sexta-feira, 16 de junho de 2017

Guiné-Bissau e Amílcar Cabral: A luta pela libertação não é apenas um fato cultural mas também um factor de cultura

Quando a dominação colonial se impõe dentro duma terra a primeira preocupação dessa dominação é barrar o caminho à cultura desse povo. Por isso mesmo consideramos (e isso verificou-se, por exemplo, no processo de desenvolvimento de nacionalismo em África, quando se começaram a cultivar poemas e danças africanas para contestar a cultura do país dominador) que o nosso povo, ao pegar em armas para se bater pela sua libertação, estava em primeiro lugar manifestando a sua recusa em aceitar uma cultura estrangeira. Portanto, essa luta é necessariamente um ato cultural, ato cultural que implica essa conclusão, demonstração clara de que temos uma história nossa na qual fomos retirados pelo colonialismo, e estamos decididos a continuar essa história

Um homem novo nasce na nossa terra, e se tiver ocasião de falar com as nossas crianças poderá ver que as crianças das nossas escolas têm já uma consciência política, patriótica e que querem lutar pela independência do seu país. Uma consciência que faz com que se entendam uns com os outros, um sentimento de unidade nacional e de unidade no plano africano

(...) o povo não luta por ideias, por coisas que estão na cabeça dos homens. O povo luta e aceita os sacrifícios exigidos pela luta, mas para obter vantagens materiais para poder viver em paz e melhor, para ver sua vida progredir e para garantir o futuro de seus filhos. Libertação nacional, luta contra o colonialismo, construção da paz e do progresso - independência - tudo isso são coisas vazias e sem significado para o povo, se não se traduzem por uma real melhoria das condições de vida - Amilcar Lopes Cabral

Em um mundo polarizado, em plena "guerra fria", e em um continente repleto de lutas por liberdade, armadas ou não, a autoproclamada, em 24 de Setembro de 1973, República da Guiné-Bissau seria, nas palavras de Amílcar Cabral, uma "nação africana forjada na luta" contra o colonialismo português. Situada na costa ocidental da África, entre o Senegal, ao norte, e a Guiné-Conacri, ao sul, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a Guiné-Bissau teria actualmente cerca de um milhão e meio de habitantes, pertencentes a diversos grupos étnicos: balantas, fulas, manjacos, mandingas, papéis, cada qual com sua língua e cultura própria, e dos quais aproximadamente 42,4% seriam alfabetizados. A obtenção de dados censitários confiáveis sobre a Guiné-Bissau actualmente está bastante difícil, pois a luta pela construção de uma sociedade democrática ainda está em curso naquele país.

Durante cerca de 700 anos, até meados do século XIX, a região que compreende o território da actual Guiné-Bissau fazia parte do reino mandinga de Kaabu, tributário do Império do Mali, que foi "fundado pelo lendário guerreiro mandinga, Sundiata Keita, no século XIII". Segundo Peter Mendy, até então a influência política do reino de Kaabu se estendia a leste até a região de Casamance, no actual Senegal, ao norte até a actual Gâmbia e ao sul até partes da actual Guiné-Conacri. Na segunda metade do século XIX, ocorreu a desintegração do reino, em função de uma crise política interna e da intensificação da pressão das potências coloniais europeias, especialmente França, Inglaterra e Portugal, que passaram a disputar a domínio sobre o território e a própria demarcação de novas fronteiras

A presença de navegadores e comerciantes portugueses no litoral da actual Guiné-Bissau remonta a meados do século XV, mas a colonização de fato, a dominação do território, somente se estabeleceu em 1915, através das brutais campanhas de "pacificação", como os portugueses as chamavam, implementadas pelo exército colonial português, que culminaram com o assassinato dos líderes de diferentes grupos étnicos que resistiam à colonização. Mesmo após a dominação do território essas violentas campanhas de "pacificação" permaneceram, ocorrendo até 1936, em função da longa tradição de resistência à colonização portuguesa entre alguns grupos étnicos na Guiné-Bissau. Essa tradição de luta, segundo Amílcar Cabral, teria sido uma fonte de inspiração para a construção da luta de libertação naquele país a partir da década de 1950. Aliás, o processo de construção da luta de libertação na Guiné-Bissau e em Cabo Verde entre as décadas de 1950 e 1970 se confunde com a própria trajectória política de Amílcar Cabral, até o seu assassinato na Guiné-Conacri em 20 de Janeiro de 1973. Ler artigo completo aqui»

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