Ricardino
Jacinto Dumas Teixeira
No domingo, 13 de Abril de
20014, os guineenses vão às urnas para escolher o Chefe do Governo e o novo
Presidente da República da Guiné-Bissau. O processo político está sendo
acompanhado com muito cuidado, interna e externamente, até o momento sem
grandes incidentes que pudessem comprometer sua sustentabilidade, apontando,
desde já, para uma nova forma de fazer e conceber a política democrática no país.
Os candidatos, majoritariamente jovens, empenharam-se na busca do diálogo e consensos
participativos, tentando convencer a maioria do eleitorado para votar em
seus projetos. As pessoas querem ouvir coisas relacionadas às suas vidas
concretas, discutir questões substantivas da vida nacional, ao mesmo tempo, confrontar
o pessimismo. Nesse sentido, há uma novidade: os jovens, as
mulheres e os homens estão contribuindo para uma nova cultura politica, contra
o oportunismo e o divisionismo que se fizeram sentir, com maior proeminência,
nas eleições passadas, colocando em risco a coesão social. O discurso da
competência, da insatisfação e críticas das organizações da sociedade civil, em
relação a golpes de Estado e assassinatos, reforça, pouco a pouco, o sentimento
comum de esperança, de insatisfação e repudio com a política de golpe de
Estado.
A elite castrense, detentora
do poder real na Guiné-Bissau, parece reconhecer a importância da reforma das
“Forças Armadas e Forças de Segurança”,na perspectiva de garantir para a
sociedade guineense que as Forças Armadas são instituições a serviço do Estado,
dirigido pelo Estado. A Guiné-Bissau precisa de suas Forças Armadas, pautadas
numa nova postura, capaz de proporcionar condições necessárias para a mudança,
ajudando a limpar o nome da Guiné-Bissau, criando condições de segurança
para todos os guineenses. Esse é o grande desejo manifestado por todos os
candidatos, inclusive pelo Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, General
António Injai.
A comunidade internacional,
por sua vez, avalia positivamente a sustentabilidade do processo eleitoral que
se avizinha. O Representante Especial das Nações Unidas - José Ramos Horta -
está contribuindo com a participação das Organizações da Sociedade Civil para
concretização desse projeto democrático. Os quadros guineenses, dentro e fora
do país, sonham com esse projeto estratégico, um projeto que possa ser
concretizado com quem quer que seja o partido ou candidato que venha ganhar as
eleições no domingo. A Guiné-Bissau possui quadros altamente competentes para
assumir os aparelhos do Estado, de usar suas sabedorias e experiências
nacionais e internacionais frente aos desafios do desenvolvimento, ao mesmo
tempo, criar as condições para a credibilidade do país no exterior. O país precisa,
também, do “apoio” de “peritos internacionais”para ajudar a organizar a
administração pública e melhorar a vida do povo, em defesa da democracia e dos
direitos humanos. No entanto, a complexidade de problemas da saúde, de
segurança, da educação, da infraestrutura etc. não se resolve apenas com
“gestores internacionais”. O desenvolvimento se faz com trabalho, com a união
das pessoas em torno de boas práticas e ideias de gestão pública.
No contexto atual é preciso
reforçar a integração das Forças Armadas como parte integrante do Estado, não
fragilizar o Estado com a ideia de que os “peritos” vão resolver os problemas
do país. Outro aspecto é que esse discurso poderá legitimar a intervenção sob a
retórica de “novos modelos de gestão de competências e habilidades”, propagado
pelas agências internacionais, mediado pelos setores do próprio Estado.
A grande questão é encarar os
novos desafios, com optimismo, honestidade e trabalho duro, preservar as
conquistas políticas e sociais, já alcançadas, em estreita colaboração com as
organizações das Nações Unidas e parceiros estratégicos da Guiné-Bissau.
Uma nova oportunidade
históricareside na capacidade da
juventude, novos quadros, que vive uma nova trajetória, seja no quadro de
sensibilização e participação política, seja na definição das diretrizes e
estratégias sociais e econômicas, conforme ficou evidenciado nas ações de
participação e credibilização política atualmente em curso na Guiné-Bissau,
idealizado e executado pelos jovens, desprovidas de qualquer tipo de apoio do
Governo. Esse engajamento político, que vinha sendo negado aos jovens acentuado
sua marginalização social e participação nos assuntos de interesse nacional,
mostrou-se ineficiente frente à proliferação de demandas e articulações das
organizações juvenis, a exemplo do Movimento Ação Cidadã, no âmbito da
intermediação político-eleitoral, dando origem a um conjunto de articulações
que potencializam dinâmicas sociopolíticas de democratização. Nessa
perspectiva, não se pode falar de uma relação passiva dos movimentos juvenis,
ou falta de gente capaz para assumir os aparelhos do Estado e da administração
pública. A forte ênfase no debate e sugestões no âmbito das organizações da
sociedade civil revela que a Guiné-Bissau vive um novo momento político e
colaboração efetiva dos jovens na busca de soluções concretas. O que nós
precisamos é de gente íntegra no lugar certo, pessoas e coletividades capazes
de gerar emprego e garantir equilíbrio social, econômico e cultural em vista a um
projeto de sociedade politicamente viável no sentido de possibilitar, através
de mudança, uma avaliação positiva do Estado pela sociedade civil.
A oportunidade de uma nova
liderança chegar à Presidência da
República, de receber apoio incondicional do Chefe do Governo, sem complacência
com a corrupção, nepotismo e ineficiência administrativa, que faz o que
prometeu e comprometeu fazer durante a campanha eleitoral, encarando os novos
desafios sociopolíticos e econômicos, com apoio da diáspora, na resolução
de problemas administrativos, sonhando o sonho de Amílcar Cabral, são elementos
fundamentais para o desenvolvimento sustentável, contra a pobreza e
desigualdade na Guiné-Bissau. Isto porque, apesar dos esforços internacionais e
regionais na consolidação das instituições governamentais, via eleições, cabe a
nova liderança e as organizações da sociedade civil guineense as escolhas e
decisões políticas para a reconstrução do Estado e consolidação da democracia
no país.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a
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