Não sou eu que estou a pôr mais acha para a
fogueira. As nossas forças armadas, com o advento da democracia multipartidária
- nos princípios dos anos noventa - é uma instituição que perdeu a
característica de “braço armado” do partido, o PAIGC, passando a ser guardião
da constituição e da soberania do Estado (da República). Mas, mesmo assim,
alguns setores ocultos do partido libertador arriscam ainda no seu controlo e
manipulação. A história política recente do nosso país evidencia essa
realidade. Por exemplo, a liderança de Zamora Induta era do tipo ideal para as
forças ocultas.
A nossa Lei,
no n.º 1 do Artigo 20.º, reza que “As
Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), instrumento de libertação
nacional ao serviço do Povo, são a instituição primordial de defesa da nação.
Incumbe-lhes defender a independência, a soberania e a integridade territorial,
e a colaborar estreitamente com os serviços nacionais específicos na garantia e
manutenção da segurança interna e da ordem pública. E enfatiza ainda no
seu n.º 4 que “As FARP são
apartidárias e os seus elementos, no activo, não podem exercer qualquer
actividade política.”
O senhor José Mário Vaz, que jurou cumprir e fazer
cumprir a Constituição, na tomada de posse do novo CEMGFA, Biagué Na Ntan
confessou, dizendo: "Queremos uma força armada republicana em obediência
ao poder político democraticamente eleito".
Pergunto, onde está a diferença? Para os que olham
para os efeitos dirão que a diferença está nos sucessivos golpes de Estado.
Mas, para nós que buscamos as causas das instabilidades em África, diríamos que
a divergência está na “má governação” e no despotismo da classe dirigente do
nosso país.
Nós sabemos que a Guiné-Bissau faz parte dos países
onde ainda se luta pela consolidação de uma governação democrática. É um país
onde, também, as eleições são mero “cumprimento de calendário”, sem serem
conduzidas com integridade. Sabemos que as eleições, desde que começaram com o
multipartidarismo, nos anos noventa, não conseguiram dar vida aos direitos
consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, não ajudaram a
aprofundar a democracia, a garantir uma boa governação, impor alguns limites
sobre o abuso de poder, reforçar a confiança pública nas sociedades e aumentar
a segurança, etc.. Pelo contrário, elas têm servido para “legitimar” governos
despóticos, com democracia por cumprir.
O despotismo alardeie em África e a Guiné-Bissau não
é uma exceção.
Desconhece-se a participação do General Biagué Na
Ntan, neste processo de nomeação da liderança nas forças armadas. Mas, é
evidente que o método que o gerou foi deveras anormal, incongruente e
trapalhão. A confusão terá sido propositada, com vista a cimentar uma
governação despótica no nosso país. Paira um desejo enorme de repetir
lideranças manipuláveis e fantoches, do tipo Zamora Induta no setor castrense
guineense.
Muito embora, o Presidente Vaz tentasse justificar
que “a mudança na chefia das Forças Armadas foi decidida de forma normal pelas
autoridades eleitas”, pergunto: porquê que na cerimónia da tomada de posse do
novo CEMGFA estiveram presentes apenas o Presidente da Assembleia Nacional
Popular (ANP), Cipriano Cassamá, o Primeiro-ministro Domingos Simões Pereira,
alguns membros do Governo da Guiné-Bissau e o corpo diplomático acreditado no nosso
país, e não esteve o António Injai?
Está-se a falar da sucessão ou da tentativa de
semear discórdia no seio das FARP? Mesmo tendo sido dado o epíteto de
“golpista” não merecia passar este vexame.
O exonerado CEMGFA, contribui de forma patriótica
para que as eleições tivessem lugar e para que houvesse Presidente da República
e Primeiro-ministro eleitos na Guiné-Bissau.
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