Forças governamentais moçambicanas assaltaram, na manhã
desta sexta-feira, a casa de Afonso Dhlakama, líder da Renamo, na Beira. A
polícia explicou que a acção obedeceu a um despacho judicial para "busca e
apreensão de armas de fogo".
A operação foi desencadeada por
efectivos das Forças Armadas e de forças especiais da polícia por volta das 8h
locais (6h em Portugal continental). Segundo o site Canal Moçambique
foram também ocupadas duas sedes do principal partido da oposição na segunda
maior cidade do país. Outros órgãos de informação referem apenas como
objectivos a casa do líder da oposição na cidade e a sede provincial.
O comandante da polícia local, citado pela Rádio
Moçambique, disse que as forças governamentais actuaram no cumprimento de um
despacho judicial para "busca e apreensão de armas de fogo e outros
materiais letais".
Foram disparados tiros que colocaram a cidade em
alvoroço. Guardas da casa do líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo)
– antigo movimento guerrilheiro, que lutou contra o Governo da Frelimo
entre 1976 e 1992 – terão sido detidos e outros estarão em parte incerta.
O jornal A Verdade, que também noticiou como
objectivos da acção a residência de Dhlakama e as sedes provincial e local da
Renamo, indica que os tiros “criaram pânico aos residentes da zona”. No caso da
sede provincial, os disparos foram feitos “para o ar, como forma de intimidar
os funcionários”, que "não ofereceram resistência”, acrescentou.
Na quarta-feira, no final da presidência aberta que fez
na província de Manica, o Presidente da República, Armando Guebuza, disse,
citado pelo jornal Notícias, que Dhlakama deve deixar de ser o
problema para passar a ser "parte da solução" da actual crise
político-militar.
A entrada de forças governamentais nas instalações da
Renamo na Beira é mais um episódio da tensão que o país está a viver. Depois
de, no dia 21 de Outubro, as Forças Armadas terem ocupado o quartel-general do
antigo movimento guerrilheiro, Satungira, foram ocupadas, no início desta
semana, sedes no distrito de Marínguè, também na província de Sofala, e em
Rapale, Nampula. Na quarta-feira, a Renamo impediu a ocupação da base de
Sitatango, província de Manica.
As escaramuças militares aumentaram nos últimos meses e
multiplicaram-se nas duas últimas semanas. Os recentes episódios de violência
fizeram aumentar o receio de um regresso à guerra civil.O desenvolvimento mais
significativo foi a ocupação, pelas forças militares governamentais, de
Satungira, na província de Sofala, onde viveu, no último ano, Afonso Dhlakama.O
paradeiro do líder do partido é desconhecido.
Segurança é "prioridade"
A multinacional anglo-australiana Rio Tinto aconselhou,
entretanto, os seus funcionários estrangeiros que trabalham em Moçambique a retirarem
temporariamente as famílias do país.
"A Rio Tinto confirma que pediu às famílias dos seus
colaboradores estrangeiros para regressarem temporariamente aos seus países de
origem. A segurança dos colaboradores e das suas famílias é a prioridade número
um e a empresa vai continuar a acompanhar a situação e a responder de maneira
apropriada", disse fonte da empresa ao semanário moçambicano Savana.
A exploração e transporte de carvão vai continuar como habitualmente.
Em Junho, a Rio Tinto suspendeu temporariamente a exportação
de carvão devido a ameaças da Renamo.
A Rio Tinto e a brasileira Vale exploram carvão na província
de Tete, no Nordeste, que é transportado por caminho-de-ferro, através da Linha
do Sena, que liga as zonas mineiras ao porto da Beira, por onde o carvão é
exportado.
Na quinta-feira, Maputo assistiu à que terá sido a maior manifestação não-governamental
de sempre na cidade, em protesto contra a ameaça de guerra e uma onda
de raptos que está a contribuir para a insegurança no país. Na Beira mais
de um milhar de pessoas também saíram à rua.
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