Por, Braima Fal Kamara
É a voz daqueles (as) que lutaram pelos dois povos;
É a voz do arrependimento no silêncio irrecuperável, perante uma vida perdida;É a voz de revolta sem músculos, sem folego para erguer o sofrimento;É a voz daqueles (as) que vivem dia a dia nos hospitais entre a vida e a morte;É a voz daqueles (as) que ficaram nas matas de Gadamael, Ganturé,Gandjambarri, Guiledji, Kafin, Komo, Kopá, Kubusseck , Madina Boé, Sanconha,Tite, Tchurbrick, e únal…. etc
É voz da recordação de camaradas que ficaram pelo caminho;É a voz daqueles (as) inocentes mortos pelas balas perdidas;
Do combate ao desespero, do
reconhecimento ao desperdício de uma luta sem tréguas com nome daqueles que
deram a vida e juventude pela causa da independência, que hoje é o motivo de
reconhecimento politico ou como motivo de elevação para certos fins (conquistas
politicas versus promoção na careira)
O reconhecimento, fictício que põe em
causa a licitude de quem é verdadeiro combatente e, de quem é filho de
combatente que teve oportunidade de estar nas matas (barracas), porque os seus
pais combatiam ao lado de movimento libertador. É a altura de dissipar todas as
dúvidas. Finalmente quem é combatente?
1º É aquele que teve oportunidade de
lidar com a guerrilha, pelo facto dos seus pais estarem a combater a favor da
independência, mas com a idade que não permite a sua participação em quaisquer
tipos de apoio na luta.
2º É aquele que estava na escola criada
pelo partido libertador, que nunca apoiou em quaisquer acto de luta, que teve
como objectivo estudar, ou que se encontrava na escola em Konacri.
3º É aquele que ingressou nas fileiras
do braço armado do PAIGC no fim da luta ou;
4º São todos aqueles que se encontravam
nas zonas ocupadas pelo PAIGC.
Numa logica de ver as coisas, o
verdadeiro combatente, depois de quarenta e um anos (41) de independência, com
a luta armada que durou onze anos (11) e de uma forma mais ou menos aproximada,
para participar de forma activa leva a pensar a idade mínima de 14 anos para
uma contribuição eficaz e útil. Nesta logica, nesta altura, todos os
combatentes devem ter idade da reforma.
Falta de organização do próprio
movimento de libertação leva os combatentes a uma situação lastimável. Não há
registo de números de efectivos que estavam a lutar ao lado do PAIGC, isso
provoca situações que fazem com que até hoje os verdadeiros combatentes não
possam ser reconhecidos. O método utilizado para reconhecimento dos combatentes
não é dos melhores (testemunha), isso significa que, se todos aqueles que
fizeram parte da sua zona de combate faleceram, pode tornar difícil o seu
reconhecido como combatente. Numa situação de quase impossível reconhecimento
dos combatentes sobrevivos, que no meu entendimento podia ser mais simples se
existisse registos dos combatentes de acordo com a sua entrada na fileira e
frente de combate.
É de salientar que na impossibilidade de
identificar quem participou de forma activa na luta, no nosso entendimento
devem ser considerados combatentes todos aqueles que se encontravam na zona
ocupada pelo PAIGC e que contribuíram de forma directa ou indirecta para causa
da independência e sem esquecer que temos uma outra formação política que
combatia para mesma causa (FLING) e que também os seus militantes merecem
reconhecimento. Também aqueles que sem serem militantes dos dois partidos mas
contestaram a presença dos colonialistas.
Passados 41 anos, não é possível saber
por parte de movimento da libertação e de governo da G-Bissau e C-Verde quantas
pessoas perderam a vida na frente de combate e nem aqueles que por motivos de
um familiar seu pertencer o movimento foi levado e nunca mas voltou. Acho que é
hora de fazer balanço de quanto custou a nossa luta pela independência da
G-Bissau e C-Verde.
A Melhor maneira de reconhecer
combatente é criar memória daqueles que ficaram pelo caminho e que não é
lembrado e a publicação da lista de quantos ficaram pelo caminho que não
tiveram oportunidade de presenciar o tão almejado sonho da Independência e, a
partilha da responsabilidade por ambos os Estados (G-Bissau e C-Verde). Nesta
altura, onde constatamos alta discrepância na responsabilidade dos Estados para
com aqueles que combateram num país para libertação de dois Estados.
A unidade tem de prevalecer e, o sentido
de responsabilidade e da boa-fé tem de continuar patente em ambos os Estados, é
com base na unidade e luta que a G-Bissau e C-Verde fizeram luta conjunta, no
nosso entendimento ainda é oportuno recuperar o mesmo slogan no sentido de
partilha da responsabilidade entre G-Bissau e cabo-Verde, o governo de C-Verde
deve pensar a forma de constar no seu orçamento geral de Estado (OGE) a fatia
daqueles que contribuíram para a libertação daquela Nação. Hoje a maior parte
deles se encontra numa situação muito lamentável. É a obrigação de ambos os
Estados reconhecer aqueles que combateram e que neste momento se encontram na
terceira idade, para que a última fase das suas vidas seja de orgulho e não de
arrependimento.
A luta levada a cabo pelo PAIGC em nome
da liberdade é o símbolo do mais puro pan- Africanismo, por isso, Cabo Verde
tem de tomar em consideração esta situação e pensar qual a maneira de ser mais
grato com os combatentes.
E o Estado deve ter o papel activo no
reconhecimento daqueles que por questões de democracia e liberdade de escolha
optaram por combater ao lado da antiga potência colonial, que nesta altura
encontra as suas sortes nas terras da G-Bissau. A mais ínfima responsabilidade
que um Estado poderá ter para com o seu povo que trabalhou no Estado terceiro
é, exigir o reconhecimento através do pagamento das reformas.
Nota:
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