“Um representante do Estado que, em vez de proteger e conservar os bens de domínio público, aliena-os com o fim de serem destruídos para a satisfação de outros interesses que não os do povo, não é um Estadista, mas sim um criminoso!
Um povo que deixa criminosos cometerem crimes contra os bens de domínio público sem os travarem, é um povo condenado a viver das migalhas dos seus criminosos com capa de Estadistas”- Jorge Herbert
De início encarei o tema N’Batonha com superficialidade e brincadeira com as já mais que conhecidas manobras do PAIGC para a manipulação da opinião pública, no entanto, como guineense, interessou-me olhar para o assunto com mais pormenor, seriedade e expor o meu ponto de vista, que até ultrapassa a questão N’Batonha.
Desengane-se
o guineense que julgar que a evidente politização e dicotomização da recente
questão N’Batonha tem a ver com os interesses dos guineenses e da Guiné-Bissau!
N’Batonha
foi utilizado por uns “abutres” do pais com capa de políticos e ONG’s “sem fins
lucrativos”, para conseguirem um avultado financiamento da UE e do Instituto
Camões, que deveria servir para a transformação dessa zona num parque tipo botânico,
no coração de Bissau… O motivo pelo qual foi pedido e conseguido tal
financiamento, é claramente de interesse nacional, pese embora haja ignorantes
que hoje queiram separar o interesse ambiental do nacional! Pesquisando e
lendo, pelo menos um estudo efetuado sobre esse espaço/lago, não deixa dúvidas
que esse espaço é de elevado interesse ambiental e nacional, devendo as
espécies que lá frequentam de forma sazonal serem protegidas e, contrariamente
ao que tenho lido nalguns comentários, são na sua grande maioria espécies
autóctones/residentes… Qualquer cidade que queira abraçar o desenvolvimento
equilibrado, deve saber proteger a sua fauna e flora e não agredi-las e
extingui-las.
No
entanto, os ativistas/supostos ambientalistas que hoje vociferam contra a
construção de um centro islâmico no local, nada fizeram antes para melhorar as
condições de acessibilidade e utilização desse espaço. Limitaram-se a angariar
os fundos e dar-lhe o destino que mais lhes interessava e não propriamente
aquilo pelo qual foi conseguido o financiamento! Curiosamente, até atribuíram
ao local o nome de PELN (Parque Europa Lagoa N’Batonha), em plena África,
apenas para agradar os financiadores! É óbvio que todas essas manobras hoje
contribui para retirar-lhes a autoridade da defesa do parque!
Por
outro lado, temos os abutres que hoje povoam o poder guineense e que não vêm
meios nem fins para angariar financiamentos, que garanta os próprios bem-estar,
tudo sob a batuta de um Presidente da República que deu mostras de sobra de que
não está minimamente preparado para o cargo, quando se trata de dirigir os
destinos do país em moldes de um Estado de Direito democrático. O mais grave é
que só um tolo não se apercebe da sua vontade de se prolongar no poder, estando
desde já a preparar caminho para a efetivação desse prolongamento no poder,
espezinhando a Constituição da República e o próprio Estado de Direito
democrático… Conforme costumo dizer, até com a escravatura e a colonização,
tivemos sempre guineenses a colaborar com essas agressões, apenas para a
resolução dos seus problemas pessoais, contra os próprios interesses nacionais,
assim como hoje, temos guineenses a colaborar com o evidente abuso do poder e
um péssimo dirigismo do país, por um Presidente que aparentemente interessa-lhe
mais o poder que o pais…
O
Presidente da República descobriu a fórmula para o domínio do país de forma
prolongada e há, neste momento, muitos potenciais vítimas desse desígnio, a
colaborar com ele, apenas para obter ganhos imediatos, sem se aperceber que no
futuro poderão ser vítimas… Dizia eu que o Presidente da República descobriu a
fórmula e só consegue escondê-la de mentes menos atentas! Sabe que as duas
maiores etnias da Guiné-Bissau são os Balantas e os Fulas e que em termos
