Cerca de 5 mil cidadãos oriundos de todas
as regiões do país tomaram parte na cerimónia. Assistiram igualmente o acto as
autoridades locais, representantes de parceiros internacionais, artistas,
grupos de dança, empresários e jornalistas.
Na “silenciosa” e densa floresta de
Cassacá a multidão acompanhou entusiasticamente o discurso solene do candidato
Quadé.
DISCURSO DE DOMINGOS QUADÉ
Pela força do Estado, justiça e reconciliação nacional
HONRA E GLÓRIA A AMÍLCAR CABRAL E AOS COMBATENTES PELA LIBERDADE DA PÁTRIA!
Caros
compatriotas,
Pouco
depois do início da Luta de Libertação Nacional registaram-se desmandos
inumeráveis, capazes então de desvirtuar os objectivos da mesma e transformá-la
em mera rebelião armada. Em resposta, Amílcar Cabral insurgiu-se e convocou o
1º Congresso do PAIGC na localidade libertada de Cassacá para reorientar o
processo de luta e trazer à luz a génese e os primeiros ensaios de uma
organização do Estado com a criação de Saúde de Base Popular, Escolas Piloto,
Armazéns do Povo e Forças Armadas Revolucionárias do Povo bem disciplinadas.
Tudo isto trouxe resultados gigantescos ao permitirem a reconquista do
prestígio do nosso processo independentista, tendo, no plano externo, Cabral
sido convidado a visitar vários países com os quais firmou acordos, efectuado
visita à Santa Sé e o discurso na plenária da Assembleia Geral das Nações
Unidas, actos reservados só a Chefes de Estado.
No
plano interno, Cassacá trouxe a independência nacional e a implantação da
autoridade do Estado na sua fase inicial com resultados orgulhosos no campo
económico como a infra estruturação e a industrialização geral do País. A
título de exemplo, é caso para lembrar aos mais velhos e ensinar os novos a
heroicidade e as grandes conquistas deste povo em vários domínios: o Complexo
Agro-Industrial de Cumeré, a fábrica de Hanura em Bolama, a Cerâmica de Bafatá,
a Guimetal, Volvo e N’Haye além de frotas de transporte por terra (Silô Diata),
mar (Sambuia, Cassacá, Ermon-Kono, Komo, Caiar, etc e Naguicave) e por ar
(Sakala e Companhia Aérea LIA) e da rede eléctrica (Gazela, Escorpião, etc).
Infelizmente tudo isto cedo se perdeu por nossa acção ou omissão colectiva,
enquanto povo. Assim, tal como na era de Cassacá, sente-se hoje a necessidade
de re-erguermos este poderoso edifício posto vergonhosamente em ruínas.
Deste
modo e com vista a mudar, com inteligência e sem violência, o rumo dos
acontecimentos na Guiné-Bissau, país onde se conheceram fases contínuas do
medo, torturas, assassinatos políticos, corrupção, narcotráfico, empobrecimento
generalizado, emergiu a preocupação de lembrar o velho para encontrar novo
Cassacá, lançando esta candidatura presidencial independente para o bem da
Pátria muito flagelada.
Por
conseguinte e no respeito pela interdependência funcional com todos os demais
órgãos de soberania competentes, esta candidatura, quando eleita, apostará no
re-nascimento dos valores da Pátria através da criação de mecanismos e
condições de implementação das políticas de:
A. um Estado forte que implante o império da lei sobre a força do homem, ou seja tudo deve fundar-se dentro da lei e nunca fora ou acima dela. A ordem no seu sentido institucional, estrutural e funcional, o rigor na gestão da coisa pública e a organização do aparelho do Estado vão voltar a ser realidade neste País através da urgente adopção de critérios rígidos de gestão e de combate à cultura de homem poderoso e intocável, sem prejuízo do reconhecimento de personalidades notáveis;B. Um Estado justo que crie mecanismos práticos e eficientes de acesso universal à justiça e ao direito e de credibilização do sistema judiciário nacional através da garantia da aplicação justa, eficaz, imponente e atempada da lei na justiça de casos concretos e da promoção de inspecção regular à actividade magistral;C. Um Estado reconciliado consigo próprio, ou seja, que crie e introduza condições favoráveis à mudança tranquila e não violenta e ainda à verdadeira e sincera reconciliação nacional. Para isso é defensável a criação de uma comissão integradora, a partir de uma Conferência Nacional, com amplos poderes de identificação, investigação, julgamento e, eventual, perdão/amnistia de responsáveis pela comissão de vários crimes políticos deste País. O que se deverá seguir, pro futuro e com carácter consultivo vinculante, de institucionalização de um fórum de reconciliação e promoção de diálogo nacionais, integrado por representantes de poder tradicional, anciãos, reformados, políticos, sociedade civil, sociedade castrense e intelectuais.
