A melhor ajuda da comunidade internacional, pela
qual anseia o povo da Guiné, é a paz e a estabilidade duradoira.
Os guineenses têm noção errada de soberania, confundindo-a
com a independência. Se esta é uma condição necessária de soberania, não é
suficiente para o seu pleno exercício. Um país não é de verdade soberano quando
ainda não é capaz de ter o controlo absoluto sobre o seu território e os
respectivos recursos naturais, os quais estão sujeitos a desenfreada e
criminosa pilhagem pelos forasteiros, a pretexto de “contrato de exploração”.
Por outro lado, um país que nem sequer é capaz de garantir o mínimo de
auto-suficiência alimentar às suas populações altamente subnutridas, roçando a
fome e os mínimos cuidados de saúde, não é digno desse nome.
A falência da Guiné-Bissau como Estado deve-se ao
facto de nunca ter tido dirigentes à altura dos desafios que se impunham logo a
seguir à independência até hoje. As gerações formadas no exterior para
concretizarem o nobre ideal dos seus antepassados, que deram as suas vidas de
forma a pôr fim ao colonialismo, não têm sabido desempenhar o seu papel na
caminhada histórica para a construção do país. O sonho acalentado durante os
dias intermináveis do sofrimento por uma justíssima causa foi ignorado pelo
egoísmo atroz da gente de pós-independência que não olha os meios para atingir
os fins. Podia estar a contribuir para fazer da Guiné um país de bem para
todos, porque deve a sua formação ao país e não pode furtar-se à
responsabilidade e, por conseguinte, ao sacrifício daí decorrente.
As próximas eleições podem proporcionar boas
perspectivas à Guiné no sentido de encontrar o rumo certo para o seu
desenvolvimento adiado sine die. Tudo isso irá depender do esforço comum entre
o Governo e a comunidade internacional no trabalho de levar a cabo a
organização do Estado guineense. A reestruturação das forças de defesa e
segurança deve situar-se como uma prioridade ou um simultâneo com todos os
sectores do Estado, nomeadamente a administração pública, que está sem “rei nem
roque”, a justiça completamente submersa na corrupção, deixando de exercer o
seu papel de equilíbrio na sociedade.
Ora, a actual composição das forças armadas predominantemente
tribal, e ainda influenciada por um partido político de índole tribalista, não
só cria instabilidade nos quartéis como também no país. É urgente e necessária
uma nova família castrense em que não há a superioridade de um só grupo étnico
em relação aos demais. A sua composição deve necessariamente reflectir o
mosaico étnico do país, sob pena de um dia a Guiné vir a confrontar-se com
sérios problemas de natureza tribal. “Mais vale prevenir do que remediar”, diz
o ditado popular.
Já que a comunidade internacional parece agora ter
mostrado o seu interesse em ajudar a Guiné a sair do buraco em que se meteu
desde há muito, então que a acompanhe até ao fim da construção de um verdadeiro
Estado de direito. Os guineenses, sozinhos, serão incapazes de levar esta
tarefa a bom termo. Daí que a comunidade internacional deveria adoptar o mesmo
sistema de organização do Estado de Timor-Leste na Guiné-Bissau. Os sectores de
alavancamento do Estado e da economia nacional precisam, nesta primeira fase
crucial de construção do Estado e da economia nacional de uma forma
sustentável, de gestores estrangeiros nas finanças, na pesca, na floresta, na
área energética em geral e na futura exploração mineira/petróleo, pelo menos
durante o período de cinco anos sob o controlo conjunto entre o Governo e as
Nações Unidas. Este apontar de caminho não põe em causa a independência
nacional, como alguém poderá ver nisso um absurdo autêntico. Mas nem sempre o
que parece é verdade. A concretização do que foi dito irá proporcionar
capacitação aos nacionais na melhor gestão das coisas públicas que os
guineenses precisam ainda de aprender muito. Desde a independência a esta parte
não foram capazes de produzir provas que contrariassem a afirmação anterior.
A humildade não é a negação da qualidade individual
de um povo, mas predispõe a abertura de espírito para a aprendizagem uns com os
outros. Ninguém nasce ensinado e a aprendizagem é um processo contínuo e só
termina com o fim da vida. Na Guiné, os gestores públicos carecem de conhecimentos
necessários para o exercício das suas funções; quando têm oportunidade de
aprender mais, devem aproveitá-la para o bem do país, mas também valorizando-se
profissionalmente.
