Damos
hoje início a uma série de artigos apresentando os slogans do PUSD, palavras de
ordem, que serão recorrentemente utilizados durante esta campanha.
Ordem
é o contrário de desordem. Organização é o contrário de desorganização. A
sociedade guineense tem sido corroída por poderosas forças dissolventes,
encontrando-se hoje a um passo do abismo: estamos numa encruzilhada decisiva
para a nossa existência coletiva. Pelo que já pude constatar, pelos dias de
campanha já cumpridos, sente-se um imenso desejo de coisas tão simples como o
senso comum, que nos leva a preferir a preferir o bom ao mau, o belo ao feio, o
digno ao indigno.
Este
país bateu no chão. E não digo isto com um espírito derrotista. Pelo contrário,
cresce em mim a esperança. Embora possa parecer paradoxal, atrevo-me a dizer:
«_Ainda bem!». Estamos finalmente entregues a nós próprios, rotos e nus, com
toda a dor de alma que isso comporta, como matriotas que somos (perdoem o
neologismo, o corretor ortográfico está-me a assinalar erro, mas foi isso mesmo
que quis dizer). Não o digo pela negativa; digo-o pela positiva, com a
esperança de que esta catarse nos sirva pa lantanda nô terra. Digo-o com fé num
novo devir, como um(a) escritor(a) frente à página em branco da qual surgirá a
sua obra-prima.
Quando
seremos capazes de parar de nos desculpar? De encolher os ombros, com vergonha,
acompanhando o gesto com um eterno «coisas nossas» por entre os dentes? Quando
poderemos dizer a mesma coisa, esse «coisas nossas», com uma ponta de orgulho?
Será preciso acabar com a hipocrisia, a todos os níveis, de um Estado que se
encontra claramente descredibilizado. A ausência funcional desse Estado poderá
até ser uma vantagem, se assumirmos essa viragem brusca; trata-se de recomeçar
do nada (ou quase), mas em bases sólidas de ordem e organização, pois esses são
os alicerces da estabilidade.
O
reordenamento e reorganização do Estado deve assentar na Lei, por isso
defendemos uma nova Assembleia Constituinte, para elaborar uma nova
constituição. Como sabem, defendo o presidencialismo, para evitar voltar a cair
nos mesmos erros do passado. Mas defendo-o no âmbito dessa nova Constituição,
graças ao primado da Lei; poderão alguns objetar que dar mais poderes ao
Presidente pode favorecer os abusos de poder pela parte deste e arriscarmos a
ter um ditador em vez de um Presidente. Pois defendo que essas preocupações
fiquem acauteladas na mesma forma de Lei constitucional: definam-se bem as
condições para o impeachment, que permitirá destituir o Presidente em caso de
flagrante quebra de legitimidade ou de confiança política por parte da Nação.
Mas tudo sempre no respeito pela ordem e legalidade. O Estado tem de dar o
exemplo e tornar-se uma «pessoa de bem».
Defendemos
um Estado confiável, cumpridor das obrigações e compromissos, tanto internos
como externos. Vamos mostrar aqueles que nos apontam como «Estado Falhado» ou
como «Narco-Estado» o quão profundamente se enganaram. Esta é também uma
questão geracional: aqueles que beneficiaram de um momento particular e
generoso da nossa História, que nos abriu o caminho enquanto Nação e foram
educados nos primeiros anos da independência têm uma enorme dívida e
responsabilidade perante o país. Aqueles a quem Amílcar Cabral chamava as
«flores da nossa luta» sabem o que isso quer dizer: encabeçados por Paulo
Gomes, «presentes» neste momento crítico, dispostos a saldar essa dívida, e a
inspirar, pelo seu exemplo e abnegação muitas(os) mais matriotas e patriotas na
Diáspora.
Defendemos
um pacto de regime, a assinar num novo contexto de legitimidade, estabelecendo,
num vasto consenso, regras mínimas de boa governança. Será o PUSD a dar o
exemplo, caso vença as eleições: mesmo nos pequenos partidos, há gente
competente, bem intencionada e tão inconformada quanto nós. O nosso governo vai
ser uma surpresa, com gente de vários quadrantes políticos e geográficos.
