Por: Nuno Sousa
no publico hoje
Pelo segundo ano consecutivo, o
Benfica deixou fugir por entre os dedos a conquista da Liga Europa. Deixou
correr o jogo e permitiu que fosse Beto a ditar a lei.
Déjà vu. O Benfica volta a ser o mais privilegiado dos espectadores para a
festa alheia, pela oitava vez consecutiva numa final europeia. Em Turim, não
conseguiu superar o Sevilha nos 90 minutos, depois arrastou-se pelo
prolongamento e caiu de vez nas grandes penalidades (2-4), falhando novamente
na recta da meta a corrida pela Liga Europa. O jejum está para durar.
SevilhaBeto, Federico Fazio, Nicolás Pareja, Alberto Moreno, Coke, Vitolo (Diogo Figueiras, 110), Daniel Carriço, Stéphane Mbia, Reyes (Marko Marin, 78), Ivan Rakitic, Carlos BaccaBenficaJan Oblak, Maxi Pereira, Guillherme Siqueira (Cardozo, 99), Ezequiel Garay, Luisão, André Gomes, Miralem Sulejmani (André Almeida, 25), Nicolas Gaitán (Ivan Cavaleiro, 119), Rubén Amorim, Lima, RodrigoÁrbitroDr. Felix Brych
Antes do apito inicial, as câmaras estavam apontadas às bancadas, com os
adeptos a puxarem dos galões: os do Benfica exibindo uma faixa com o troféu da
Liga Europa, o Sevilha um motociclista com a mensagem: “Voltámos”. Mas nem os
andaluzes entraram de mota, nem os “encarnados” evidenciaram a dimensão
europeia de outras noites. Calculistas, as duas equipas provaram, durante quase
toda a primeira parte, que tinham feito o trabalho de casa. Anular os pontos
fortes do adversário. 20 valores para cada.
O Sevilha, de resto, deu a provar ao Benfica um pouco do seu veneno. Com
uma defesa muito subida, devidamente auxiliada por Daniel Carriço e Mbia sempre
que Coke se aventurava no corredor direito, tirou espaço de manobra ao
meio-campo contrário. A desinspiração de Ruben Amorim e a discrição de André
Gomes também não ajudavam e a equipa ficava dependente de um rasgo individual.
Gaitán ia tentando na esquerda, Sulejmani na direita.
E até foi o sérvio a dar nas vistas. Ele, que saiu da “toca” graças aos
castigos de Salvio e Markovic, foi dos poucos sem receio de assumir o jogo. E
pagou um preço alto por isso. Aos 11’ foi rasteirado por Fazio, num lance que
resultou no primeiro amarelo do jogo, um minuto depois sofreu uma entrada dura
de Moreno, que não ficou atrás do companheiro de equipa no capítulo
disciplinar. Sulejmani já tinha a noite estragada. Lesão no ombro, ainda alguns
minutos em campo e a inevitável substituição aos 24’.
A sorte não estava do lado do Benfica. Caía por terra a terceira opção para
a ala direita e Jorge Jesus não quis arriscar demasiado. Em vez de Ivan
Cavaleiro, lançou André Almeida para o lado direito da defesa e colocou Maxi na
posição na qual começou a carreira. Sem que tenha produzido nada de
significativo até então, acabou mesmo por ser o uruguaio a dispor da melhor
ocasião do primeiro tempo, já em cima dos 45’. Vólei de Ruben Amorim para a
área, diagonal de Maxi e um frente-a-frente relâmpago com Beto: desvio subtil,
defesa aparatosa.
Esses últimos cinco minutos, de resto, foram os melhores do Benfica no
jogo. Rodrigo testou novamente os reflexos do guarda-redes português pouco
depois e antes tinha sido uma boa triangulação Gaitán-Rodrigo-Maxi a colocar a
defesa do Sevilha em sentido. Algo que os andaluzes só por uma vez conseguiram
fazer do lado contrário do relvado e logo aos 6’, com um cruzamento da esquerda
que só não encontrou os pés de Carlos Bacca porque a classe de Garay falou mais
alto.
A segunda grande ocasião do Sevilha chegou com o início do segundo tempo,
quando Rakitic, com o seu futebol cirúrgico, tirou partido da defesa em linha
do Benfica com um passe no limite, deixando Reyes quase num mano a mano com
Oblak. Valeu o carrinho de Luisão a perturbar o remate, que saiu ao lado.
O Benfica, porém, também já tinha feito das suas, num arranque que foi
quase tão produtivo a nível ofensivo como todo o primeiro tempo. Maxi ganhou um
lance na direita, levantou a cabeça, viu Lima desmarcar-se no flanco contrário,
ofereceu-lhe o golo de bandeja, mas o brasileiro dominou mal e rematou já em
esforço.
Lembram-se do registo pausado e monótono dos primeiros 45’? Da exclusiva
preocupação de nenhuma das muralhas se desorganizar? Parecia já uma memória
distante. Duas equipas exímias no contra-ataque passavam a ter o palco de que
precisavam para fazer a festa. Aos 59’, uma perda de bola infantil de Ruben
Amorim deixou o Sevilha num dois-para-um com meio campo para galgar. Maxi
estorvou e Amorim, que foi lá atrás emendar a mão, impediu um passe de morte
para Bacca.
O Sevilha percebia que também conseguia fazer estragos numa defesa que
costuma ser de betão e pôs Oblak à prova em duas ocasiões, obrigando os
“encarnados” a refrearem os ânimos e a pensarem duas vezes antes de quererem
sair precipitadamente em ataque organizado. O Benfica, já o tinha provado uma
vez, precisava de variar com precisão o flanco de jogo para apanhar o
adversário em contrapé e foi assim que, aos 71’, Maxi ofereceu novamente o golo
a Lima. Na finalização, mais do mesmo. Com a diferença de desta vez nem ter
acertado na bola.
Tudo na mesma no marcador, tudo diferente na
intensidade colocada em campo. Unai Emery decide então mexer nas alas, ao
trocar Reyes por Marin (que ainda seria substituído por Kevin Gameiro). O
alemão viu então Lima voltar a estar perto do golo, com uma bomba de fora da
área que Beto anulou com uma defesa tão vistosa quanto eficaz. Depois foi a vez
de Garay, de cabeça, atirar por cima da trave quando o guarda-redes já estava
fora da jogada. Faltavam cinco minutos para os 90'. Garay rematou por cima aos
91’. Prolongamento, que uma final sem contornos dramáticos não é final que se
preze.
Reinício morno, com as pernas já a pesarem. Sai
Siqueira aos 9’ do tempo suplementar, entra Cardozo. André Almeida passa para o
lado esquerdo da defesa, Maxi regressa à base. Tudo recomposto e ocasião de
golo para o Sevilha, justamente nas costas de Almeida: Bacca corre, corre como
Forrest Gump e remata ao lado. Até ao apito final, nem um lance parecido. Os
motores tinham parado.
Grandes penalidades, o habitat de Beto. Envergonhou
Cardozo, travou Rodrigo. O resto é história, especialmente para o Sevilha que
mantém um registo 100% vitorioso em finais europeias e se transforma na quarta
equipa a conquistar a competição por três vezes. O Benfica, como tem sido
tradição há 52 anos, vai ter de voltar a tentar.
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