“Olha o profundo do teu coração, vê o íntimo de ti mesmo e faz a pergunta: tens um coração adormecido ou desejas grandes coisas? O teu coração conserva a inquietude da busca ou está sufocado pelos bens que acabam por o atrofiar?“Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor”; Endireitar veredas e caminhos tortos, altear vales e abater montes e colinas, aplanar arestas, reparar fissuras. Será muito benéfica uma visita ao livro da minha vida e uma leitura à luz da Palavra do Senhor que João anunciaJoão era a voz, passageira; Cristo, a Palavra eterna desde o princípio” - Santo Agostinho“As pessoas mais pobres e marginalizadas nas nossas sociedades trazem-nos verdadeiras mensagens de esperança”. Pois, “É nos lugares pequenos e imundos que nascem os nossos reis, não em palácios”

Lucas faz o relato do sucedido, situando
o episódio num contexto político e religioso de grande envergadura. Indica
assim o alcance histórico da novidade que desponta. Refere nomes e datas,
menciona o imperador de Roma, o governador da Judeia, e outras figuras gradas
nas regiões próximas, bem como na área religiosa. (Lc 3-1-6). As credenciais do
registo ficam apresentadas, a solicitar a abertura à verdade que se anuncia. E
o protagonista sente-se mandatado para realizar a missão recebida. “Foi
dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele
percorria toda a região do Jordão” refere o evangelista narrador.
“As pessoas mais pobres e marginalizadas
nas nossas sociedades trazem-nos verdadeiras mensagens de esperança”, afirma o
arcebispo de Manila, nas Filipinas. “É nos lugares pequenos e imundos que
nascem os nossos reis, não em palácios”. Esta forte imagem foi apresentada pelo
cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Cáritas Internacional em mensagem
recente sobre a preparação do Natal cristão. A verdade da afirmação contrasta
fortemente com o que vemos e, se calhar, alimentamos.
A palavra de Deus emerge situada na
história, é dirigida a pessoas concretas, é portadora de salvação, faz-se
caminho com todos os humanos, torna-se fonte de energias revigorantes, faz ver
a salvação de Deus a todas as criaturas (Lc 3, 6). A palavra de Deus é confiada
a João. Não é sua, mas do Senhor que já havia inspirado outros homens e
mulheres, designadamente Isaías, explicitamente citado no texto que lemos hoje:
“Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor”. E o profeta indica
alguns pontos concretos desta preparação, servindo-se de elementos telúricos:
Endireitar veredas e caminhos tortos, altear vales e abater montes e colinas,
aplanar arestas, reparar fissuras.
E da terra mãe somos convidados a
visitar o coração, sede do nosso eu. Que há na minha vida que precise de ver
realinhado pelos caminhos do Senhor? Que baixios no meu ram-ram devem ser
atendidos e elevados com uma consciência desperta e responsável? Que aresta do
meu feitio, que se repercute no relacionamento com os outros, é necessário
limar? E que fissuras na coerência do que digo acreditar com o que vivo e
testemunho? Será muito benéfica uma visita ao livro da minha vida e uma leitura
à luz da Palavra do Senhor que João anuncia.
Passando do meu eu à sociedade de que
faço parte e à Igreja de que sou membro, que encontro a realinhar ou a
transformar e em que posso/devo ajudar? O primeiro passo é sempre indispensável
para a grande caminhada. Pode ser orar pelos que se arrastam na vida sem
sentido motivador, aproximar-me de familiares, lembrar os esquecidos e
abandonados, visitar idosos e doentes, partilhar bens com pobres e
necessitados, aconselhar hesitantes e transmitir-lhes a sabedoria da vida,
denunciar injustiças e solidarizar-me com quem faz reivindicações justas,
cuidar do equilíbrio do ambiente, anunciar a novidade de Deus que brilha nas
aspirações profundas do coração humano e faz erguer a sua voz discreta nos
gemidos da humanidade, professar a fé católica, sem inibições nem arrogâncias.
Santo Agostinho, numa das suas
catequeses sobre o Advento, afirma que João era a voz, mas o Senhor, no
princípio, era a Palavra. João era a voz, passageira; Cristo, a Palavra eterna
desde o princípio”.Suprimi a palavra e em que se torna a voz? Esvaziada de
sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não
alimenta o coração”.
E o Papa Francisco faz-nos um convite
singular: “Olha o profundo do teu coração, vê o íntimo de ti mesmo e faz a
pergunta: tens um coração adormecido ou desejas grandes coisas? O teu coração
conserva a inquietude da busca ou está sufocado pelos bens que acabam por o
atrofiar? E continua a perguntar: Necessito de Jesus, para quê? Que me oferece
ele com a sua vinda? É a sua oferta que eu, sinceramente, quero receber?”
São Paulo, na carta aos cristãos de
Filipos, lida hoje, dá graças a Deus pelo bem que eles realizam e declara: “
Por isso, lhe peço que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e
discernimento para que possais distinguir o que é melhor e vos torneis puros e
irrepreensíveis para o dia de Cristo, na plenitude dos frutos da justiça que se
obtém por Jesus Cristo, para louvor da glória de Deus”. Bela oração que é testemunho
a acolher e exemplo a imitar. Bom advento de Natal!
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