Responsabilidade
& Rigor
Responsabilidade
vem do latim respondere. Responsabilidade implica que o sujeito responde por
aquilo por que é responsável. Merece um elogio, se tudo correr bem; merece uma
chamada de atenção, se nem tudo correr bem, para que para a próxima possa fazer
melhor; merece reflexão, se tudo correr de forma desastrosa. A falta de uma
cultura de rigor, a condescendência para com a irresponsabilidade, em nada
ajudam ao desenvolvimento da sociedade, ao corromper a confiança depositada nos
seus atores.
É
uma questão de mentalidade, com a qual é preciso lidar. Em primeiro lugar, o
Estado tem de dar o exemplo. É necessária uma cultura de responsabilidade e
rigor a todos os níveis, em termos de governação, para evitar desperdícios e
aproveitar ao máximo os parcos recursos de que podemos, para já, dispor. E essa
prova de responsabilidade deveria começar pelo discurso eleitoral. Tal como
afirmei ontem no CCF, custa-me estar a debater panfletos propondo tudo para
todos, Educação, Saúde, Justiça, etc...
Tudo
isso é muito bonito, são coisas com que todos vamos concordar, mas estamos a
desvirtuar o debate. Para isso, mais vale juntarmos todos à mesma mesa e, com
ordem, tratarmos da organização necessária para que isso seja uma realidade.
Com responsabilidade e rigor. Sem fingimentos. Frontalmente. Olhando com olhos
de ver, colocando o dedo na ferida, insistindo, teimando, nunca desistindo,
enquanto não atingirmos os objectivos que previamente traçarmos, com base num
comum acordo.
Temos
de evoluir. Abandonar os maus princípios. E teremos de encontrar em nós
próprios, na diversidade da nossa identidade coletiva, a força anímica
necessária para essa revolução mental pa lantanda nô terra. Devemos ponderar e
ajuizar dos imensos ganhos sociais, que uma iniciativa dessas acarretaria, por
pequenos que fossem os ganhos que fossemos conquistando e consolidando: seriam
nossos. E viriam aumentar a auto-estima do guineense, a nossa auto-confiança
enquanto nação.
Um
bom exemplo de responsabilização, é o caso do Governo de Timor-Leste. O Governo
definiu muito bem as competências e responsabilidade de cada membro do Governo,
publicando-as na internet, com os respetivos contatos. Propomo-nos ir mais
longe. Reorganizar o Estado desde a raiz, numa filosofia on-line, de
transparência total de todos os seus actos. Em vez do primeiro narco-estado,
passaríamos a ser o primeiro ciber-estado. Talvez o nosso atraso possa mesmo
tornar-se uma vantagem!
Efetivamente,
a tecnologia hoje é relativamente barata. Enquanto os países mais avançados têm
de arrastar com o peso histórico e burocrático da administração, nós podemos
começar do zero, sem vícios, pensar e fazer as coisas bem feitas. E temos
vários recursos reflexivos sobre o país que podem ajudar nesse projeto, desde
sites a blogs. Investidos no papel de «watch dogs», vamos pedir-lhes que
continuem a interessar-se pela Guiné-Bissau, que denunciem todas as situações
menos claras ou suspeitas.
O
que propomos, para além de uma campanha de moralização do Estado, baseada na
exigência de responsabilidade e rigor, é um estado de auditoria permanente, no
qual a informação, o feed-back das nossas políticas esteja disponível o mais
rapidamente possível, de preferência imediatamente, para facilitar a tomada de
decisão quanto a medidas corretivas. Não bastam boas intenções, é necessário um
rigoroso acompanhamento de consistência e não fechar os olhos aos erros.
Neste
âmbito, promoveremos a criação de um Gabinete, na dependência direta da
Primeira-Ministra, encarregue de verificar que todas as responsabilidades estão
bem definidas quanto aos cargos do Estado, que não há sobreposições ou
conflitos, bem como apurar com rigor responsabilidades no seu exercício,
nomeadamente combatendo a corrupção, propondo medidas paliativas à
Primeira-Ministra, incluindo a destituição, nos casos em que se justifique, ou
a promoção.
