Inclusão
exclusiva!
Se os dois
PAIGCês - o PAIGC do governo e o PAIGC do parlamento - não se mostrarem capazes
de se entender sobre o caminho que o partido deve trilhar, então, pode crer o
leitor que o “diálogo necessário” será um diálogo altamente improvável, quase
impossível. Segundo tudo leva a crer, para o PAIGC parlamentar esse
PAIGC do governo não é propriamente o PAIGC merecedor de sua confiança
política, uma vez que, do seu ponto de vista, esses quadros do PAIGC que estão
no Governo deveriam ser excluídos, isto é, afastados e substituídos por
outros quadros do PAIGC mais puros. Para o PAIGC-parlamentar a única luta
(pela Guiné-Bissau e pela democracia) é essa disputa renhida pelos lugares - na
mesa do parlamento e no governo - nada mais. Parece incrível, mas é isso
mesmo.
Custa assim tanto ao PAIGC-parlamentar homologar ex
post o PAIGC- governamental como sua
parte (parte do mesmo partido) no governo de Transição e, desse
modo, viabilizar o funcionamento do
parlamento -, custa-lhe assim tanto fazer um tal “sacrifício” para normalizar
o processo de normalização política, normalizar
o retorno progressivo à ordem
constitucional, evitar derrapagens de consequências imprevisíveis na Transição
-, assumindo, e muito bem, que uma tal política
de transição seria útil para todos,
incluindo obviamente para o próprio PAIGC que nada perderia com isso
antes pelo contrário? Como é que ainda não perceberam isso? Se o
PAIGC-parlamentar não fôr capaz de confiar nos seus camaradas do PAIGC
que estão no Governo de Transição, na presente conjuntura política em que a
palavra-chave é exactamente a confiança, pergunta-se, quem vai poder
(também) confiar nesse PAIGC parlamentar? Quem vai acreditar que esse
PAIGC parlamentar não continua até hoje a mando do primeiro-ministro deposto,
quem? Não me parece ser bom caminho essa coisa de querer incluir-se (o PAIGC
parlamentar) mediante a exclusão dos outros (do PAIGC do governo).
Diálogo não é brincadeira
Dialogar não é apenas falar, falar, falar, sem um
compromisso partilhado para dialogicamente (cooperativamente) buscar
resultados consensuais, o que é bem diferente de se arrastar num
“dialogar” sem fim à vista, sem resultados, do tipo de “dialogar por dialogar”.
Apesar dos discursos que apelam ao diálogo, a verdade é que o diálogo tarda a
arrancar, os guineenses começam a ficar cansados, a fadiga cresce, a esperança
vai se perdendo pouco a pouco. As pessoas até já perguntam : afinal serve para
quê esse parlamento que temos? Servem para quê esses (tantos) Deputados da
Nação? Chegar a esse ponto de fazer tais perguntas não é propriamente um bom
sinal e, pior ainda, pode ser um mau sinal, um mau augúrio, um sinal de fadiga
como já frisei.
Escutem o filósofo, por favor
Peço que, por uns breves momentos, se deixem guiar por
um filósofo ainda vivo, talvez o mais notável dos filósofos do século XX, o
alemão Jurgen Habermas. O que ele nos vai dizer logo a seguir não é
propriamente algo que particularmente nos diga respeito, pois duvido da legitimidade de extrapolar,
sem mais nem menos, suas lições sobre a “ética da discussão” para o contexto
político guineense de hoje em dia. Em todo o caso, podemos sempre aprender mais qualquer coisa com as palavras de um sábio se soubermos
escutá-lo com atenção e abertura de espírito. O filósofo do “agir comunicativo”
refere-se ao “conteúdo normativo das pressuposições da argumentação” da maneira
como se segue :
(a) Inclusividade: nenhuma pessoa capaz de dar uma contribuição relevante pode
ser excluída da participação;
(b) Distribuição simétrica das liberdades comunicativas: todos devem ter a mesma
chance de fazer contribuições.
(c) Condição de franqueza: o que é dito pelos participantes
tem de coincidir com o que pensam.
(d) Ausência de constrangimentos externos ou que residem no
interior da estrutura da comunicação: os posicionamentos na forma de “sim” ou “não” dos
participantes quanto a pretensões de validade, criticáveis, têm de ser
motivados pela força de convicção de argumentos convincentes.”
