O representante especial das Nações Unidas para a
Guiné-Bissau defende uma "reforma, com honra, dignidade e em condições de
segurança" para os militares envolvidos no golpe de Estado de há dois
anos.
José Ramos-Horta, dirigente histórico de Timor-Leste
e prémio Nobel da Paz, está convencido a Guiné-Bissau só vai conseguir
estabilidade "se o coração conseguir perdoar".
Questionado sobre qual pensava que seria o destino
que devia ter os militares envolvidos no golpe de Estado de abril de 2012,
entre os quais o atual Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, António
Indjai, o atual enviado especial da ONU naquele país foi perentório:
"Sejamos realistas. Uma amnistia é incontornável. Quem quer a paz tem de
saber ter coração para perdoar e entender os medos das pessoas",
sublinhou.
Falando pouco depois da cerimónia da tomada de posse
dos deputados do novo parlamento eleito, Ramos-Horta destacou que este dia
representava "o retorno à ordem constitucional, depois de um complexo
processo de diálogo interno. Os guineenses estão de parabéns." Mas para o
ex-presidente timorense é "muito importante que nenhuma das novas
instituições, Parlamento, Presidente da República e Governo seja bloqueio da
outra. É preciso que o Presidente da República seja sensível ao seu papel dele
e crie condições para encorajar o diálogo".
Os militares são, assinala, "parte do país e
têm que sentir isso. É preciso que sejam tratados como irmãos". Sobre o
'senhor da guerra' António Indjai, recordou que "ele próprio já manifestou
a sua vontade de passar à reforma e ele, tal como outros militares devem ir
para a reforma, por via do diálogo, com honra, dignidade e segurança".
Ramos-Horta apela à comunidade internacional que
ajude a Guiné-Bissau a mobilizar recursos financeiros para a reorganização do
país. "É uma questão política, mas é sobretudo uma questão humana. Numa
altura em que há tantos países do mundo em conflito onde não se vê uma luz ao
fundo do túnel, a Guiné-Bissau é um oásis que é preciso incentivar".
//DN Globo
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