Bissau - A ilha de
Orango, na Guiné-Bissau, tem hipopótamos únicos no mundo e que
"salvam" vidas. Por causa deles, a ilha tem uma lancha rápida para
levar doentes e escolas e centros de saúde arranjados e a funcionar.
Os hipopótamos de
Orango vivem em água doce e água salgada.
Especialistas dizem que
há outros locais no mundo onde estes animais vivem nos dois habitats mas que é
só em Orango, no arquipélago dos Bijagós, que há hipopótamos exclusivamente de
água salgada.
Os hipopótamos
vivem e circulam por várias ilhas, mas é em Orango que se junta a maior
comunidade, ainda que não se saiba ao certo quantos. Mas sabe-se que Orango tem
um hotel onde os lucros revertem para melhorias na ilha, com o envolvimento e
aplauso da comunidade.
Belmiro Lopes é guia em
Orango e diz que no ano passado contaram-se cerca de 200 hipopótamos.
Os hipopótamos
"todo o dia ficam aqui na água doce e à noite vão para a água salgada
porque aqui na água doce há um bicho que se mete na pele.
Na água salgada ficam
lá uma ou duas horas, o bicho morre e eles vão comer, depois voltam para a água
doce", conta à Lusa, a escassos metros de algumas dezenas de hipopótamos,
meio escondidos numa lagoa de água doce.
Pierre Campredon,
conselheiro técnico da União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN), explica à Lusa que os hipopótamos da Guiné-Bissau (hippopotamus
amphibius, nome científico) não são diferentes em termos de espécie (hipopótamo
comum) mas sim em termos ecológicos. A espécie (comum) está na lista vermelha
do IUCN.
Não fizemos a
análise do património genético mas pensamos que é uma evolução. Porque os
Bijagós, há milhares de anos, era uma zona de delta de dois rios, o arquipélago
era uma zona de água doce e pouco a pouco foi-se tornando marítima, dando tempo
aos hipopótamos para se adaptarem", explica à Lusa.
Hoje, os
hipopótamos dos Bijagós precisam de água doce para beber, mas muitos deles
vivem permanentemente na água salgada, o que os faz únicos no mundo.
Há dias estávamos
na ilha de Unhocomozinho e vimos chegar um (vindo do mar). As pessoas
fizeram-no fugir e ele foi visto depois na ilha de Unhocomo", conta Pierre
Campredon.
O especialista confirma
que a maior parte dos hipopótamos dos Bijagós está em Orango, classificada como
Parque Nacional, e diz que já existiram noutras ilhas, como em Formosa,
Caravela ou Bubaque, admitindo que em Orango não cheguem aos 200 referidos por
Belmiro Lopes.
Segundo Aissa Regala,
coordenadora do Seguimento das Espécies e dos Habitats, do Instituto da
Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau, em Janeiro será
iniciada em Orango uma nova contagem de hipopótamos.
A espécie vive também
em rios e lagoas do continente, lembra, acrescentando que na zona de Cacheu (norte)
vão ser vedados campos de arroz por causa dos animais.
Em Orango a proteção
das bolanhas (campos de arroz) com cercas elétricas para evitar a intrusão dos
hipopótamos foi um sucesso e a produção "quase duplicou", de acordo
com Pierre Campredon.
Se é certo, como
lembra Belmiro Lopes, que o hipopótamo é um "animal emblemático", que
surge nas pinturas e nas danças dos Bijagós, se é certo que no ano passado
quase mil pessoas visitaram a ilha para ver os animais, é certo também que
esses mesmos animais destruíam os campos de arroz, provocando a ira das
populações.
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.