PGR queixou-se da demora dos processos
tributários. Conselho pediu celeridade mas avisa que tem poucos juízes para
tantas acções.
A troca de correspondência entre a
Procuradora Geral da República e o Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais (CSTAF) confirma uma realidade: os tribunais
tributários estão a rebentar pelas costuras e não conseguem dar resposta aos
processos. Cada juiz tem em média 657 processos.A situação de demora chegou a
tal ponto que Joana Marques Vidal queixou-se ao CSTAF do tempo
"excessivo" que aqueles tribunais levam a decidir, o que prejudica o
Ministério Público que vê os inquéritos-crime parados.
É que o regime Geral das Infracções
Tributárias (RGIT) impõe a suspensão do inquérito penal por indícios de fraude
fiscal sempre que o contribuinte sob suspeita impugne a dívida num tribunal
fiscal. Até que exista uma sentença transitada em julgado os investigadores
nada podem fazer, ou seja, nem acusar, nem arquivar o processo-crime. Acontece
que as pendências nos tribunais tributários são tão elevadas - como confirma o
próprio CSTAF - que os processos chegam a demorar anos.
Perante este cenário, a PGR queixou-se
ao Conselho Superior que gere estes tribunais e este organismo tomou uma
deliberação a recomendar a todos os juízes que "adoptem as necessárias
providências no sentido de se alcançar uma decisão o mais célere possível nestes
processos". Uma recomendação que pode não ter pernas para andar porque o
próprio CSTAF, na mesma deliberação, a que o Económico teve acesso, reconhece
que há "falta de magistrados e funcionários nos tribunais administrativos
e fiscais (TAF), em particular nos de 1ª instância", e que, em média, cada
juiz tem 657 processos ou até mais no caso dos TAF de Almada, Braga, Porto e no
tributário de Lisboa.
Num parecer recente, o Conselho Superior
pedia à ministra o reforço do quadro de magistrados, considerando que o Valor
de Referência Processual ideal, isto é o número de processos por juiz, seria de
130 na jurisdição administrativa e 203 na tributária. Para tal o número de
magistrados teria de aumentar (nalguns tribunais quase o dobro). O Conselho
garante que, com o actual volume de processos, os tribunais administrativos são
"incapazes de dar resposta em tempo útil ao volume de serviço que lhes foi
imposto". O CSTAF avisa que o que está em causa é a eficácia da justiça e
tutela jurisdicional dos direitos dos cidadãos. Contactado pelo Económico, o
Ministério da Justiça não deu resposta até ao fecho desta edição.
Na deliberação tomada este mês, o CSTAF
não esclarece quais as providências que os juízes devem adoptar para dar
resposta à reclamação de Joana Marques Vidal. Até porque o próprio Regime Geral
das Infracções Tributárias já diz que um processo fiscal tem de ser tratado
como prioritário sempre que der origem à suspensão de um inquérito. "Esta
suspensão é um efeito-perverso das pendências", reagiu ao Económico o
advogado Leonardo Scolari.
Redistribuição
urgente
A falta de meios humanos nos TAF e as
elevadas pendências são um problema que há muito se arrasta, sobretudo ao nível
tributário (a taxa de congestão processual no tributário é de 290%). De tal forma
que, em 2011, no âmbito do programa de resgate, a ‘troika' ordenou que o
Governo criasse ‘task forces' para dar resposta aos processos fiscais acima de
um milhão de euros. Depois de ano e meio de trabalho, as equipas conseguiram
baixar (levemente) o número de processos parados mas o valor da dívida empatada
aumentou - já está nos sete mil milhões de euros - porque a agressividade da
máquina fiscal em tempo de crise fez aumentar a litigiosidade. Já no que toca a
todos os processos, as pendências subiram quase 10%.
Paula Teixeira da Cruz prometeu que 2014
ia ser o ano da Justiça Administrativa. Alterou todos os códigos e anunciou o
reforço do quadro de magistrados, mas nem uma, nem outra medida estão no
terreno. Noutra deliberação, o CSTAF admite que "a elevada pendência
processual (...) afecta de forma grave o interesse público" e recomenda
aos juízes que comecem já a fazer uma redistribuição de processos, "na
medida do possível por consenso" entre eles, sendo dada "prioridade
aos mais antigos e de maior grau de complexidade". O caso da licenciatura
de Relvas é um dos que se arrasta há mais de um ano sem haver decisão. A juíza
encarregue da instrução justificou ao DE, precisamente, com o excesso de
processos. Com o Económico
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