segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

N’BATONHA - Interesse Nacional ou outros?!

“Um representante do Estado que, em vez de proteger e conservar os bens de domínio público, aliena-os com o fim de serem destruídos para a satisfação de outros interesses que não os do povo, não é um Estadista, mas sim um criminoso!

Um povo que deixa criminosos cometerem crimes contra os bens de domínio público sem os travarem, é um povo condenado a viver das migalhas dos seus criminosos com capa de Estadistas”- Jorge Herbert


De início encarei o tema N’Batonha com superficialidade e brincadeira com as já mais que conhecidas manobras do PAIGC para a manipulação da opinião pública, no entanto, como guineense, interessou-me olhar para o assunto com mais pormenor, seriedade e expor o meu ponto de vista, que até ultrapassa a questão N’Batonha.

Desengane-se o guineense que julgar que a evidente politização e dicotomização da recente questão N’Batonha tem a ver com os interesses dos guineenses e da Guiné-Bissau!

N’Batonha foi utilizado por uns “abutres” do pais com capa de políticos e ONG’s “sem fins lucrativos”, para conseguirem um avultado financiamento da UE e do Instituto Camões, que deveria servir para a transformação dessa zona num parque tipo botânico, no coração de Bissau… O motivo pelo qual foi pedido e conseguido tal financiamento, é claramente de interesse nacional, pese embora haja ignorantes que hoje queiram separar o interesse ambiental do nacional! Pesquisando e lendo, pelo menos um estudo efetuado sobre esse espaço/lago, não deixa dúvidas que esse espaço é de elevado interesse ambiental e nacional, devendo as espécies que lá frequentam de forma sazonal serem protegidas e, contrariamente ao que tenho lido nalguns comentários, são na sua grande maioria espécies autóctones/residentes… Qualquer cidade que queira abraçar o desenvolvimento equilibrado, deve saber proteger a sua fauna e flora e não agredi-las e extingui-las.

No entanto, os ativistas/supostos ambientalistas que hoje vociferam contra a construção de um centro islâmico no local, nada fizeram antes para melhorar as condições de acessibilidade e utilização desse espaço. Limitaram-se a angariar os fundos e dar-lhe o destino que mais lhes interessava e não propriamente aquilo pelo qual foi conseguido o financiamento! Curiosamente, até atribuíram ao local o nome de PELN (Parque Europa Lagoa N’Batonha), em plena África, apenas para agradar os financiadores! É óbvio que todas essas manobras hoje contribui para retirar-lhes a autoridade da defesa do parque!

Por outro lado, temos os abutres que hoje povoam o poder guineense e que não vêm meios nem fins para angariar financiamentos, que garanta os próprios bem-estar, tudo sob a batuta de um Presidente da República que deu mostras de sobra de que não está minimamente preparado para o cargo, quando se trata de dirigir os destinos do país em moldes de um Estado de Direito democrático. O mais grave é que só um tolo não se apercebe da sua vontade de se prolongar no poder, estando desde já a preparar caminho para a efetivação desse prolongamento no poder, espezinhando a Constituição da República e o próprio Estado de Direito democrático… Conforme costumo dizer, até com a escravatura e a colonização, tivemos sempre guineenses a colaborar com essas agressões, apenas para a resolução dos seus problemas pessoais, contra os próprios interesses nacionais, assim como hoje, temos guineenses a colaborar com o evidente abuso do poder e um péssimo dirigismo do país, por um Presidente que aparentemente interessa-lhe mais o poder que o pais…