Quem é que, ouvindo esses conselhos tão sábios, não
sentiu que eles soam aos seus ouvidos quase como se fossem imperativos,
exactamente como “pressupostos inevitáveis” para um debate sério, construtivo,
realmente republicano, quem é que não sentiu isso? Se valeu alguma coisa ter
trazido até aos leitores do Nô Pintcha passagens de um pensador tão ilustre
como Habermas, então, eu acredito que aprendemos com o pensador, e, assumido
isso, poderemos certamente criar um
ambiente mais adequado ao diálogo político guineense, insisto, se formos
capazes de respeitar aqueles pressupostos éticos de uma discussão a sério tal
como ele (Jurgen Habermas) no-los ensinou.
Autoridade moral
Na noite de 1 de Novembro, vi na TV o presidente da
República de Transição e gostei de o ter visto assim a promover um diálogo
“inclusivo”, passe o pleonasmo, incluindo participantes institucionais aparentemente
certos, ou seja, reunindo partes que parecem ser indispensáveis para
desatar o nó (“pâ dismantchâno situaçon” em bom crioulo) : o PAIGC e o
PRS, tendo como observador uma representação do Estado Maior General das Forças
Armadas.
Ainda assim, do meu ponto de vista, sente-se a falta
de uma representação, digamos assim, da “autoridade moral”, e que, se for
convidada para a mesa do diálogo,
preencheria ali o papel de observador atento (com direito a palavra, e
que sempre poderia discretamente aconselhar), representação essa que teria a
vantagem de não ser parte politicamente interessada, devendo, por isso mesmo, guiar-se pelos interesses
superiores do Estado e não por interesses político-partidários de uns ou de
outros.
Mas não basta reunir os sujeitos “indispensáveis” à
volta de uma mesa, uma vez que, além
disso, eles tem de querer trabalhar juntos, saber trabalhar juntos, fazer
reciprocamente as cedências que forem necessárias para viabilizar a transição
política. Temos de perguntar : os partidos com assento parlamentar - principalmente o PAIGC e o PRS - vão conseguir
pôr-se à altura do desafio político de serem responsáveis qualificados da
Transição Política? O que acha o leitor disso?
Tristeza
Do encontro atrás referido, que decorreu sob o alto
patrocínio do Presidente da República, já transpirou para o exterior a
lamentável imagem de que as delegações dos dois principais partidos
parlamentares (PAIGC e PRS) nem sequer conseguiram estabelecer uma agenda
mínima para começar a trabalhar a sério - seis meses depois do 12 de
Abril! Bastou, aliás, ouvir as
declarações dos dois chefes de delegação proferidas à saída do referido
encontro - eles disseram coisas diametralmente opostas -, para o mais optimista dos observadores
começar a perder esperança. Nem conseguiram “combinar” acerca do conteúdo e o
tom a que ambos deveriam transmitir aos guineenses (na comunicação social) de
modo a não desanimar uns e outros, de modo a mostrar a todos aqueles que nos
observam que a Guiné-Bissau ainda tem partidos políticos dedicados, ainda tem
quadros políticos competentes, infelizmente, nada disso conseguiram passar para
a sociedade, antes pelo contrário. É muito triste.
Delfim da Silva
Lá vem, outra vez, os discursos falaciosos, tendenciosos, com intuito de aparecer, de ser visto e ganhar CARGO no governo, para depois se silenciar. Delfim da Silva, por favor, fique quieto com esse seu discurso bipolar, de criar tensão no seio do P.A.I.G.C, que, concomitantemente, transbordará no corpo dos próprios guineenses. Que negócio é este? P.A.I.G.C do governo e o P.A.I.G.C do parlamento? Olha, vá de vagar, caso queira se encaixar no sistema governamental e, deixe de tagarelar ou criar desconfiança entre os camaradas. Creio que todo guineense ficaria feliz, se o discurso fosse do outro jeito, ou seja, em defesa ao bem-estar da Guiné-Bissau. Esse ponto de vista seu, em certos momentos, até pode ser tomado em consideração, mas, embutido de intenções pessoais, não vale. Em particular, eu ficaria muito bem, vendo o senhor exercendo a função da docência.
ResponderEliminarMarcelo Aratum
Delfim é um homem muito atento. Gostei
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