Domingos
Simões Pereira será candidato à chefia do Governo da Guiné-Bissau nas eleições
previstas para Março. Partido escolherá agora nome para concorrer à Presidência
da República.
O PAIGC, partido histórico da independência da Guiné-Bissau, tem um novo
presidente: Domingos Simões Pereira, antigo secretário executivo da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Simões
Pereira, 50 anos, será candidato a primeiro-ministro nas eleições previstas
para 16 de Março, as primeiras após o golpe de 2012, em que será igualmente
eleito o Presidente da República. A consulta eleitoral já esteve marcada para
24 de Novembro de 2013 e poderá ser novamente adiada, devido a atrasos no
recenseamento.
As
próximas eleições deverão pôr fim a quase dois anos de interregno provocado
pelo golpe que derrubou o Governo do PAIGC liderado por Carlos Gomes Júnior,
actualmente exilado em Cabo Verde.
No
discurso de vitória, o novo presidente do PAIGC (Partido Africano da
Independência de Guiné e Cabo Verde) disse que o exílio de Gomes Júnior e do
Presidente interino Raimundo Pereira, também afastado pelo golpe de 12 de Abril
de 2012, são “a real imagem da ruptura ainda prevalecente” na sociedade
guineense.
Simões
Pereira afirmou também, segundo a RDP África, que as eleições estão a ser
preparadas “sob o signo de muita desconfiança entre os variadíssimos actores,
cada um movido por motivações próprias”. Mas declarou-se disposto a trabalhar
para que venham a ser uma “verdadeira festa da democracia”.
O
novo líder recebeu o voto favorável de 707 delegados, o que corresponde a
60,58%, segundo os dados divulgados na noite de domingo pelo site de
notícias GBissau.com. Braima Camará conseguiu 436 votos que representam 37,34%.
O terceiro foi Aristides Ocante da Silva, que obteve 15 votos, 1,29%. O
congresso, em que participam cerca de 1200 delegados, decorre há mais de uma
semana em Cacheu, no Norte.
Próxima escolha: candidato a Presidente
Já
neste congresso, o antigo secretário executivo da CPLP viu derrotada uma
proposta de alteração de estatutos que apoiava, a qual previa a separação entre
o cargo de presidente do partido e o de secretário-geral. Essa proposta
precisava de dois terços de votos, que não obteve. O objectivo da frustrada
alteração era que o presidente do PAIGC passasse a dedicar-se apenas ao partido
e o secretário-geral fosse o cabeça de lista nas legislativas. Nesse
cenário teria sido eleito presidente outro militante e Simões Pereira teria
concorrido a secretário-geral.
A
nova direcção terá de tomar posição sobre o candidato às eleições para a
Presidência da República. Gomes Júnior, que não pode participar no congresso de
Cacheu, manifestou-se na disputa interna do PAIGC favorável a Simões Pereira. O
antigo primeiro-ministro – vencedor da primeira volta das presidenciais em 2012
e favorito à eleição na segunda, que não chegou a realizar-se devido ao golpe –
anunciou há meses o desejo de voltar a candidatar-se. Numa carta que escreveu à
direcção do PAIGC em final de Janeiro pediu "anuência" para voltar a
concorrer.
Domingos
Simões Pereira nasceu em Farim em 1963, ano em que começou a guerra na então
colónia portuguesa. Foi ministro do Equipamento Social e das Obras Públicas e,
entre 2008 e 2012, secretário executivo da CPLP.
Formado
em engenharia civil e industrial em Odessa, Ucrânia, então integrada na União
Soviética, é mestre em Ciências de Engenharia Civil pela universidade estatal
da Califórnia, em Fresno, Estados Unidos. Fez estudos de doutoramento em
Ciência Política na Universidade Católica, em Lisboa.
Numa entrevista ao PÚBLICO, em Julho de 2012, Simões Pereira disse que, com o golpe,
a Guiné voltou a uma situação em que "se mistura problema militar com
político" e que a solução de um governo de transição aceite pela CEDEAO
(Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) era um caminho
"muito escorregadio” que podia trazer “surpresas bem desagradáveis".
O PAIGC é o partido maioritário no actual Parlamento. Com Gomes Júnior no exílio,
depois de, inicialmente, ter rejeitado participar no Governo de transição
acabou por aceitar fazer parte dele.
//Publico // tchogue
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