sábado, 2 de novembro de 2013

Forças do Governo de Moçambique assaltam casa do líder da oposição na Beira



Multinacional Rio Tinto aconselha famílias de funcionários a saírem temporariamente do país.

Forças governamentais moçambicanas assaltaram, na manhã desta sexta-feira, a casa de Afonso Dhlakama, líder da Renamo, na Beira. A polícia explicou que a acção obedeceu a um despacho judicial para "busca e apreensão de armas de fogo".

A operação foi desencadeada por efectivos das Forças Armadas e de forças especiais da polícia por volta das 8h locais (6h em Portugal continental). Segundo o site Canal Moçambique foram também ocupadas duas sedes do principal partido da oposição na segunda maior cidade do país. Outros órgãos de informação referem apenas como objectivos a casa do líder da oposição na cidade e a sede provincial.

O comandante da polícia local, citado pela Rádio Moçambique, disse que as forças governamentais actuaram no cumprimento de um despacho judicial para "busca e apreensão de armas de fogo e outros materiais letais".

Foram disparados tiros que colocaram a cidade em alvoroço. Guardas da casa do líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo)  – antigo movimento guerrilheiro, que lutou contra o Governo da Frelimo entre 1976 e 1992 – terão sido detidos e outros estarão em parte incerta.

O jornal A Verdade, que também noticiou como objectivos da acção a residência de Dhlakama e as sedes provincial e local da Renamo, indica que os tiros “criaram pânico aos residentes da zona”. No caso da sede provincial, os disparos foram feitos “para o ar, como forma de intimidar os funcionários”, que "não ofereceram resistência”, acrescentou.

Na quarta-feira, no final da presidência aberta que fez na província de Manica, o Presidente da República, Armando Guebuza, disse, citado pelo jornal Notícias, que Dhlakama deve deixar de ser o problema para passar a ser "parte da solução" da actual crise político-militar.

A entrada de forças governamentais nas instalações da Renamo na Beira é mais um episódio da tensão que o país está a viver. Depois de, no dia 21 de Outubro, as Forças Armadas terem ocupado o quartel-general do antigo movimento guerrilheiro, Satungira, foram ocupadas, no início desta semana, sedes no distrito de Marínguè, também na província de Sofala, e em Rapale, Nampula. Na quarta-feira, a Renamo impediu a ocupação da base de Sitatango, província de Manica.

As escaramuças militares aumentaram nos últimos meses e multiplicaram-se nas duas últimas semanas. Os recentes episódios de violência fizeram aumentar o receio de um regresso à guerra civil.O desenvolvimento mais significativo foi a ocupação, pelas forças militares governamentais, de Satungira, na província de Sofala, onde viveu, no último ano, Afonso Dhlakama.O paradeiro do líder do partido é desconhecido.

Segurança é "prioridade"

A multinacional anglo-australiana Rio Tinto aconselhou, entretanto, os seus funcionários estrangeiros que trabalham em Moçambique a retirarem temporariamente as famílias do país.

"A Rio Tinto confirma que pediu às famílias dos seus colaboradores estrangeiros para regressarem temporariamente aos seus países de origem. A segurança dos colaboradores e das suas famílias é a prioridade número um e a empresa vai continuar a acompanhar a situação e a responder de maneira apropriada", disse fonte da empresa ao semanário moçambicano Savana. A exploração e transporte de carvão vai continuar como habitualmente.

Em Junho, a Rio Tinto suspendeu temporariamente a exportação de carvão devido a ameaças da Renamo.

A Rio Tinto e a brasileira Vale exploram carvão na província de Tete, no Nordeste, que é transportado por caminho-de-ferro, através da Linha do Sena, que liga as zonas mineiras ao porto da Beira, por onde o carvão é exportado.

Na quinta-feira, Maputo assistiu à que terá sido a maior manifestação não-governamental de sempre na cidade, em protesto contra a ameaça de guerra e uma onda de raptos que está a contribuir para a insegurança no país. Na Beira mais de um milhar de pessoas também saíram à rua.

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