Um olhar atento às disputas que têm
abalado a Guiné-Bissau ao longo da sua trajetória (in)dependentista permite
constatar, sem margem para interpretações, a vulnerabilidade espiritual associada
à falência ética e moral dos principais protagonistas em competição. Em autêntica
indústria de mediocridade, mentira e culto de facilitismo, a política nacional
gira em torno destes três vícios capitais que, ao longo de quatro décadas, destruíram
o fundamento do nosso Estado e dividiram de que maneira o embrião unitário da
nação guineense.
O primeiro pecado que cresce
exponencialmente e sobre o qual enterrou-se totalmente o sonho de um Estado
soberano, moderno e organizado, é a mediocridade. Este vírus consumiu tudo e
todos. Institucionalizou-se nas subconsciências e tornou-se a regra do
dia-a-dia dos guineenses, em particular dos políticos. Desde o partido com
menos expressão política à mais alta instituição do Estado, a mediocridade é
preferível em detrimento da meritocracia. O resultado de todo esse vazio
organizacional é de um país amputado e sem alma. Como sair deste túnel? Como
recolocar a ordem, a responsabilização, a cultura de prestação de contas no
centro da acção pública? Como defendeu o pastor negro Americano, Martin Luther King,
pouco tempo antes do seu trágico assassinato – “revolução de valores se impõe!”
Uma República erguida só é possível com valores éticos sustentados por uma profunda
convicção de que “governar é servir os outros”. Um governante é um servidor
público!
O segundo maior pecado capital de sempre
da classe política é a mentira. Mentir e saber mentir ao povo é ingrediente
indispensável para angariar popularidade. O respeito pela palavra que devia ser
alavanca da acção política, esvaziou-se no meio da luta pelo enrequecimento
ilícito. A mentira tornou-se um recurso chave da conquista do bem-estar pessoal
e familiar em detrimento da prosperidade colectiva. Agredido pela corrupção de
palavras, o Estado guineense resume-se ao limite do papel! Os seus
representantes são simples acólitos de “mensonge” guiados por um oportunismo
cego. A grande maioria da população não sente o perfume de Estado. Apesar desta
triste realidade, a classe política, em deriva, confia no seu capital de manipulação
através da renovação de discursos de mentira!
O terceiro pecado multiplicador é o
culto de facilitismo. A classe política e dirigente revelou-se incrivelmente
incapaz de resolver os problemas básicos e resta-lhe apenas receber, em acto
público, um certidão de incompetência em nome de desmandos que cometeu e
continua a cometer. Conduziu o povo à descrença colectiva, inverteu a pirâmide
e semeou o facilitismo em quase todas as cabeças. É socialmente partilhada hoje
a ideia segunda a qual é possível ter “boa vida” sem mérito e sem investimento no
trabalho. Instalou-se o princípio de “ninguém é ninguém”. Ser governante é enriquecer-se
a todo custo.
Ausência total de controlo, de
responsabilização. Pelo menos aí está o único e grande mérito da nossa
vergonhosa classe política! Com Odemocrata
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