domingo, 14 de janeiro de 2018

Será que a cidade de Bissau está preparada para receber os seus filhos que vivem no estrangeiro?

Por, Jornalista Braima Darame

Coloquei essa questão a mim próprio aquando do meu regresso a Bissau em Dezembro último. Perante as evidências, não restam dúvidas de que, milhares de guineenses radicados no estrangeiro vêm à terra natal gozar férias, aproveitando para renovar os seus documentos. Consta que há quase excesso de pessoas na capital do país.

A 28 de Dezembro, o voo Lisboa-Bissau tinha 368 passageiros, que lotaram completamente a zona das chegadas do aeroporto internacional Osvaldo Vieira em Bissau. O espaço físico era manifestamente pequeno para albergar o número elevado de passageiros que aterrava na capital guineense. O pequeno tapete rolante das bagagens estava literalmente sem capacidade para despachar as muitas malas acabadas de chegar, pois é, na verdade, demasiado pequeno. Os passageiros não cabiam no espaço de recolha das malas. Reinava o caos e a confusão na recolha das bagagens. Depois de horas a fio, já com as malas, surge outro problema: a falta de carrinhos para as transportar. As mesmas têm que passar pelo controlo de raio-x, o que também provoca uma enorme fila dos passageiros, já de si muito cansados. Fora da zona das chegadas, com as obras no parque de estacionamento do aeroporto, é quase impossível conseguir espaço para estacionar.

Há muito que se reclama um novo aeroporto no país, como, por exemplo, aquele - novinho - de Dacar, a capital senegalesa. Recordo que as autoridades nacionais repetiram - em alto e bom som - que gostaram muito da obra feita no país vizinho. Foram muitos os elogios aos senegaleses pela visão e capacidade de realização. Faltou só pedir aos senegaleses que "colocassem" o antigo aeroporto de Dacar em Bissau.

Nos dias seguintes, repete-se o cenário habitual: nos lugares públicos em Bissau ouve-se repetidamente os que vivem cá a dizer: "Voltem para a Europa para que possamos viver na normalidade. Bô intchinu terra kun."

Nas discotecas faz-se longa fila nas bilheteiras e dentro, quase que não se encontra espaço para dançar. Muitos dizem: "Eu não vou à discoteca até quando voltarem para a Europa, porque não há espaço sequer para nada." O mesmo acontece nos serviços de Emigração, para a renovação dos passaportes e, nos de Identificação. Convém salientar que há um único sítio em Bissau para solicitar a emissão do Bilhete de Identidade, o mesmo para o passaporte.

Nas estradas, principalmente na avenida principal, o trânsito é intensíssimo durante quase todo o diana zona de Chapa. Muita viatura na via! É que os que vêm não param: estão em todo o lado! Desde Novembro que as companhias aéreas vêem os seus voos lotados para Bissau.

Mas será que a cidade capital é demasiado pequena para receber os emigrantes?

As crianças guineenses que nasceram na Europa, quando estão de férias na terra natal, não têm sequer um parque/espaço de diversões, digno do termo, para brincar. É tudo e só, armazéns em Bissau! A cidade está a crescer de forma desorganizada, sem espaços de lazer; não há cinemas, bibliotecas, espaços polivalentes, parques de diversão, salas para concertos etc. Há sim, sedes partidárias por todo o canto e, vivendas dos que passaram pela governação, construídas nas zonas nobres, como se a riqueza deste país fosse só para sustentar a vaidade e os caprichos de alguns.


O legado que estão a deixar aos jovens subentende que o caminho ideal para ser bem-sucedido na vida é roubar do Estado - quando for " Djinton di praça". Depois, tentar usar o mesmo dinheiro para a compra de consciências, promovendo a divisão social no seio da família guineense.

Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

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