É
nossa inabalável convicção que só deste modo podemos conquistar, tal como
Cabral o havia conseguido em seu tempo, três níveis de confiança, indispensáveis
para a garantia do nosso processo de desenvolvimento socioeconómico e para o
contexto sociopolítico de hoje: a confiança do cidadão no processo de
credibilização e do desenvolvimento do seu País, o que evita a fuga do capital
e do talento; a confiança de países amigos que quase nos abandonaram devido a
desastres contínuos e incomportáveis por que temos vindo a passar e a confiança
do empresariado estrangeiro sério capaz de promover o comércio e a indústria
para a geração do emprego – base de constituição e sustento de família - e a
percepção de impostos.
Por
tudo isto, comprometemo-nos contribuir, designadamente, para:
a)
enraizar uma nação sã, unida e em paz, prevenindo e banindo quaisquer acções
que visem aniquilar a unidade nacional, os valores basilares da sociedade e do
Estado ou que visem criar ambiente favorável aos conflitos e à guerra;
b)
trabalhar com fidelidade e franqueza com qualquer Governo saído das urnas;
c)
inculcar no homem guineense os valores insubstituíveis do trabalho, disciplina
e da democracia pluralista e responsável;
d)
pugnar pela/o:
i)
abolição das más práticas como as torturas, os assassinatos políticos, a
corrupção e o narcotráfico, através de desenvolvimento de acções concertadas
interna e externamente;
ii)
prosperidade auto-sustentada ao serviço do bem estar do povo;
iii)
prestígio dura e exemplarmente conquistado durante a Luta de Libertação
Nacional através de acções que visem travar o deslize contínuo em direcção à
dependência com a consequente perda de dignidade e desbaratamento da soberania
nacional;
iv)
boa gestão da coisa pública;
v)
reforma – no sentido da modernização orgânica e funcional - profunda do Estado,
nomeadamente nos sectores da justiça, defesa, segurança e administração
pública;
vi)
valorização dos recursos humanos e naturais deste País, criando para estes condições
extractivas para o bem do nosso povo;
vii)
desenvolvimento das potencialidades locais através da implementação da politica
de descentralização administrativa e da criação de diferentes tipos de
incentivos ao exercício pleno da cidadania;
viii)
promoção e valorização da cultura e da igualdade do género;
ix)
aposta no futuro melhor da criança, da juventude e da nossa diáspora.
No
plano externo, comprometemo-nos a:
a)
respeitar e a reforçar a nossa identidade e vocação lusófonas e ainda a
contribuir para a promoção da nossa cooperação com todos os países falantes da
mesma língua seja no plano bilateral seja no da CPLP;
b)
reforçar as nossas relações nomeadamente politicas, económicas, diplomáticas e
culturais com a vizinhança;
c)
apoiar as acções concertadas de consolidação da nossa integração em
organizações sub-regionais, designadamente a CEDEAO e a UEMOA e regionais como
a União Africana;
d)
promover as bases de cooperação com todos os países amigos quer no quadro da
ONU quer bilateralmente.
Estes
são os fundamentos do CASSACÁ 2 que subscrevemos para a Guiné-Bissau nesta
candidatura!
Caros
compatriotas,
Antes
de me levantar, auscultei-me. A terra que me viu nascer e formou não pode
afundar-se, inclusive comigo lá dentro, mantendo-me, entretanto, impávido e
sereno. Eis a razão!
Assim,
não se estranhem, em mefistofélica malícia, que, após alguma reflexão profunda,
tenhamos optado assumir e liderar os desafios do Cassacá 2 que, confessamos, se
tivéssemos que escolher algo polémico não poderíamos ter encontrado o melhor.
Na verdade não fomos nós a escolher e nem a nossa intenção é polémica mas
sentimo-nos caídos num turbilhão problemático no qual tentaremos manter a nossa
identidade, ou seja não procuramos a outrance o vosso acordo, embora para nós
fosse de grande honra e conforto, nem intentamos provocar o vosso desacordo, o
que nos afligiria. Trata-se, pois, de uma decisão pessoal, responsável e
imbuída de vontade unicamente de melhor querermos servir.
Daí
que vamos com Bob Marley quando defendeu a ideia de que ‘não cruze os braços
diante de uma dificuldade, pois o maior homem do mundo morreu de braços
abertos’ e com a Madre Teresa de Calcutá que havia dito que ‘o importante não é
o que se dá mas o amor com que se dá’. Neste sentido seguimos Cabral: ‘jurei a
mim mesmo que tenho de dar toda a minha vida, capacidade e energia que possa
ter como homem ao serviço do meu povo e da humanidade, para que a vida do homem
se torne melhor no mundo.
Viva
Cassacá!
Viva
o trabalho e a disciplina!
Viva
o heroico povo guineense unido!
Viva
a Guiné-Bissau!
Muito
obrigado!
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