absolutos, essas duas etnias perfazem pouco mais dre 50% da população
guineense. Os primeiros predominam nas Forças Armadas, fruto da sua
representação na luta de libertação nacional, por isso, garantir o bem-estar da
classe castrense é satisfazer uma boa fatia da população Balanta, apesar de
conhecer muitos Balantas formados e informados que não pactuam com essa
submissão da classe castrense à um Presidente da República que pode até
constituir um perigo à unidade do nosso mosaico cultural... Dizia eu que o
Presidente da República sabe que garantindo o bem-estar da classe castrense,
minimiza muito o risco de sublevação militar e garante a satisfação de uma das
tribos maioritária do país. Por outro lado, vai cumprindo com o seu principal
desígnio que é a forte islamização da sociedade guineense, com o alto
patrocínio dos movimentos islâmicos regionais, satisfazendo por isso, cerca de
45% da população guineense que pratica o islão… Nada tenho contra a esse
desígnio, desde que não seja com agressões dos valores que a sociedade guineense
tem perseguido e preservado desde a independência, que são essencialmente a
convivência pacífica do nosso mosaico étnico, sem domínio de um sobre os outros
e a proteção da nossa fauna e flora. É claramente nesse contexto de agradar a
corrente islâmica nacional e regional que nasce esse projeto da construção de
um Centro Islâmico no coração de Bissau, atropelando INTERESSES NACIONAIS,
porque a nossa Avifauna faz parte do nosso património e só quem tem uma visão
muito limitada do que é uma nação/Estado, agride-a em vez de protegê-la…
A
pior exibição de ignorância que tenho visto por parte de algumas figuras
envolvidas nessa discussão politizada e com carga étnica e religiosa, é a
ridícula dicotomização dos destinos do Lago N’Batonha: “ou constrói-se um complexo
que servirá o país ou N’Batonha é remetido ao abandono”, assumindo desde já
clara incompetência ou até ignorância dos governantes em dar a esse local um
digno destino que sempre se pretendeu e pelo qual já houve financiamento…
Também
pergunto: porque é a insistência em construir esse tal complexo especificamente
nesse espaço?! A cidade de Bissau não tem mais terrenos disponíveis?!
Segundo
nos foi dito, quem financia a obra desse complexo é uma ONGD sem fins
lucrativos! Se é uma ONGD sem fins lucrativos, os guineenses têm o direito de
saber onde e como eles vão buscar o financiamento para a tal construção?
Porque
é que ao tal Complexo já é atribuído o nome de um Imã turco falecido em Junho
de 2022 e considerado apenas um dos muçulmanos mais influentes do mundo?! A
Guiné-Bissau não tem Heróis Nacionais, mesmo muçulmanos, que poderiam ser
honrados com a atribuição dos seus nomes nesse espaço?!
Segundo
o Presidente da República, o complexo terá médicos especialistas de
Oftalmologia a Medicina Interna! Pergunto, em que modalidades? Para servir toda
a população guineense e em regime público ou privado, ou apenas para servir
alguns ilustres muçulmanos?!
Concluo
este texto dizendo que, na minha óptica, é por demais evidente que a construção
desse Complexo Islâmico nada mais é que uma negociata do Presidente da
República, semelhante à história da aeronave estacionada no aeroporto, em nome
da Guiné-Bissau e do seu povo, apenas para cumprir a agenda dos seus
financiadores islâmicos e dessa forma tentar prolongar-se no poder…
É
chegada a hora dos guineenses dizerem um “BASTA” a este perigoso Presidente da
República, se não querem vir chorar amanhã por não termos reagido à tempo… A
Guiné-Bissau é e será para todos os seus filhos, independentemente da etnia,
religião ou cor da pele… A nossa flora e fauna deve ser protegido, contra
qualquer outros interesses de grupos ou religiosos… Isso já ultrapassou a
questão ambiental e é do interesse nacional fazer perceber a este presidente
que só é dono e senhor do país, se os guineenses quiserem e deixarem…
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