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Cinco meses antes de pagar comissões, juros ou o
capital, o Governo terá de dizer de onde virá o dinheiro. Isto nas próximas
três décadas.
Apesar do final do programa de resgate, Portugal não
se livrará tão cedo da vigilância apertada dos credores internacionais.
Dos três organismos oficiais que emprestaram
dinheiro ao país, já se sabia que a vigilância do Fundo Monetário Internacional
(FMI) iria durar até 2021 (ano em que a dívida por pagar deverá ser inferior a
200% da nossa quota no Fundo) e que o acompanhamento por parte da Comissão
Europeia iria continuar até que o país conseguisse reembolsar 75% do empréstimo
contraído, ou seja, algures em 2037. Mas os regulamentos do Fundo Europeu de
Estabilização Financeira (EFSF, na sigla inglesa), o terceiro organismo que
emprestou dinheiro a Portugal, mostram que neste caso a vigilância só terminará
quando Portugal reembolsar a totalidade do dinheiro, o que só está previsto
acontecer em 2045.
O programa de ajuda da troika a Portugal previa um
cheque de 78 mil milhões de euros, sendo que o FMI, a Comissão Europeia e o
EFSF garantiram, cada um deles, 26 mil milhões de euros. O empréstimo do FMI e
da Comissão Europeia acabou por ser ligeiramente inferior já que, na sequência
dos chumbos recentes do Tribunal Constitucional, o Governo optou por prescindir
de receber a última tranche de 2,6 mil milhões de euros. Mas, no caso do EFSF,
Portugal recebeu a totalidade dos 26 mil milhões de euros previstos e, segundo
os regulamentos do fundo, o país ficará agora sujeito a um Early Warning
System, ou seja, a um sistema de vigilância que visa garantir que o Governo
está a executar as políticas orçamentais e de tesouraria compatíveis com a
necessidade de ter de devolver o dinheiro que pediu emprestado.
Este sistema implica, segundo apurou o PÚBLICO, que
todos os cinco meses anteriores ao pagamento de juros, comissões ou do
reembolso do capital, o EFSF contactará as autoridades nacionais para saber em
que rubrica orçamental estará previsto o dinheiro para pagar ao fundo de
resgate da zona euro. Com o final do programa da troika, Portugal irá começar
agora a pagar as comissões e os juros a esse fundo, mas o reembolso do capital
só está previsto começar em 2023, tendo o empréstimo uma maturidade média de 22
anos.
Isto significa que a vigilância do EFSF se
prolongará por mais tempo do que aquela que será feita pelo FMI e pela Comissão
Europeia, ou seja, durará até 2045. Isto no caso de Portugal não antecipar o
reembolso do empréstimo. De acordo com o regulamento do fundo, este Early
Warning System implica “detectar, de forma precoce, os riscos de não pagamento”
e garantir, em caso de desvios, que o Governo adopta “acções correctivas”. No
entanto, o regulamento é omisso em relação às consequências se o país recusar
seguir essas “acções correctivas”. Este mecanismo de vigilância é aplicado a
Portugal e a todos os outros países que receberam dinheiro do EFSF e do ESM, ou
seja, Espanha, Chipre Grécia e Irlanda.
O EFSF é o organismo que cobra menos a Portugal pelo
empréstimo da troika. Pelos 26 mil milhões de euros que emprestou cobra
actualmente juros anuais médios de 1,6%, o que comparando com os valores de
mercado permite ao país uma poupança anual a rondar os 1,3 mil milhões de
euros. No entanto, o valor dos juros cobrados a Portugal pelo EFSF não é
estático, já que depende do juro a que se financia o próprio fundo nos
mercados, que actualmente tem dívida contraída com uma maturidade média de seis
anos.
Dinheiro da banca livre
O dinheiro do EFSF, tal como o do FMI e da Comissão
Europeia, serviu para o país cumprir as suas obrigações durante o período em
que esteve arredado dos mercados, sendo que uma parte desse dinheiro (12 mil
milhões de euros) foi destinado para recapitalizar a banca. Desse montante para
o sector financeiro sobram ainda 6,4 mil milhões e o PÚBLICO sabe que é
intenção dos credores oficiais desbloquearem essa verba caso a banca portuguesa
consiga superar com sucesso os testes de stress previstos para o final desde
ano.
A Autoridade Bancária Europeia (EBA) vai realizar
testes de stress a mais de 120 bancos europeus, entre os quais o BPI, BCP, CGD
e ESFG (BES). As conclusões destes testes serão conhecidas em Outubro e a sua
publicação será feita em simultâneo com um exame aos balanços que o Banco
Central Europeu (BCE) também está a fazer ao sector financeiro. Este será um
passo determinante antes de o BCE assumir a supervisão bancária única na
Europa, um dos pilares da futura união bancária.
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