A falta de preparação adequada para os cargos
políticos na governação tem estado na origem de conflitos de competências entre
as diferentes áreas governativas. Senão vejamos. O Governo de transição,
usurpando a competência exclusiva do futuro Governo a ser eleito, colocou-se em
bicos de pés e, de uma forma atabalhoada, foi assinar “acordos” com os chineses
e os russos para a dilapidação dos recursos naturais com enormes prejuízos para
o país. Não só não foi acautelado o impacto ambiental decorrente da desenfreada
exploração da areia pesada como também o equilíbrio do ecossistema na
devastação da floresta de valor incalculável em termos económicos, medicinais e
ambientais. Como de costume, a Guiné sai sempre prejudicada, mas as empresas
contratadas e os representantes do Governo é que ficam a ganhar neste tipo de
negociatas.
Portanto, convenhamos que a melhor ajuda da
comunidade internacional, pela qual anseia o povo da Guiné, é a paz e a
estabilidade duradoira, permitindo a entrada de investidores estrangeiros e,
por consequência, também a criação de empregos.
Fernando Ka
Dirigente da Associação Guineense de Solidariedade
Social
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Gostaria de agradecer o Sr. F. Ca pelo seu artigo que julgo ser bastante importante, no ponto de vista de reflexao, sobre os problemas do nosso querido pais, Guine Bissau.
ResponderEliminarConcordei com alguns pontos, mas com outros, nao.
Eu concordo com o Sr. quando disse:
"A justica guineense esta completamente submersa na corrupcao, deixando de exercer o seu papel de equilibrio na sociedade."
Na minha modesta opiniao, "esta e a raiz de todos os problemas do nosso pais e principal causa de todos os conflitos, assim como do atraso no desenvolvimento.
"A CONSCIENCIA E HONESTIDADE DO HOMEM SAO ORIENTADAS PELA LEI! "
Em todo mundo e assim.
Nao importa ser negro, branco ou mistico. Porque somos humanos imperfeitos.
Por esta razao, discordo com a ideia de que "os nossos quadros, os gestores publicos carecem de conhecimentos necessarios para o exercicio das suas funcoes."
Nos temos quadros competentes e capazes.
Eles estao trabalhando num SISTEMA CORRUPTO, criado longo dos anos desde a Independencia Nacional, como disse e bem o Sr Fernando Ca.
E este sistema corrupto deve ser desmantelado para que os nossos quadros possam desenvolver o nosso pais.
Tambem discordo com a ideia de que, "a actual composicao das forcas armadas predominantemente TRIBAL, cria instabilidade nos quarteis como tambem no pais."
O Sr Fernando Ca, julga que e possivel ter em conta o MOSAICO etnico, na composicao das F. Armadas, como forma de evitar apenas os problemas!?
Iqual numero de efectivos de soldados, por cada grupo etnico, evitara problemas? Como?
Nao ha nada que prove essa ideia, que eu considero tribalista. Porque todos sao guineenses.
Por exemplo :
Se os jovens de uma etnia comparecerem em massa, voluntariamente para cumprir o servico militar.
Terao que mandar outros para casa, como forma de respeitar MOSAICO etnico nas forcas armadas!?!?!?!?
Guineenses, pensem!!! Sera assim???
Foi isso que AMILCAR CABRAL fez durante a luta de Libertacao Nacional?
Nao.
Houve problemas entre guerrilhas nas matas???
Nao.
Em que pais no mundo, a composicao das Forcas Armadas se deve ou se baseia no mosaico etnico ou grupos sociais???
Por ex :
Nos EUA existem mais brancos nas Forcas Armadas do que qualquer outro grupo social, como negros, latinos e asiaticos.
Nao ha problemas.
No Senegal tem etnia maioritaria nas Forcas Armadas.
Nao ha problemas.
Por que razao se fala de mosaico etnico nas Forcas Armadas, como forma de evitar problemas, na Guine Bissau???
Todos os problemas da Guine Bissau, serao combatidos primeiro com aplicacao da lei.
Irmaos, nao vamos fugir a regra!!!
Nha mantenha!
Francisco Sanha