O Presidente da República descobriu a fórmula para o domínio do país de forma prolongada e há, neste momento, muitos potenciais vítimas desse desígnio, a colaborar com ele, apenas para obter ganhos imediatos, sem se aperceber que no futuro poderão ser vítimas… Dizia eu que o Presidente da República descobriu a fórmula e só consegue escondê-la de mentes menos atentas! Sabe que as duas maiores etnias da Guiné-Bissau são os Balantas e os Fulas e que em termos absolutos, essas duas etnias perfazem pouco mais dre 50% da população guineense. Os primeiros predominam nas Forças Armadas, fruto da sua representação na luta de libertação nacional, por isso, garantir o bem-estar da classe castrense é satisfazer uma boa fatia da população Balanta, apesar de conhecer muitos Balantas formados e informados que não pactuam com essa submissão da classe castrense à um Presidente da República que pode até constituir um perigo à unidade do nosso mosaico cultural... Dizia eu que o Presidente da República sabe que garantindo o bem-estar da classe castrense, minimiza muito o risco de sublevação militar e garante a satisfação de uma das tribos maioritária do país. Por outro lado, vai cumprindo com o seu principal desígnio que é a forte islamização da sociedade guineense, com o alto patrocínio dos movimentos islâmicos regionais, satisfazendo por isso, cerca de 45% da população guineense que pratica o islão… Nada tenho contra a esse desígnio, desde que não seja com agressões dos valores que a sociedade guineense tem perseguido e preservado desde a independência, que são essencialmente a convivência pacífica do nosso mosaico étnico, sem domínio de um sobre os outros e a proteção da nossa fauna e flora. É claramente nesse contexto de agradar a corrente islâmica nacional e regional que nasce esse projeto da construção de um Centro Islâmico no coração de Bissau, atropelando INTERESSES NACIONAIS, porque a nossa Avifauna faz parte do nosso património e só quem tem uma visão muito limitada do que é uma nação/Estado, agride-a em vez de protegê-la…

A pior exibição de ignorância que tenho visto por parte de algumas figuras envolvidas nessa discussão politizada e com carga étnica e religiosa, é a ridícula dicotomização dos destinos do Lago N’Batonha: “ou constrói-se um complexo que servirá o país ou N’Batonha é remetido ao abandono”, assumindo desde já clara incompetência ou até ignorância dos governantes em dar a esse local um digno destino que sempre se pretendeu e pelo qual já houve financiamento…

Também pergunto: porque é a insistência em construir esse tal complexo especificamente nesse espaço?! A cidade de Bissau não tem mais terrenos disponíveis?!

Segundo nos foi dito, quem financia a obra desse complexo é uma ONGD sem fins lucrativos! Se é uma ONGD sem fins lucrativos, os guineenses têm o direito de saber onde e como eles vão buscar o financiamento para a tal construção?

Porque é que ao tal Complexo já é atribuído o nome de um Imã turco falecido em Junho de 2022 e considerado apenas um dos muçulmanos mais influentes do mundo?! A Guiné-Bissau não tem Heróis Nacionais, mesmo muçulmanos, que poderiam ser honrados com a atribuição dos seus nomes nesse espaço?!

Segundo o Presidente da República, o complexo terá médicos especialistas de Oftalmologia a Medicina Interna! Pergunto, em que modalidades? Para servir toda a população guineense e em regime público ou privado, ou apenas para servir alguns ilustres muçulmanos?!

Concluo este texto dizendo que, na minha óptica, é por demais evidente que a construção desse Complexo Islâmico nada mais é que uma negociata do Presidente da República, semelhante à história da aeronave estacionada no aeroporto, em nome da Guiné-Bissau e do seu povo, apenas para cumprir a agenda dos seus financiadores islâmicos e dessa forma tentar prolongar-se no poder…

É chegada a hora dos guineenses dizerem um “BASTA” a este perigoso Presidente da República, se não querem vir chorar amanhã por não termos reagido à tempo… A Guiné-Bissau é e será para todos os seus filhos, independentemente da etnia, religião ou cor da pele… A nossa flora e fauna deve ser protegido, contra qualquer outros interesses de grupos ou religiosos… Isso já ultrapassou a questão ambiental e é do interesse nacional fazer perceber a este presidente que só é dono e senhor do país, se os guineenses quiserem e deixarem…


Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

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