Com
as relações com as autoridades de “transição” guineenses ainda num ponto
frágil, quase um ano depois do golpe militar que derrubou Carlos Gomes Júnior,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros, de Paulo Portas, travou a doação de 2
toneladas de medicamentos à Guiné-Bissau. Na capital guineense, o caso motivou
repúdio.
Segundo
noticia o Africa Monitor Intelligence, Os medicamentos foram angariados na
indústria farmacêutica nacional para serem enviados para Moçambique, a fim de
ajudar as populações atingidas pelas cheias. Do total de 3 toneladas de
medicamentos que a campanha reuniu, as autoridades moçambicanas consideraram
útil apenas uma parte, cerca de 1 tonelada. Para doação do remanescente
disponível, o Instituto da Cooperação e da Língua – Camões elaborou uma
“shortlist”, da qual foi excluída a Guiné-Bissau, acabando os medicamentos por
ser enviados para São Tomé e Príncipe.
Na
versão do caso conhecida em Bissau, Paulo Portas (ou o seu gabinete, na pessoa
do assessor para os assuntos africanos), são apresentados como ordenantes da
exclusão guineense como eventual destino dos medicamentos.
O
argumento invocado pelo MNE foi o da “inconveniência política” de um tal gesto,
tendo em conta a delicadeza das relações com as autoridades emanadas do golpe
de Estado de Abril de 2012 na Guiné-Bissau. O facto deu azo a manifestações de
repulsa da parte de entidades governamentais, e outras, em Bissau. Afirmam que
uma ajuda humanitária, como por natureza seria aquela, não devia ser
prejudicada por motivos ou considerações políticas.
O
facto avolumou mesmo sentimentos de manifesta antipatia que responsáveis
guineenses nutrem pelo ministro português. A linha de ostensiva condenação do
golpe que definiu a política seguida pelo MNE, e seus efeitos no isolamento
internacional do país, constituem os antecedentes remotos da antipatia a que
Portas é votado. Criticam mesmo que Portas visou proteger interesses de Angola
na Guiné-Bissau, postos em causa pelo golpe de Estado – sendo esta uma das
razões pelas quais a sua reputação entre as autoridades angolanas melhorou.
O
Africa Monitor Intelligence adianta que, em meios guineenses com mais estreitas
ligações a Portugal, a exclusão da Guiné-Bissau como destino dos medicamentos é
considerada “incompreensível” no plano dos princípios, mas sobretudo porque é
passível de ofuscar o capital de simpatia e prestígio de que Portugal goza
entre a população.
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