Quem
não tem nada a esconder, não teme. Esse é o princípio da boa-fé. Por isso
defendemos um estado que se possa ver à transparência. Essa é uma
responsabilidade que assumimos. Ser rigorosos(as), recusar chamar vaca a um
boi, apenas por conveniência momentânea... Temos todos de aprender a ser
inconvenientes, quanto temos a razão e a verdade do nosso lado. Não condescender,
não aceitar, fincar o pé. Vamos acabar com a corrupção, com a falta de
responsabilidade e de rigor.
Muitos,
quando se fala em responsabilidade, só vêm o lado que lhes convém: o estatuto
que dá o cargo de Deputado ou de Ministro, por exemplo (para além do dinheiro).
Não queremos Deputados ou Governantes desses. Queremos pessoas responsáveis,
dispostas a colocar a mão na massa, prontas a aceitar trabalhar em péssimas
condições, imbuídas de espírito de sacrifício em prol do bem comum e não
motivadas apenas pela sua ganância individual. Precisamos de uma chicotada
psicológica!
Competência
& Consistência
Apresentamos
hoje o último par de palavras de ordem, slogans que escolhemos para esta
campanha eleitoral, traduzindo as grandes linhas de força desta nossa / vossa
candidatura à liderança do governo.
Capacidade:
qualidade de quem está apto a fazer determinada coisa, a compreendê-la.
Defendemos que quem é chamado(a) a servir o Estado, em qualquer área, tem de
ter capacidade para desempenhar a sua função. Porque sem capacidade, não pode
haver competência. Capacidade é a competência em potência. Portanto, defendemos
uma avaliação criteriosa de todos os funcionários públicos. A primeira coisa
que vou fazer, como Primeira-Ministra, será um diagnóstico global do papel do
Estado.
Vou
pedir a cada funcionário para se sentar, com um pedaço de papel, e escrever
qual é, na sua opinião, a sua função. Seguidamente, que descreva a sua rotina
semanal, com ênfase na semana corrente. Compilaremos toda essa informação e
iremos confrontar essa perspetiva, esse olhar de dentro, com uma avaliação
externa, ou seja, as mesmas funções, mas vistas de fora, por um Gabinete
estatal na minha dependência direta, como já avancei noutro artigo deste blog
da campanha.
Agradeço
ao Filomeno Pina o seu valioso contributo, em artigo recente, para essa
reflexão, que me permitirá melhorar a ideia. Posso mesmo avançar que já tenho a
pessoa certa para essa função, que será anunciada em tempo oportuno.
Defendo
pois que as pessoas que trabalham no Estado, que pretendemos levar por diante,
têm de ser capazes. O Governo, cuja proposta de constituição acabo de
apresentar, é um Governo de pessoas capacitadas por uma boa formação e longa
experiência. O que não quer forçosamente dizer que sejam competentes para o
cargo para o qual os(as) escolhi. Porque não basta o ser capaz, é preciso esforço,
dedicação, abnegação e até, por vezes sacrifício.
Evitei,
ao longo desta campanha eleitoral, fazer promessas populistas, como ouvi alguns
colegas a fazer. Eu não prometo um mar de rosas para amanhã, quero deixar isso
bem claro. Partindo quase do zero, não podemos esperar acordar no Paraíso no
dia seguinte às eleições. Ocorrem-me as palavras de Winston Churchill, no seu
famoso discurso na rádio na tomada de posse como Primeiro-Ministro de um
Gabinete de Guerra: «Nada mais tenho para vos propor senão sangue, suor e
lágrimas».
Por
isso, não exijo apenas capacidade, mas também competência, na prática do dia a
dia, na lide com as dificuldades. Mas, mesmo isso, não me bastará. Vou exigir
consistência, ou seja ver traduzida em eficácia essa competência. Não temos
mais tempo a perder na rampança que se segue, depois destas eleições, que é a
do desenvolvimento, da sustentabilidade, mas também um desafio cultural e
identitário, de conservarmos a maravilhosa diversidade do nosso povo e do nosso
território.
Peço-vos
que parem um pouco para pensar nas várias propostas que ouviram ao longo desta
campanha eleitoral e não se deixem embalar com músicas e discursos pouco
consistentes.
Apelo
a todos e a todas, eleitores e eleitoras, mon ku mon, para irmos votar na maior
das calmas, depois de um dia de reflexão.
Carmelita
Pires
Pa
lantanda nô terra!
Nota: Os artigos assinados por amigos,
colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles
expressas.
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