder num grupo restrito de pessoas. Michels chamou essa
tendência à elitização de "lei de ferro das oligarquias".
A maior contribuição da teoria das elites
formulada por Michels se refere ao fato, inusitado e paradoxal, de que a
elitização ocorre até mesmo no interior das organizações comprometidas com os
princípios de igualdade e democracia, ou seja, os partidos políticos de massa.
O conceito de elitização e "lei de
ferro das oligarquias" também pode ser aplicado aos sindicatos,
corporações e grandes organizações sociais. Uma organização, partido político
ou movimento social podem surgir em decorrência de verdadeiros objetivos
igualitários e democráticos, porém, com o passar do tempo, a tendência à
elitização ou oligarquização se manifesta.
Outras
definições.
Fora do campo dos estudos acadêmicos o
termo "elite" é usado para se referir aos grupos hierarquicamente
superiores dentro de uma organização burocrática; o exemplo mais comum é a
referência às certas unidades militares dentro das Forças Armadas.
Também é comum denominar de elite os
grupos que estão situados em posições sociais superiores como acontece com as
classes sociais, detentoras de poder econômico. Outras referências genéricas
são aplicadas às organizações burocráticas e empresariais.
Por: Renato
Cancian, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais
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