quarta-feira, 27 de março de 2013

Portas travou ajuda humanitária à Guiné-Bissau


Com as relações com as autoridades de “transição” guineenses ainda num ponto frágil, quase um ano depois do golpe militar que derrubou Carlos Gomes Júnior, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, de Paulo Portas, travou a doação de 2 toneladas de medicamentos à Guiné-Bissau. Na capital guineense, o caso motivou repúdio. 
Segundo noticia o Africa Monitor Intelligence, Os medicamentos foram angariados na indústria farmacêutica nacional para serem enviados para Moçambique, a fim de ajudar as populações atingidas pelas cheias. Do total de 3 toneladas de medicamentos que a campanha reuniu, as autoridades moçambicanas consideraram útil apenas uma parte, cerca de 1 tonelada. Para doação do remanescente disponível, o Instituto da Cooperação e da Língua – Camões elaborou uma “shortlist”, da qual foi excluída a Guiné-Bissau, acabando os medicamentos por ser enviados para São Tomé e Príncipe.
Na versão do caso conhecida em Bissau, Paulo Portas (ou o seu gabinete, na pessoa do assessor para os assuntos africanos), são apresentados como ordenantes da exclusão guineense como eventual destino dos medicamentos.
O argumento invocado pelo MNE foi o da “inconveniência política” de um tal gesto, tendo em conta a delicadeza das relações com as autoridades emanadas do golpe de Estado de Abril de 2012 na Guiné-Bissau. O facto deu azo a manifestações de repulsa da parte de entidades governamentais, e outras, em Bissau. Afirmam que uma ajuda humanitária, como por natureza seria aquela, não devia ser prejudicada por motivos ou considerações políticas.
O facto avolumou mesmo sentimentos de manifesta antipatia que responsáveis guineenses nutrem pelo ministro português. A linha de ostensiva condenação do golpe que definiu a política seguida pelo MNE, e seus efeitos no isolamento internacional do país, constituem os antecedentes remotos da antipatia a que Portas é votado. Criticam mesmo que Portas visou proteger interesses de Angola na Guiné-Bissau, postos em causa pelo golpe de Estado – sendo esta uma das razões pelas quais a sua reputação entre as autoridades angolanas melhorou.
O Africa Monitor Intelligence adianta que, em meios guineenses com mais estreitas ligações a Portugal, a exclusão da Guiné-Bissau como destino dos medicamentos é considerada “incompreensível” no plano dos princípios, mas sobretudo porque é passível de ofuscar o capital de simpatia e prestígio de que Portugal goza entre a população.

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