"Há quem acredite que a ciência é um
instrumento para governarmos o mundo. Mas eu preferia ver no
conhecimento científico um meio para alcançarmos não domínios mas
harmonias. Criarmos linguagens de partilha com os outros, incluindo os
seres que acreditamos não terem linguagem. Entendermos e partilharmos a
língua das árvores, os silenciosos códigos das pedras e dos astros.
Conhecermos não para sermos donos. Mas para sermos mais companheiros das
criaturas vivas e não vivas com quem partilharmos este universo. Para
escutarmos histórias que nos são, em todo o momento, contadas por essas
criatura."
Mia Couto, escritor moçambicano, é o novo Prémio Camões. A escolha foi anunciada, esta segunda-feira, a partir do Rio de Janeiro, Brasil. Depois de José Craveirinha, em 1991, o autor de “Terra Sonâmbula” é o segundo escritor de Moçambique a ser distinguido.
Mia Couto, escritor moçambicano, é o novo Prémio Camões. A escolha foi anunciada, esta segunda-feira, a partir do Rio de Janeiro, Brasil. Depois de José Craveirinha, em 1991, o autor de “Terra Sonâmbula” é o segundo escritor de Moçambique a ser distinguido.
O júri justificou a distinção de Mia Couto tendo em conta a “vasta
obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda
humanidade”, segundo disse à agência Lusa José Carlos Vasconcelos, um
dos jurados.
Do júri fizeram também parte, do lado de
Portugal, a professora Clara Crabbé Rocha, os brasileiros Alcir Pécora
(crítico e professor), Alberto da Costa e Silva (embaixador e
historiador), o moçambicano João Paulo Borges Coelho (escritor e
professor) e o escritor angolano José Eduardo Agualusa.
Em declaração à Lusa, Mia Couto disse-se
"surpreendido e muito feliz". “Recebi a notícia há meia hora, num
telefonema que me fizeram do Brasil. Logo hoje, que é um daqueles dias
em que a gente pensa: vou jantar, vou deitar-me e quero me apagar do
mundo. De repente, apareceu esta chamada telefónica e, obviamente,
fiquei muito feliz”, comentou.
Nascido em 1955, na Beira, Mia Couto
começou por estudar medicina, abraçando depois o jornalismo. É em 1986
que surge o seu primeiro livro de crónicas, Vozes Anoitecidas. Mas é com
o romance, Terra Sonâmbula (1992), que Couto manifesta os primeiros
sinais de “desobediência” ao padrão da língua portuguesa, criando
fórmulas vocabulares inspiradas da língua oral que irão marcar a sua
escrita e impor o seu estilo muito próprio.
Seguem-se outros mais romances, A
Varanda do Frangipani (1996), Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada
Terra (2002), O Outro Pé da Sereia (2006), Jesusalém (2009), ou A
Confissão da Leoa (2012).
Paralelamente aos romances, Mia Couto
continuou a escrever e a editar crónicas e poesia – “Eu sou da poesia”,
justificou, numa referência às suas origens literárias. Na sua carreira,
foi também acumulando distinções, como os prémios Vergílio Ferreira
(1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação Gulbenkian (2001),
União Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo Lourenço
(2012).
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