Meus irmãos guineenses, hoje há muitos
políticos na nossa Pátria que a primeira vista é um bom sinal por serem
políticos, mas sem saberem qual é a origem do Estado, nem a sua finalidade e as
formas de governá-lo. Por isso, vamos refletir um pouco sobre os fatores que
estiveram na origem do Estado, a finalidade pelo qual o Estado tende como a
causa final e as formas que cada Estado possa adotar para o melhor funcionamento das suas instituições. O mau
funcionamento destas formas tem como consequências; degenerações em outros
regimes aos quais chamamos autoritários ou totalitários. Ao engendrarmos diante
dos nossos olhos o Estado, ao construirmo-lo a partir dos elementos simples,
abstratos “ o homem”, leva-nos a perceber a sua natureza e descobrir o lugar, e
o papel da justiça no Estado. Só nos interessa falar da origem do Estado e a
sua finalidade nesta reflexão.
A
origem do Estado
Segundo Platão “o que origina uma Cidade,
isto é, o Estado diz Sócrates, a incapacidade em que cada indivíduo se encontra
de se bastar a si próprio, e a necessidade que tem de uma quantidade de
coisas”. Notemos que na origem da Cidade encontra-se a necessidade, e o facto,
da entreajuda dos seus membros. Não é, portanto, o temor, tal como pretendia a
teoria hobbesiana do contrato social que Glauco nos tinha esboçado, é a solidariedade que é o laço social mais
primitivo e mais profundo entre os cidadãos de um Estado. Por isso, a
Cidade não é uma reunião de indivíduos, mas sim a unidade real, um organismo
com a sua constituição, a sua estrutura.
De ponto de vista Aristotélica, afirmava
que o homem é um “ser social”. Na sua opinião, sem a sociedade à nossa volta
não somos verdadeiros homens. Para Ele, “homem
não é apenas indivíduo” humano, mas, antes de mais, “comunidade humana”. Segundo Aristóteles, a origem do Estado tem com
como componente inicial a família ou casa (oikos) com as relações entre marido
e esposa, pais e filhos, senhores e escravos. A sua finalidade é satisfazer as
carências elementares quotidianas. A aldeia (kome) resulta da reunião de várias
famílias ou casas; é regida por modelos derivados do poder paterno e satisfaz
carências mais complexas. A Cidade, em fim resulta da união de várias aldeias,
e é comunidade superior que constitui o fim por natureza (physis telos estin)
para qual tendem as anteriores associações; carateriza-se pela auto-suficiência
(autarkheia). A Cidade ou Estado possui um poder político e já não paternal
cuja natureza visa libertar o indivíduo dos modos deficientes e incompletos de
associação. Por isso, afirma Aristóteles que “o homem é, por natureza, um ser vivo político.”
A descrição da origem do Estado que estes
dois grandes filósofos nos deixaram, não é muito diferente de formas como Estados
actuais são constituídos. Agora passamos para a finalidade do Estado como a
comunidade mais abrangente de todas famílias, as tribos, onde adversidades
formam um todo sem aniquilar as diferenças que existem entre os seus membros.
A finalidade do Estado
A partida, a finalidade do Estado consiste
na realização do bem comum. Segundo Platão, é necessário sabermos o quê é o bem
em si. Quem ignora tudo isso, ele, por si, não o sabe. Isto quer dizer que,
para realização do bem comum é necessárias que haja as pessoas ou uma que saiba
o que é o bem. A este, cabe a tarefa de reformar o Estado. O que será um bem
tanto para o próprio Estado como para a pessoa. Assim o saber já não basta, é
preciso também o poder. A reforma do Estado deve começar de baixo não de cima.
Para que esta reforma se torne possível, é tão importante dirigir a educação da
juventude, a seleção e a formação da elite, a escolha e a preparação dos
futuros dirigentes do Estado.
É fácil ver que reforma do Estado não é
fácil para o sábio a quem incumbe fazê-lo, é, damo-nos conta disso, muito mais
difícil realizar este desígnio. Se esta reforma for de cima para baixo, nunca
pode ter uma ação política direta ou imediata. O mal já era demasiado profundo.
A corrupção, demasiado avançada. Não se podia agir sobre os homens já feitos,
já pervertidos pelo Estado injusto, pela educação que tinham recebido. É necessário
começar pelas crianças. A reforma do Estado é reforma política e moral, isto
implica uma reforma da educação. Por isso, antes de reformar o Estado, é
preciso começar por formar os seus futuros cidadãos. Na Guiné fala-se muito da
reforma, pergunto eu: que tipo de reforma? A reforma que é necessário na Guiné
é reforma do ensino, porque é aí que virão a sair os futuros governantes.
Platão imagina um Estado que é organizado
exatamente como um homem. Assim como o corpo possui “cabeça”, “peito” e
“abdómen”, o Estado possui governantes, soldados e os comerciantes no qual
pertencem os artesãos e camponeses. Assim como um homem são e harmonioso
apresenta equilíbrio e temperança, aquilo que carateriza um Estado justo é o
facto de cada um conhecer o seu lugar no todo. Tal como a cabeça dirige o
corpo, são os sábios que têm de governar a sociedade. Infelizmente não é isso
que acontece na Guiné, são os que não sabem governar a si mesmos que governam.
Viva Guiné-Bissau!
VIVA DEMOCRACIA!
Que deus abençoe a Guiné-Bissau e o seu
povo!
Nota:
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