segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mia Couto é o novo Prémio Camões

"Há quem acredite que a ciência é um instrumento para governarmos o mundo. Mas eu preferia ver no conhecimento científico um meio para alcançarmos não domínios mas harmonias. Criarmos linguagens de partilha com os outros, incluindo os seres que acreditamos não terem linguagem. Entendermos e partilharmos a língua das árvores, os silenciosos códigos das pedras e dos astros. Conhecermos não para sermos donos. Mas para sermos mais companheiros das criaturas vivas e não vivas com quem partilharmos este universo. Para escutarmos histórias que nos são, em todo o momento, contadas por essas criatura."

Mia Couto, escritor moçambicano, é o novo Prémio Camões. A escolha foi anunciada, esta segunda-feira, a partir do Rio de Janeiro, Brasil. Depois de José Craveirinha, em 1991, o autor de “Terra Sonâmbula” é o segundo escritor de Moçambique a ser distinguido.

O júri justificou a distinção de Mia Couto tendo em conta a “vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”, segundo disse à agência Lusa José Carlos Vasconcelos, um dos jurados.

Do júri fizeram também parte, do lado de Portugal, a professora Clara Crabbé Rocha, os brasileiros Alcir Pécora (crítico e professor), Alberto da Costa e Silva (embaixador e historiador), o moçambicano João Paulo Borges Coelho (escritor e professor) e o escritor angolano José Eduardo Agualusa.

Em declaração à Lusa, Mia Couto disse-se "surpreendido e muito feliz". “Recebi a notícia há meia hora, num telefonema que me fizeram do Brasil. Logo hoje, que é um daqueles dias em que a gente pensa: vou jantar, vou deitar-me e quero me apagar do mundo. De repente, apareceu esta chamada telefónica e, obviamente, fiquei muito feliz”, comentou.

Nascido em 1955, na Beira, Mia Couto começou por estudar medicina, abraçando depois o jornalismo. É em 1986 que surge o seu primeiro livro de crónicas, Vozes Anoitecidas. Mas é com o romance, Terra Sonâmbula (1992), que Couto manifesta os primeiros sinais de “desobediência” ao padrão da língua portuguesa, criando fórmulas vocabulares inspiradas da língua oral que irão marcar a sua escrita e impor o seu estilo muito próprio.

Seguem-se outros mais romances, A Varanda do Frangipani (1996), Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra (2002), O Outro Pé da Sereia (2006), Jesusalém (2009), ou A Confissão da Leoa (2012).

Paralelamente aos romances, Mia Couto continuou a escrever e a editar crónicas e poesia – “Eu sou da poesia”, justificou, numa referência às suas origens literárias. Na sua carreira, foi também acumulando distinções, como os prémios Vergílio Ferreira (1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação Gulbenkian (2001), União Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo Lourenço (2012).

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